Relembre a carreira do multicampeão Coronel, falecido na última 5ª-feira
Sábado, 07/12/2019 - 02:39
Se há uma patente no Vasco que lembra atleta específico do clube esta não é Soldado, Cabo, Sargento, Tenente, Capitão (aí lembramos de muitos atletas), Major, General, Marechal (neste caso temos até uma pessoa específica, mas fora de campo).

O quatiense Coronel, Antônio Evanil da Silva, nome de batismo, patenteou para si não só o epíteto, como também a simbologia de aguerrimento linkada a ele.

Quem acompanhou o Vasco entre os anos 50 e 60 do século passado viu atuar pela lateral esquerda do time juvenil e profissional – fosse no já ultrapassado WM, ou no 4-2-4, ou ainda no 4-3-3 – um atleta com bom senso de marcação, firme, resoluto, que chegaria, inclusive, à Seleção Brasileira.

Pela seleção nacional disputou um Campeonato Sulamericano, realizado na Argentina, chegando ao vice campeonato, e o Troféu O`Higgins, contra o Chile, conquistado pelo Brasil, em dois jogos. Na ocasião foi ele o substituto de Nilton Santos, entrando no lugar do lateral botafoguense já na primeira partida do certame continental e atuando como titular nos jogos seguintes. Foram oito vezes, ao todo, que vestiu a camisa da Seleção Brasileira.

Pelo Vasco, Coronel foi, inicialmente, Campeão Carioca Juvenil em 1954. Fazia ele parte do time dirigido por Eduardo Pellegrini, na condição de titular, à época já tendo atuado em jogos de equipes mistas pelo clube desde o ano anterior. Marcou três gols na campanha vitoriosa da equipe cruzmaltina naquela competição.

O atleta, descoberto pelo Vasco quando jogava em Barra Mansa, defendeu as cores vascaínas como amador, depois profissional, entre 1952 e 1963, conquistando um Torneio Rio-São Paulo, dois Campeonatos Cariocas, além de competições internacionais em dois países: Chile e México.

Entre 1955, quando começou a brigar por vaga na equipe titular do Vasco, até 1963, foram 318 jogos com a camisa cruzmaltina. Participou ainda de três partidas válidas pelo Torneio Início, disputa que, embora oficial, constava de jogos mais curtos, portanto não computados dentro da lógica estatística convencional.

O atleta estreou, em partidas oficiais, na equipe principal a 07/05/1955, numa derrota frente ao Flamengo por 2 x 1, em jogo válido pelo Torneio Rio-São Paulo. Coronel entrou em campo substituindo a Dario, machucado, quando eram decorridos 21 minutos de jogo e o Vasco já perdia por 2 x 0.

Antes disso ele já havia sido escalado como titular da lateral esquerda num torneio amistoso (General Cordeiro de Farias), realizado em Pernambuco, com as presenças de Vasco, Bahia, Santa Cruz e Sport. Em seu debut Coronel participou da vitória cruzmaltina sobre a equipe tricolor pernambucana por 3 x 1, a 13 de março.

Em seu primeiro ano como titular absoluto da equipe (1956) Coronel foi Campeão Carioca.

Sua primeira assistência a gol ocorreu na derrota vascaína diante do Real Madrid-ESP por 5 x 2, estreia vascaína na Pequena Taça do Mundo da Venezuela, em 1956. Coronel serviu Laerte, que marcou o tento inaugural daquela partida.

No mesmo torneio, diante da Roma-ITA, o lateral serviu Vavá para que o centroavante marcasse o primeiro gol vascaíno na vitória por 3 x 1 sobre os italianos.

Envolvido intimamente com o clube, Coronel era garra em campo e um torcedor vascaíno fora dele. Após a conquista do Super Super Campeonato Carioca de 1958, o lateral cumpriu a promessa feita antes pelo título e raspou sua cabeça.

Ferrenho marcador de Garrincha, Coronel protagonizou lances duros contra o ponteiro, que levaram a confusões em campo nos clássicos entre Vasco e Botafogo.

O lateral perdeu várias disputas, ganhou outras, mas teve seu momento de gáudio em uma partida entre as equipes, válida pelo Torneio Rio-São Paulo de 1959, vencida pelo Vasco por 2 x 0.

Na ocasião, perante os aplausos da torcida cruzmaltina fez de Garrincha seu "João", após driblar por duas vezes consecutivas o ponta, algo raro, mas inesquecível para os vascaínos da época.

A fibra de Coronel por vezes lhe fazia sofrer duras consequências, como quando salvou um gol certo do corintiano Rafael, após este driblar o arqueiro Ita, em partida disputada no Pacaembu, válida pelo quadrangular final do Torneio Rio-São Paulo de 1961. Naquela oportunidade sofreu uma séria distensão muscular, mas ajudou a que o Vasco vencesse pelo placar de 2 x 0.

A última partida oficial disputada por Coronel com a camisa cruzmaltina ocorreu na última rodada do Campeonato Carioca de 1962 diante do Campo Grande, no Maracanã (empate por 3 x 3). O placar se repetiu, também, no último jogo do atleta pelo Vasco, um amistoso contra o Grêmio Estrela, de Juiz de Fora, realizado a 23/07/1963 na cidade mineira.

Era o fim de uma trajetória vitoriosa no clube de São Januário, marcada não pelos grandes lances ofensivos (apenas cinco assistências e nenhum gol marcado) e sim pela fibra defensiva e superação reinante a cada grande embate do Vasco nas mais diversas competições.

Atuaria ainda pelo Tupy, de Paracambi, Ferroviária, de Araraquara, Nacional, da capital paulista, chegando, também, a jogar no futebol colombiano por quatro anos, desde 1967, defendendo o União Magdalena, pelo qual foi campeão nacional em 1968 (único título colombiano do clube na história) e onde encerrou sua carreira de atleta em 1971.

Por anos era visto nas sociais do Vasco ao lado do companheiro de time Orlando Peçanha.

Chegou ele a treinar a equipe cruzmaltina de profissionais em algumas partidas amistosas nos anos 70, mas sua satisfação era mesmo acompanhar o time em campo como mais um dentre os milhares de vascaínos presentes a em inúmeros jogos realizados em São Januário.

Coronel nos deixou ontem, mas fica patente sua identificação com o Vasco. Todos lhe aplaudem de pé pelos serviços prestados ao clube, tal qual fizeram os torcedores cruzmaltinos presentes naquele 30/04/1959, quando o lateral inovou, fazendo Mané Garrincha de "João".



Fonte: Site Casaca