Técnico de Thalles na base, Sorato alertou contra vida extracampo: 'Não entra nessa'
Sábado, 22/06/2019 - 12:07
Sorato foi técnico de Thalles na base do Vasco. Foi ele quem passou o então segundo atacante do Sub-17 para o centro da área no Sub-20, posição na qual conquistou a Taça BH de 2013, uma vaga na seleção brasileira Sub-20 em seguida, e uma chance na equipe profissional dirigida por Dorival Júnior. Ele lembra de Thalles como um garoto comprometido com o trabalho e de enorme potencial. O atacante de 24 anos morreu na manhã deste sábado, vítima de um acidente de moto em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Thalles ainda pertencia ao Vasco, mas estava emprestado à Ponte Preta até o fim do ano. Depois de mais de dois anos de trabalho na base, Sorato chegou a ter uma conversa dura com Thalles quando ele já era profissional. Disse ter visto uma foto do jogador "na noite" circulando na imprensa e que ligou em tom de cobrança, pois tinha o respeito do jogador.

- Uma vez que já estava no profissional vi que rodou uma foto pela imprensa com ele na noite. Peguei o telefone e liguei para ele. Dei uma chegada mais firme, ele me respeitava bastante, é difícil. Ele falou: "Não professor, o que é isso, pode ficar tranquilo, estou me dedicando!". Eu falei: "Cara, pô, não entra nessa. Você é novo, está chegando agora, tem um potencial enorme. Tem potencial para jogar em clube top da Europa. Já estreou bem no profissional. Foca nisso! De uma hora para outra você vai subir, tem potencial para isso. O que você já ralou para chegar aqui...".

O atacante, na ocasião, respondeu que iria se dedicar:

- Ele falava: "Não, professor, fica tranquilo, vou me dedicar". Mas aí, não é cara... Infelizmente, a gente faz algumas escolhas e as consequências são terríveis. Não que ele não pudesse se divertir, estava de folga... É uma pena, realmente - contou Sorato.

O ex-treinador de Thalles na base do Vasco lembrou da época em que o jogador foi promovido para a categoria Sub-20 e rapidamente ganhou espaço.

- Quando fui para o Vasco, ele ainda estava no Sub-17. Já começava a ter um certo destaque, mas jogava de uma forma diferente, como segundo atacante. Quando ele foi promovido para o Sub-20 o coloquei como um atacante de referência, o centroavante de área, pelo porte físico, pela qualidade, boa proteção de bola, finalizava razoavelmente bem e estava trabalhando bastante isso. E a partir daí ele começou a evoluir muito rápido. Fez uma competição muito boa em 2013, a Taça BH que a gente acabou sendo campeão. Depois dessa competição, ele foi convocado para a seleção brasileira Sub-20, então a gente via muito potencial nele. Acabou que subiu rápido para o profissional também e ficou direto.

A transição para o profissional aconteceu por um pedido de Dorival Júnior, que tinha carência na posição.

- O Dorival perguntou se eu não tinha um centroavante, expliquei a situação, e quando foi para o profissional nunca mais voltou. Então era um garoto que se dedicava realmente, tinha uma entrega nos treinamentos, nos jogos, era um garoto que fez umas partidas comigo no Sub-20 que venceu os jogos realmente.

Mas houve uma mudança quando Thalles passou a atuar na equipe principal do Vasco:

- Quando subiu, comecei a ter algumas notícias que estava indo por um caminho que não seria legal. Mas era um garoto muito comprometido com o time, com o clube, com o trabalho. Estou meio passado ainda de acordar com essa notícia. Muito difícil. A gente sabia que extracampo estava num caminho complicado pelas notícias que a gente ouve, mas era muito novo, teve uma ida para o Japão, deu uma amadurecida, estava em um bom clube agora que é a Ponte Preta. Difícil, estou meio aéreo, uma pena mesmo. Tinha filho pequeno, a vida toda pela frente, a carreira toda pela frente, tudo interrompido de maneira trágica.

Para Sorato, o porte físico e a qualidade de Thalles na base lembravam o atacante Drogba, da Costa do Marfim, que fez grande sucesso em clubes como o Chelsea, da Inglaterra.

- Comigo, comportamento, dentro da base, no momento de definição, ele foi muito comprometido com a carreira e com o trabalho. Tanto é que atingiu o objetivo. Era um cara que você podia contar em qualquer momento, não se escondia do jogo, era um jogador de personalidade. Guardadas as proporções, na base ele lembrava um Drogba, pela força física, pelo porte físico, pela qualidade técnica. A família deve estar arrebentada com essa situação toda.



Fonte: GloboEsporte.com