Fernando Miguel fala sobre barba, diz não ser vaidoso e relembra desilusão no futebol
Quem vê a expressão quase sempre séria, focada e comprometida com a missão de ajudar cada vez mais o Vasco a evoluir em campo pode não imaginar o que está por trás daquela barba bem cuidada. Um cara "meio desleixado", como ele mesmo se define, Fernando Miguel carrega cicatrizes que despertam lágrimas e formaram o caráter do pai de duas meninas.
Entre defesas, treinos e a rotina em casa com a esposa e as duas filhas, Fernando Miguel cuida da aparência – a pedido da Laura, sua mulher. A já característica barba, que é também um pedido das duas meninas, é parecida com a do Almirante, mascote do Vasco, e caiu nas graças da torcida.
- Já teve uma interrupção, tirei ela todinha. Não foi uma experiência muito bacana com minhas filhas, não (risos). E foi um pedido dela para que nunca mais tirasse a barba. Foi um momento engraçado. Minha filha olhou, com espanto, porque fiz surpresa. Ela olhou com uma cara e disse: "pai, nunca mais tira sua barba, por favor".
- O torcedor muitas vezes me chama de barba, Almirante, Almirante pistola, porque tem o Almirante, que tem a barba. Uma vez fiz uma foto com ele e viralizou nas redes. Acabou marcando. Acho muito legal essa interação – completou Fernando Miguel
Para chegar até o Vasco, porém, o goleiro batalhou – e muito. Passou por Brasil de Pelotas, Porto Alegre, Novo Hamburgo, Arapongas, Londrina, Esportivo, Lajadense, Juventude e Vitória. Entre idas e vindas, Fernando Miguel pensou em desistir e procurou emprego em um hotel, para ser recepcionista.
- Fui fazer uma entrevista. Ficamos batendo um papo, falei que não tinha currículo, era um atleta que jogava até pouco tempo, aí conversamos, ele me olhou e falou: "tu tem um perfil para trabalhar com a gente, mas não vou te contratar, tu nasceu para jogar futebol". Esse foi um momento muito marcante. Eu mesmo estava desacreditado. Minha energia parece que foi retomada e a partir dali minha carreira começou a dar uma alavancada legal.
Em um momento de desilusão, explodiu e jogou tudo para o alto. Literalmente.
- No meu apartamento tinha um quartinho com troféu, medalha, quadro. Numa tarde de desespero entrei e quebrei tudo que tinha lá dentro. Minha esposa pegou, me acalmou. Quando voltei, ela estava recolhendo tudo quebrado, fotos rasgada e colocando numa caixa. Eu disse: "bota no lixo, o que a gente queria não vai mais acontecer". Ela olhou para mim e deu uma resposta que... – pausou, emocionado, olhando para o alto.
- Ela disse: "se tu não consegue mais sonhar, eu sonho". E até hoje isso está lá guardado – completou Fernando Miguel.
De tanto sonhar, o goleiro chegou ao Vasco. Agora, tem a missão, com os companheiros, de ajudar o Cruz-Maltino a se reerguer dentro de campo. E acredita que vai conseguir.
- O Vasco tem uma história riquíssima, que valoriza seu feito, seus avanços e suas marcas. Precisamos superar isso. Unir todos dentro do clube, todas as correntes, para que o Vasco consiga andar num sentido único. É um momento difícil, sim, um momento complicado, mas me sinto orgulhoso e espero que meu esforço e de todos aqueles que estão aqui conosco rendam bons frutos e que sejamos lembrados.
Com o sorriso, mesmo que tímido, no rosto, muita simpatia e a tranquilidade de não ter desistido dos seus sonhos, Fernando Miguel termina de reparar sua barba e ajeitar o cabelo, como faz toda semana.
Fonte: GloboEsporte.com