Antes mesmo de completar 20 anos, Edgar teve uma mudança radical em sua vida. O garoto de São Carlos, interior paulista, jogava pelo Joinville na Série C do Campeonato Brasileiro e quase foi vendido para o futebol europeu. O negócio frustrado, porém, levou o atacante para o São Paulo
"Eu estava muito bem e era um dos artilheiros da competição e veio um representante do Saint-Ettiénne [da França], que queria me comprar. O Joinville precisava de dinheiro e fui para lá, mas por questões burocráticas não deu certo. Esse cara tinha levado o [zagueiro] Miranda ao São Paulo, que também estava precisando de um atacante", disse, ao ESPN.com.br.
Após uma rápida negociação, Edgar foi contratado pelo time do Morumbi por empréstimo.
"A gente no Joinville via a Série A do Brasileiro pela TV no alojamento. Duas semanas depois, eles estavam me vendo. É uma sensação que não tem o que falar. Só quem passou sabe o que é isso! Foi uma mudança muito rápida que o futebol pode nos proporcionar", contou.
Na equipe tricolor, o jovem que tinha apenas 19 anos tinha uma grande concorrência no setor.
"O São Paulo era o líder do Campeonato Brasileiro e uma grande vitrine para minha carreira. Sabia que eu não seria uma das primeiras opções, mas só de estar naquela equipe para mim seria muito bom. Não hesitei em escolher. Não joguei muito, mas abriu muitas portas para mim e fui muito feliz pelas experiências que passei por lá", afirmou.
"Foi uma felicidade enorme e tentei dar o meu melhor. O grupo era muito experiente, mas fiz a minha parte. Aprendi demais com eles", disse.
Para Edgar, a convivência com o técnico Muricy Ramalho foi importante para evoluir profissionalmente.
"Ele meu deu muitos conselhos, não somente para aquele momento, mas para que a minha vida futura melhorasse. Eu não tinha como jogar porque os outros jogadores estavam em um momento melhor. Eu vinha de uma realidade totalmente diferente", contou.
O atacante fez três partidas na equipe que venceu o Campeonato Brasileiro de 2006.
Saída do São Paulo para a Europa
No começo do ano seguinte, Edgar foi campeão do Sul-Americano - que valia vaga na Olimpíada de Pequim - com a seleção brasileira Sub-20, que tinha nomes como Pato, Willian, Fágner e Cássio.
"A vida mudou totalmente e abriu as portas para eu ir para a Europa pouco tempo depois. Foi uma experiência muito legal para mim mesmo", afirmou.
Logo após a competição, o São Paulo tentou renovar o empréstimo com o atacante, mas não conseguiu.
"Veio uma oferta de um grupo de investidores que tinham comprado o Beira-Mar, de Portugal. Naquela época eu não queria sair do São Paulo porque tinha o sonho de estar em um time grande do Brasil. Mas o Joinville precisava de grana e me vendeu. Na época, o time estava mal no Português", recordou.
"Ia sair do campeão brasileiro para um dos últimos colocados do Português? Eles me disseram que seria bom e iria abrir as portas na Europa: 'Calma, se você fizer isso lá em seis meses aparece algo legal, nós garantimos'. E foi o que ocorreu", bradou.
Após jogar menos de meia temporada pelo time português, Edgar se destacou e foi disputado pelos gigantes Benfica e Porto.
"O Beira-Mar infelizmente caiu, mas eu fui bem e o Porto me comprou. O que me disseram deu certo", contou.
No Estádio do Dragão, porém, o brasileiro enfrentou o mesmo problema que viveu no São Paulo: um elenco estrelado.
"O Porto era um timaço e tinha vários jogadores top de seleção mundial. Aprendi muito, mas não tive oportunidades. Mesmo assim, abriu meu mercado por estar por lá", contou.
Ele foi emprestado para a Acadêmica e depois para o tradicional Estrela Vermelha, da Sérvia.
