Auxiliar de Luxemburgo, Maurício Copertino ajudou na subida de pratas da casa e indicou Guarín
Quinta-feira, 28/11/2019 - 10:37
A virilidade dos tempos de zagueiro de Santos, Coritiba, entre outros, ficou para trás e deu lugar a um perfil estudioso e dedicado. Formado na primeira turma de técnicos da Licença PRO da CBF, em 2016, Maurício Copertino, de 49 anos, se especializou e ganhou a confiança do renomado técnico Vanderlei Luxemburgo.

No Vasco, embalou seu segundo trabalho como auxiliar do experiente treinador e a dobradinha tem atingido suas metas, que eram primeiramente tirar o time da chamada "zona da confusão" e depois colocá-lo em condições de disputa por objetivos maiores, como uma vaga na Copa Sul-Americana ou quem sabe na Copa Libertadores.

A sintonia de trabalho com Luxa o faz gozar de plena confiança do comandante, algo que vai muito além da indicação para comandar os três treinos que antecederam a partida de hoje (28), às 20h30, contra o São Paulo, no Morumbi (SP), quando o treinador precisou ser submetido a uma cirurgia para a retirada de um tumor no nariz que o fez ter um câncer de pele.

Copertino, por exemplo, foi quem indicou o colombiano Fredy Guarín ao Vasco. Jogador com currículo pesado e que foi acompanhado de perto pelo auxiliar quando ele fez estágio com o técnico Roberto Mancini, então técnico da Inter de Milão, time italiano que na ocasião o volante defendia.

"O Guarín eu já acompanho há muito tempo. Eu fiz um estágio com o Mancini na Inter de Milão e o Guarín era atleta da Inter. Eu vi o Guarín jogando durante dez dias e em alto nível. Eu conheço bem esse atleta. E aí ele foi para a China e coincidiu de eu também estar na China [trabalhou como técnico e auxiliar por lá]. Depois apareceu a oportunidade dele estar livre", disse ao UOL Esporte.

"Eu acompanho o mercado chinês, e aí logo quando saiu a notícia, eu comentei: 'Vanderlei, tem um jogador que está saindo de lá que eu acho que cabe para nós'. E aí ele [Luxemburgo] monitorou, contatou o clube, as pessoas que tinham que contatar e o Guarín veio para cá. É um atleta diferente, está entrando fisicamente em sua melhor condição. Contra o Flamengo já atingiu um nível muito bom que a gente espera", acrescentou.

Outra participação importante de Copertino na temporada com o Vasco foi o seu processo de análise dos jovens da categoria de base, quando ajudou na transição de jogadores como Talles Magno, Bruno Gomes, Gabriel Pec, entre outros.

"Eu tenho uma planilha que mostra que trabalhamos com 14 atletas da base este ano. A gente traz, observa, aí no nosso entendimento, de repente, alguns ainda não estão preparados e retornam para o sub-20 depois. E nesse processo aí surgiram algumas coisas interessantes. O Vanderlei controla muito isso, além do olhar dele. Temos feito essa transição junto com a nossa turma que nos fornece informações [análise de desempenho]. Quando a gente vê que o atleta é muito top, puxa de vez, como foi o caso do Talles Magno, porque não tinha como olhar para aquele cara e não ver que ele era um bom jogador", destacou.

Em sua avaliação, o período em que foi auxiliar técnico na seleção brasileira olímpica e sub-20 - entre 2013 e 2015 - serviu para ele ganhar experiência na avaliação de jogadores de base:

"Acho que essa passagem pela CBF me deu muito essa cancha de bater o olho no cara e falar: ele está pronto. Não tem essa de idade. Basta o grupo recebê-lo e protegê-lo dentro de campo, as pessoas da comissão darem o apoio, orientar para as coisas boas e segurar a onda nos momentos ruins. Aí as coisas acontecem, como aconteceu com o Talles Magno, com o Bruno Gomes, com o Gabriel Pec... Futebol é dessa maneira".

Assim como Vanderlei Luxemburgo e o preparador físico Antônio Mello, Mauricio Copertino terá seu contrato encerrado com o Vasco neste fim de ano. Embora não esconda o desejo de seguir carreira como treinador em algum momento, o auxiliar ainda não sabe como será seu 2020 e o deixa em aberto.

