Jairinho continua recebendo carinho da torcida vascaína, mesmo após saída para o Atlético-GO
Jairinho não pode postar no Twitter que fica com os olhos marejados, afirma. A cada mensagem escrita na rede social, recebe uma leva de respostas carinhosas de vascaínos - desejos de boa sorte, pedidos para que retorne, lamentos pelas poucas oportunidades recebidas. Perto de completar um mês desde que saiu dos planos do Vasco, o atacante ainda vive um curioso caso de amor com os torcedores da Colina. Ele admite que às vezes se pergunta o motivo de tanta afeição.
Foram dois meses de São Januário e quatro partidas disputadas, todas elas vindo do banco de reservas. Somou 94 minutos em campo e nenhum gol marcado. Quando foi contratado, houve gritaria de parte da torcida, chateada com a chegada de um reforço oriundo de um clube de menor expressão. Em tempos de arquirrival milionário, trazer um jogador do Bangu para tentar escapar da zona de rebaixamento pode ferir o orgulho.
Mas Jairinho é bom em conquistar as pessoas, ele mesmo diz. Antes de virar jogador, desarmava a rivalidade dentro da comunidade onde morava em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, para jogar bola no campo que estivesse à disposição, não importava se fosse na Quadra 100, onde morava, ou na Carobinha, onde teoricamente não deveria entrar. Em dois meses, ganhou os vascaínos, mesmo sem jogar, praticamente.
- Muitas vezes fico até espantado. Joguei três, quatro jogos, passei dois meses no clube. Mas aí volto lá trás, dou um passeio pela comunidade onde cresci, os lugares para onde eu fui. Não tenho inimigos, desavenças. Vejo isso na minha carreira profissional também. As pessoas me veem como pessoa, "Jairinho é gente como a gente". Tem jogador que fica nessa posição: "sou profissional, não vou falar com torcedor, estender a mão". Mas eu, o que puder fazer, vou fazer. As pessoas não acreditam, eu agradeço o apoio numa mensagem direta. O torcedor fica muito feliz por isso.
Não é apenas o carisma que pesou. Jairinho tem uma história de vida que foi como uma flechada no coração dos vascaínos. Surgiu do nada, depois de trabalhar como entregador de pizza e auxiliar de pedreiro. Despontou na carreira tardiamente, aos 28 anos, vindo de uma comunidade carente. Fez um bom Estadual pelo Bangu e, mesmo ainda morando na favela, se viu jogador do Vasco, quase que num passe de mágica. A torcida comprou a ideia.
- Jairinho dar certo no futebol seria quase um conto de fadas moderno. Alguém que tem uma situação praticamente decretada de trabalhador braçal e humilde de repente muda completamente de vida já com uma certa idade (para aparecer no futebol) e se torna ídolo de uma torcida de massa. É algo que todos gostariam de ver acontecendo - afirmou Helder Floret, 37 anos, professor de matemática, um dos muitos vascaínos a apoiar Jairinho nas redes sociais: - Um outro ponto é a história do próprio Vasco, de luta por inclusão social e de quebra de barreiras. Nenhum clube seria mais significativo para quebrar mais esse estigma do futebol, o de que um grande jogador precisa necessariamente vir de divisões de base e ser forjado como craque desde jovem.
Música foi o ápice
Entre a fantasia e a realidade, o segundo falou mais alto. O técnico Vanderlei Luxemburgo tirou o atacante dos planos do Vasco perto do recomeço do Campeonato Brasileiro. Semanas depois, ele teve o contrato rescindido e se transferiu para o Atlético-GO, segundo colocado da Série B. O sonho de Jairinho vingar contra todos os prognósticos ainda está vivo, só que em Goiânia. Enquanto espera a oportunidade de estrear pelo novo clube, remói a saudade do tempo de São Januário, curto, mas marcante.
- O que mais me machuca é estar longe da torcida do Vasco. Depois do jogo em São Januário em que não fomos bem, eu fiz questão de sair de carro com o vidro abaixado, para não me esconder de ninguém, e o torcedor veio me deu apoio, "Jairinho, eu te amo, você ainda vai crescer muito no Vasco". Isso fez eu me apaixonar muito pelo Vasco.
O influencer João Vitor Carvalho, conhecido como Almirante, de 31 anos, acredita que daqui para frente a torcida vascaína sempre seguirá Jairinho e torcerá pelo seu sucesso. Ele diz ainda que Jairinho é grato pela passagem por São Januário, por ter tido o nome gritado pela torcida vascaína a plenos pulmões, algo para lá de improvável no começo do ano. O torcedor matou a charada.
- Cara, eles criaram até música para mim. O que mais me marcou foi quando cantaram "ô, ô, ê, ê, solta o Jairinho nessa p* - afirmou o atacante, com a voz embargada.
Fonte: O Globo Online