"Eu cresci como pessoa porque é uma cultura diferente. Mas no futebol não foi uma experiência tão boa. Lembro que perdemos um clássico para o Partizan e fomos eliminados da Liga Europa na mesma semana. Foi horrível. Os torcedores fizeram uma reunião com a gente e nos xingarem e bateram no nosso capitão e em outro atleta. Eles eram fanáticos até demais", lamentou.
"Para piorar, o presidente tinha sido preso por ser da máfia e eu não recebia salários. Fiquei um pouco bravo e resolvi voltar ao Brasil para recomeçar", contou.
Volta ao Brasil
O atacante acertou com o Vasco, que disputaria a Série B do Brasileiro, em 2009.
"Cheguei um pouco depois dos outros jogadores, que já estavam finalizando a pré-temporada. Demorou para eu ficar apto. No pouco tempo em que fiquei no clube fiz alguns gols e ajudei. Eu perdi espaço quando o Vasco trouxe o Aloíso Chulapa. Mas só tenho que agradecer por que eles abriram as portas para mim quando eu precisei voltar ao Brasil", agradeceu.
No meio do ano, ele recebeu uma oferta para voltar à Portugal e defender o Nacional. Depois, passou duas temporadas pelo Vitória de Guimarães, no qual foi vice-campeão da Taça de Portugal. A derrota na final foi para o Porto, seu ex-clube.
Em 2012, o brasileiro foi para o Shabab Dubai, dos Emirados Árabes.
"Lá foi um dos melhores momentos na minha carreira. Fui campeão do Golfo e da Copa dos Emirados. Foi um lugar que fiz boas amizades e a minha família gostou de lá. É muito bom quando as coisas também estão legais fora de campo porque você se desenvolve da melhor forma possível", disse.
Ele ficou tão à vontade no país que recebeu um convite inusitado dos colegas de equipe.
"Nos primeiros dias eu não estava acostumado com a situação dos muçulmanos. O treino era umas 22h ou 23h por causa do calor. No meio da atividade tocava a música das mesquitas e só sobravam os estrangeiros no campo. Os árabes entravam no vestiário e faziam a oração deles antes de voltarem para o campo. Depois, me acostumei e eles queriam que nós também virássemos muçulmanos (risos)", afirmou.
Artilheiro na Ásia
Depois de passar pelo Al Wasl (Emirados Árabes), Adanaspor (Turquia) e Lekhwiya (Catar), Edgar foi para o Buriram (Tailândia).
"Eu estava jogando bem, era vice-artilheiro do Campeonato Tailandês, mas eles gostam de mudar os estrangeiros do time. Só podem jogar três. Trouxeram mais um jogador e como eu era o último a ter chegado fui embora", contou.
Como havia feito boas partidas pela Champions League Asiática, o brasileiro foi contratado pelo Daegu, da Coréia do Sul.
"O time estava em momento difícil, mas por ter alguns brasileiros no elenco e um treinador brasileiro [André Gaspar] eu sabia que dava para superar isso. E foi o que aconteceu. Fomos campeões do Copa da Coreia e foi um feito inédito pra o clube. Só tenho que agradecer", disse.
"O começo foi um pouco difícil na adaptação, mas a minha família está acostumada com mudanças. A cultura é diferente e o país não é tão aberto aos estrangeiros. É um pais legal, seguro e o respeito é pelas pessoas muito grande. As crianças pequenas vão para a escola sozinhas", contou.
Neste ano, Edgar tem se destacado pela equipe: são 10 gols em 16 partidas. Mesmo assim, o atacante de 32 anos não descarta voltar ao país de origem no futuro.
"Tenho vontade de jogar outra vez em um grande clube no Brasil e ter êxito. Quero ser reconhecido ainda. Por enquanto, penso no meu trabalho aqui. Não posso descartar esse sonho, mas é algo mais para frente", finalizou.
Fonte: ESPN.com.br