Espremido entre o Maracanã, a Mangueira e o grande Méier, o bairro do Rocha não é lá dos mais conhecidos da Zona Norte do Rio de Janeiro. Mas foi ali, em uma pacata vila de moradores, que nasceu um dos maiores talentos do futebol brasileiro. Nas quadras de cimento do subúrbio carioca, Philippe Coutinho descobriu o futebol.
A infância de Coutinho teve muita bola, brincadeira de rua e uma trilha sonora inconfundível: o barulho do Maracanã. Entre idas e vindas, ele ouvia o ecoar dos cantos de torcida, imaginando um dia estar em campo no estádio lendário. O sonho se realizou há uma década, mas ele conta os dias para esse reencontro. Desta vez, porém, um pouco diferente, já que seria com a Seleção Brasileira.
- O Maracanã é bem pertinho dali de casa. Muitas vezes, quando tinha jogo lá, dava para ouvir o barulho do estádio, da torcida. Eu, como toda criança, sempre tive o sonho de jogar no Maracanã. Tive algumas oportunidades (com o Vasco) e foram poucos jogos. Mas agora tem a Copa América e, se Deus quiser, vamos jogar de novo.
A última vez que Coutinho pisou no gramado do Maracanã foi há quase dez anos. E foi com a camisa do Vasco da Gama, outra paixão do subúrbio. O clube, que tem papel fundamental na história dele, é o único dos quatro grandes cariocas cuja sede fica na Zona Norte. Não havia lugar melhor, portanto, para o Pequeno Mágico crescer no futebol.
Mas sua história começou a ser escrita um pouco antes, no Clube dos Sargentos do Rocha. Com apenas cinco anos de idade, foi levado para treinar futebol de salão na quadra da agremiação. Discreto fora de campo, o jovem se desinibia quando tinha a bola nos pés. Mas, até isso acontecer, era um sofrimento e tanto.
Do Rocha, foi jogar futsal na Mangueira, onde ficou por quase dois anos. Foi aí que entrou o Cruzmaltino em sua vida. Convidado para fazer um teste em São Januário, Coutinho quase perdeu a viagem para a própria timidez.
- Fui para o Vasco com sete anos, me convidaram para fazer um teste. Eu sempre fui muito tímido, não queria treinar de jeito nenhum, não queria ir para a quadra, eu ficava do lado dos meus pais. Na hora, me chamavam e eu não ia, chorava na arquibancada. Depois de muito tempo, os treinadores de goleiros vieram brincar comigo, dei uns chutes e acabei conseguindo ficar para finalizar o treino. Dali, continuei.
Revelado pelo Vasco, Coutinho se transferiu para o futebol europeu em 2010. Entre Itália, Espanha e Inglaterra, o meia construiu uma carreira de sucesso no Velho Continente. Hoje, joga no Barcelona, um dos clubes mais famosos do planeta. A vida na Catalunha pouco se parece, é claro, com a que levava nos tempos de subúrbio. Mas não é preciso muito tempo com ele para entender que aquilo ainda se faz presente.
Philippe Coutinho é o churrasco na calçada, o chinelo de dedo, o pagode na tarde de sábado; as crianças brincando na rua, os pais rindo alto em suas cadeiras de plástico. E para garantir que nunca perca essa essência suburbana, o meia se apoia em quem esteve com ele desde o princípio: a família. Ao lado dos pais, irmãos e da esposa, Coutinho enfrenta qualquer obstáculo, como se estivesse levando a vida entre o balanço do trem, o suor do subúrbio e as quadras do Rocha.
- Meus pais são pessoas que sempre me deram muito amor, carinho e educação, sempre tive todo o apoio deles em tudo. Estão nos jogos, me acompanhando em tudo. Qualquer decisão que eu tenha que tomar eu tenho o apoio deles, dos meus irmãos e principalmente da minha esposa (Ainê). Já vivemos muita coisa, passamos por momentos difíceis e ela sempre está ali. Até quando eu acho que não tenho de onde tirar forças, ela está lá comigo.
Fonte: CBF