Ribamar fala sobre período afastado no Vasco, morte da mãe e explica por que tem 'Lucas' na camisa
O futebol pode ser injusto de várias maneiras, não apenas em campo. O mundo da bola o consagrou Ribamar, mas o que Lucas mais queria era ser chamado pelo primeiro nome. Com ele na camisa do Vasco, cumpre o desejo de sua mãe e maior incentivadora, falecida em 2017, vítima de câncer. Com o Ribamar na boca dos outros, se lembra do pai que não vê desde a morte de dona Fátima, dois anos atrás.
Como foi ficar encostado no Vasco, afastado do grupo?
Foi muito difícil. Nunca passei por isso na minha carreira. Sou muito novo, tenho 22 anos, foi uma situação bem estranha. Mas busquei forças nos meus companheiros, familiares, sempre pensando que poderia ajudar o Vasco. Graças a Deus consegui. Fico feliz pelo carinho da torcida.
O que acha dessa espécie de comparação que a torcida do Vasco faz com o Gabigol?
Eu levo na esportiva. Gabriel é um grande jogador, respeito muito, admiro até. Mas não sou muito fã de comparações não.
Já pensou em ter uma forma própria de comemorar os gols? As torcidas gostam...
Nunca tive uma comemoração específica, mas já pensei em fazer algo que fique marcado. Estou bolando alguma coisa para mim, mas ainda não decidi.
Quem sabe os braços cruzados, cara de mal.. .
Eu tenho uma comemoração assim em um gol que fiz pelo Athletico. Pode ser, o chefão, o brabo.
Muitos não lembram que você tem 22 anos. Arrepende-se de ter saído tão cedo do Brasil?
As coisas aconteceram na minha vida muito cedo sim, mas é difícil falar se foi bom sair ou se eu deveria ter ficado mais tempo. Foi bom para mim financeiramente e aprendi bastante. Hoje me vejo um jogador melhor, mais experiente e pronto.
E para se adaptar? (Ribamar já jogou na Alemanha, no Egito e na Arábia Saudita)
No Oriente Médio a cultura é toda diferente. Então foi um baque para mim, não estava acostumado a nada daquilo. Foi um pouco difícil, mas suportei, fiz o que tinha de fazer lá. Estou muito feliz por estar agora no Vasco.
De volta ao Rio, como se relaciona com a Cidade de Deus, onde você cresceu?
Sempre vou lá e revejo meus amigos, o lugar onde me divertia, onde morava. É onde eu busco a motivação, onde busco ser uma inspiração para quem está lá.
Então como vê a escalada da violência, as operações que deixam as pessoas expostas.. .
É complicado. O pessoal lá precisa de muito apoio e acontecem essas situações. Fico chateado e o pior de tudo é não poder ajudar de alguma forma. Tenho familiares lá, amigos também.
Por que seu nome na camisa é Lucas e não Ribamar?
Foi um pedido que minha mãe fez para mim. Prefiro Lucas também. Mas na base do Botafogo tinha muitos Lucas. Então era normal chamar pelo segundo nome. Virou Ribamar e segue até hoje. Mas o Lucas não vai sair da camisa não.
Ribamar é do seu pai, não é?
Sim.
Como é sua relação com ele?
Temos pouco contato, na verdade. Faz muito tempo que não o vejo, a última vez foi quando minha mãe faleceu, em 2017.
Como lidou com a morte dela?
Minha mãe era tudo na minha vida. Eu estava fora, buscando nossos objetivos, meu e dela, porque ela sempre sonhou comigo jogador. Depois disso, acabou o plano que eu tinha na Europa, não suportei voltar para lá, tive de voltar para o Brasil, ficar mais perto da família. Tudo que eu faço em campo é pensando nela. Ainda sinto muito falta dela.
Você se sente sozinho?
Sozinho? Nunca. Tenho Deus do meu lado. Minha avó mora comigo, meus tios são presentes, meus amigos, tem meu irmão mais velho, ele cobra bastante, me apoia, me orienta. Sozinho, eu não estou nunca.
Queria ter pai mais presente?
Eu nunca tive uma relação com ele. Seria bom ter um pai,né? Mas já estou acostumado. Desde criança, sempre tive apenas minha mãe.
Você joga por ela?
Ela me motiva muito. Sempre foi meu espelho, por ser tão guerreira, por fazer tudo por mim. Se sou jogador, é graças a ela. Onde estiver, está feliz por mim, me vendo jogando, fazendo gol. Era isso que ela queria.
Obrigado, cara. Posso te chamar de Lucas?
Pode me chamar se quiser.
Fonte: O Globo Online