"Eu tenho um respeito muito grande pelo Vanderlei. Temos contrato com o clube até o dia 8 de dezembro. Então, primeiro, eu vou conversar com ele para saber o que ele pensa. Em cada ciclo da minha vida, espero acabar o contrato e vejo o que está acontecendo, ponho na minha mesa as cartas e decido junto com a minha família no que vou optar para 2020", analisou.

"Não gosto muito de pensar na frente. Gosto que as coisas aconteçam na minha vida naturalmente. Então, pelo respeito que tenho pelo Vanderlei, quero ouvi-lo e ver o que ele pensa para 2020. Aí depois eu tomo minhas decisões. Apesar de ser auxiliar, sempre fui muito livre nas minhas decisões, porque eu gosto disso, não gosto de ser dependente de outros profissionais. Eu tenho minha independência. É nisso que eu estou pautando minha carreira", completou.

Veja outros trechos da exclusiva do UOL Esporte com Mauricio Copertino:

Câncer de pele do Luxa

"Pegou todo mundo de surpresa. Ele só tinha comentado comigo e com o Antônio Mello [preparador físico] que estava com um branco no nariz, mas leigos do jeito que somos, achamos que poderia ser um cravo ou algo do tipo. E aí quando ele foi fazer a biópsia, foi diagnosticado com esse probleminha, mas que agora já está solucionado e ele está firme lá com a gente para o jogo contra o São Paulo."

A dobradinha com Luxa

"Ele me conhecia desde a época que eu trabalhava com o Alexandre Gallo, principalmente no projeto olímpico. Depois da minha saída da CBF ele já vinha me monitorando. Ele estava no Cruzeiro e aí depois apareceu a situação para a China [Tianjian Quanjian, em 2016)] Ele me convidou e fiquei lisonjeado porque é um cara top. O projeto era muito legal e foi nosso primeiro trabalho. Depois fiquei mais dois anos na China treinando uma equipe com o menor orçamento da Segunda Divisão [Yiteng FC] e consegui manter essa equipe.

Em seguida voltei para o Brasil e procurei meu espaço em algum clube. O Vanderlei sabia disso, porque de vez em quando nos encontrávamos em são Paulo para tomar um café e bater um papo sobre futebol, e foi quando apareceu o Vasco e ele novamente me convidou. Ele sabia da minha ideia de ser treinador, mas com o convite dele, fica difícil recusar. É um cara que eu gosto muito, a gente tem uma afinidade, uma confiança. Na hora que ele me convidou para o projeto, achei muito interessante por estar com ele e por encarar esse desafio do Vasco, que é um gigante e estava com apenas um ponto. E eu gosto de desafios."

Dia a dia com Luxa

"Ele sabe que sou treinador de futebol, não sou mais auxiliar. Agora na saída dele foi muito tranquilo para mim. As ideias continuam sendo as mesmas que a dele. Só estou executando o que ele pede para mim. Não tenho nada que esconder dele. Minha relação com ele é muito honesta e ele sabe da minha lealdade com todos os treinadores que trabalhei. Não há vaidade entre nós. Ele sabe que pode confiar em mim. Nessa semana as ideias são todas dele. Só estou executando o que ele conversa comigo."

Parceria com Ramon Menezes

"O Ramon [auxiliar fixo do Vasco] me recebeu muito bem. Tanto eu quanto o Vanderlei e o Mello. É um cara muito bem preparado. Além de ter sido um craque, um ídolo do clube, se preparou também. Tem competência dentro do seu trabalho como auxiliar e como treinador também. Vai se formar agora na licença PRO. Acaba o último modulo no final do ano. Tem nos ajudado muito tanto nos trabalhos de campo quanto nas ideias de formação de esquema tático, de análises... É honesto e leal. É um cara que tem uma participação importante dentro do nosso trabalho."

Elenco para 2020

"O grupo que esta terminando a temporada é outro do grupo que pegamos no começo do trabalho. O Vasco tem agora uma estrutura, um esqueleto de bons jogadores. Tem uma formação já definida. Jogadores que já entendem o clube e isso é muito importante. Se a gente continuar, ou outro profissional, é só dar continuidade. Claro que cada profissional tem seu jeito de trabalhar, mas o clube já tem sua filosofia de trabalho. Os jogadores já entenderam o jeito de jogar. Então, a gente fica muito feliz de deixar um legado para o clube, aproveitando também jogadores da base, o que pode render frutos financeiros para o clube futuramente. Acho que para 2020 as perspectivas são muito boas."



Fonte: UOL