As polêmicas sobre as tentativas de associações na categoria sócio-geral, que dá direito a voto na eleição de 2020, seguem a todo o vapor no Vasco. O mais novo caso foi o do torcedor que teve sua proposta inicialmente aceita, chegou a receber um e-mail sendo informado de que a carteirinha seria emitida, mas posteriormente teve seu status alterado para "em análise".
O UOL Esporte entrou em contato com o vascaíno, que preferiu não ter sua identidade revelada por medo de represálias. Morador de uma cidade de fora do Estado do Rio de Janeiro, ele detalhou todo o processo que lhe transportou da euforia à frustração:
"Eu resolvi aderir ao sócio-geral do Vasco no dia 1º de agosto. Passaram-se os cinco primeiros dias como ativo, depois ficou umas três semanas como suspenso em administrativo e depois resolvi ligar na secretaria para pedir informação. Liguei, quem me atendeu foi um rapaz, ele disse que meu caso já estava 'ok', mas que precisava anexar os documentos no site para depois ficar ativo. Eu anexei os documentos no mesmo momento e liguei novamente para avisar que tinha anexado. Me disseram para eu não me preocupar que, no mais tardar, no dia seguinte eu ficaria ativo. E no mesmo dia, no fim da tarde, apareceu como ativo realmente. Foi em 17 de setembro", contou.
Tudo parecia caminhar bem, e se tornava motivo de ainda mais euforia quando recebeu um e-mail do clube informando que a sua carteirinha havia sido emitida e seria enviada à residência. Mas a demora na chegada do documento lhe causou preocupação, o que motivou uma nova ligação e, a partir dali, a situação começava a desandar.
"Quando foi ontem (terça, 22), que faz 16 dias desse e-mail, fiquei preocupado. Então, resolvi ligar para pegar o código de rastreio. Aí expliquei toda a situação, a mulher me pediu o CPF e falou que a minha proposta estava em análise. Eu respondi que não, que desde setembro meu status no site estava como ativo. Ela pediu meu telefone para ver o código de rastreio. Eu estava com a página do site em aberto na hora. Atualizei a página e, uns dois ou três minutos depois, apareceu a proposta em análise. Logo depois ela me retornou dizendo que eu estava sob análise. Ou seja, no intervalo de dois ou três minutos da ligação, meu status passou de ativo para em análise", acrescentou.
Vasco alega erro e pede desculpas
O UOL Esporte entrou em contato com o Vasco para saber os motivos que levaram o torcedor a ter seu status como sócio-geral alterado de "ativo" para "em análise", e a explicação foi basicamente parecida com a que o vascaíno ouviu da secretaria.
O Cruzmaltino alega que, por uma falha humana, já identificada pelo clube, o cadastro dele foi lançado como ativo no sistema, e automaticamente a carteirinha foi emitida, mas que sua situação está sob análise. O Vasco ressalta ainda que já entrou em contato com o vascaíno para explicar o que ocorreu e pediu desculpas.
O postulante ao título de sócio-geral confirmou à reportagem uma alegação parecida, mas não ficou satisfeito com o que ouviu:
"Expliquei [por meio de telefonema] toda a situação, e disseram que iriam ver com o superior. Foi conferido, disseram que o erro era realmente deles e pediram desculpas em nome do Vasco, porque o meu CPF tinha sido colocado com número errado, e eles não estavam tendo acesso ao meu sistema para mudar o status, porque não era para ficar ativo. Ou seja, é outra desculpa. Eles devem ter um livro de desculpas."
Torcedor apareceu até em lista de sócios aptos a voto
Além de ter ficado com seu status de ativo no site do programa de sócios do Vasco, o torcedor ainda teve seu nome constado na lista de associados em situações regularizadas e com direito a voto no portal de transparência do clube.
"Saiu a lista atualizada de sócios regularizados e aptos a votar no próximo ano, e eu estou incluso nessa lista. Já estou com essa lista salva e impressa. Eu perguntei: 'e se eu não tivesse ligado? Meu sócio ficaria ativo até a eleição sem vocês saberem?' Aí ele falou: 'não sei se te responder essa pergunta, mas possivelmente, sim'. Ou seja, eles são tão desorganizados que liberaram a lista no portal de transparência e agora não estou mais ativo porque, provavelmente, viram que meu proponente não era da situação. Isso é uma suposição óbvia. Não vi, mas é a única maneira que dá para concluir daí", avaliou.
Avalia entrar com processo
Decepcionado com todo o imbróglio na tentativa de se associar ao Vasco, o torcedor avalia a possibilidade de ingressar com uma ação na Justiça em busca de seu direito de se tornar um sócio-geral do Cruzmaltino. Antes de tomar tal atitude, porém, vai aguardar o que será definido na reunião do Conselho Deliberativo da próxima sexta-feira (25), que tem como objetivo justamente debater a questão dos sócios aprovados e barrados até aqui.
"Vou esperar essa reunião de sexta, mas dependendo vou tentar em via judicial reverter. Afinal de contas, é um direito meu, não há nenhuma irregularidade e paguei com meu cartão de crédito", disse.
Entenda o caso
Após o Conselho Deliberativo votar pela redução da taxa de adesão para a categoria que dá direito a voto (sócio-geral), cerca de mil vascaínos ingressaram com o pedido até o dia 15 de agosto, que foi o prazo máximo dado para quem quisesse participar da eleição de 2020.
O plano, porém, prevê que, para se associar, a pessoa precisa de um sócio proponente para assinar sua ficha de inscrição e também de uma aprovação pelo presidente do clube, Alexandre Campello.
Passados meses de situações sob análises, centenas tiveram suas propostas indeferidas e, no email de comunicação do impedimento, o clube se baseou no artigo 14 do estatuto para alegar que "a diretoria não é obrigada a dar os motivos da recusa".
Outras centenas de torcedores ainda não tiveram uma resposta sobre suas situações, o que têm gerado reclamações dos mesmos e críticas por parte da oposição, que acusa Campello de estar "peneirando" os novos associados.
O presidente vascaíno, então, foi cobrado pelo Conselho de Beneméritos e o respondeu em carta alegando que a demora se dá por supostas movimentações suspeitas na adesão dos postulantes à sócios-geral, detalhando alguns itens como: ônibus fretado para associação em massa; plantões de sócios no clube para assinarem como proponentes - com casos de até 130 propostas assinadas pelo mesmo proponente; e primeiras mensalidades pagas com cartões de crédito de terceiros (veja na carta em anexo).
Até o momento, pouco mais de 400 pessoas tiveram suas propostas aceitas e a tendência é a de que o número não se altere tanto, com centenas tendo seus ingressos na categoria de sócio-geral vetados por Campello.
Veja a íntegra do comunicado:
"Viemos através deste informá-lo que sua proposta de sócio-geral do Club de Regatas Vasco da Gama, infelizmente, foi indeferida. Referente à justificativa da recusa, segue trecho do artigo 14 do estatuto:
'As importâncias de que trata o presente artigo ficarão em depósito e serão devolvidas, desde que não seja aceita a proposta. A diretoria não é obrigada a dar os motivos da recusa'.
Em breve, entraremos em contato para mais informações quanto à devolução do valor despendido no ato da proposta".
Fonte: UOL