0s preparativos que antecederam a Copa do Chile foram marcados por um devastador terremoto atingindo a nação chilena em 21 de maio de 1960. A realização do campeonato naquele país andino esteve seriamente ameaçado de ser suspensa e o torneio transferido para a vizinha Argentina não fosse os notáveis esforços do Comite Organizador chileno. Confirmada a sua realização, entretanto, 52 países inscreveram-se à competição, constituindo-se um recorde até então.
A história da realização das copas indicava três vitórias européias e três sulamericanas. Nesta copa, entretanto, a crônica esportiva européia depositava muita confiaça nas equipes da Europa. Em particular, o Brasil era visto como uma seleção de jogo previsível e táticas ultrapassadas, apesar do futebol vistoso e elegante de seus jogadores. Espanha, Tchecoslováquia, União Soviética, Inglaterra e Itália demostravam bastante confiança na vitória. A seleção italiana, bicampeã mundial, vinha disposta a conquistar a Taça Jules Rimet em definitivo e levaria o centro-avante da seleção brasileira campeã em 1958, Mazola, o qual ficara conhecido na Itália pelo seu verdadeiro nome - Altafini. A Tchecoslováquia também levaria um plantel de jogadores de altíssimo nível, entre os quais o seu goleiro, Schroiff, o qual seria posteriormente eleito o melhor goleiro da copa.
A seleção brasileira tinha como base o mesmo time que havia conquistado o mundial na Suécia. Mauro, reserva de Belini em 1958, seria o titular e capitão do time. Zózimo, também reserva em 1958, ocuparia o lugar de Orlando, que havia se transferido para o Boca Juniors da Argentina. Embora a preparação física e técnica dos canarinhos iria seguir o mesmo plano de trabalho imposto em 1958 por Paulo Machado de Carvalho, Aimoré Moreira assumiria o lugar de Vicente Feola no comando tácnico. Também estaria no Chile uma personagem bastante conhecida ainda hoje pelo torcedor do Brasil: o massagista Mário Américo.
A fase preparatória que antecedeu a ida ao Chile teve seis jogos da Seleção Brasileira em gramados cariocas (Maracanã) e paulistas (Pacaembu), todos com vitória do escrete nacional: 6 x 0 e 4 x 0 contra o Paraguai, 2 x 1 e 1 x 0 contra Portugal, 3 x 1 e 3 x 1 contra o País de Gales. Embora o time estivesse praticamente definido, havia ainda certa incerteza entre Vavá e Coutinho como centro-avantes, Mauro e Belini na zaga, e Pepe e Zagalo na ponta esquerda. Finalmente, Aimoré Moreira decide por Vavá e Zagalo, além de substituir Belini por Mauro, o qual ainda ganhou o posto de capitão da equipe. Para outras posições, Gilmar era o dono absoluto do gol, Didi e Zito, embora ameaçados por Mengálvio e Zequinha, foram os titulares de Aimoré até o final da competição. Pelé e Garrincha eram os donos absolutos das suas posições, embora tivessem em Amarildo e Jair da Costa dois excelentes reservas.
Na terceira vez que em uma Copa de Mundo que o Brasil enfrentava ao México, somente aos 11 minutos do segundo tempo seria aberto o placar através de Zagalo, que em um mergulho escora cruzamento vindo da direita. Um pouco a seguir, aos 28 minutos, Pelé dribla quatro adversários e chuta forte e rasteiro na saída do goleiro mexicano, definindo a vitória do Brasil por 2 a 0. O Brasil jogara com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Didi e Zito; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo
Jogo bastante equilibrado, com destaque para as grandes atuacoes dos dois goleiros. Esta partida, entretanto, viria a marcar a saída prematura do torneio do genial Pelé: lançado por Djalma Santos, Pelé amortece a pelota e dispara um potente chute de longa distância que vai chocar-se contra o poste direito do goleiro tcheco. Imediatamente, Pelé sente uma grave distensão que o deixaria fora o resto da copa. A equipe brasileira parece sentir a grave contusao de seu grande jogador e a partida encerra-se em um melancólico empate sem gols. O Brasil novamente jogara com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Didi e Zito; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo
Havia grande expectativa para este jogo devido ao inesperado afastamento de Pelé. Em meio às conjecturas da imprensa esportiva mundial, o técnico Aimoré Moreira avaliava as alternativas técnicas e táticas ao escrete nacional: 1) deslocar Vavá para a esquerda e colocar Coutinho em seu lugar; 2) Reforçar o meio de campo, improvisando um quadrado com Didi, Mengálvio, Zito e Zagalo, ficando Vavá e Garrincha no ataque brasileiro e 3) simplsmente escalar o reserva de Pelé, Amarildo. O técnico Aimoré Moreira opta por escalar Amarildo devido à vantagem de não ser necessário mudar o esquema de jogo brasileiro.
O jogo contra a Espanha mostra um primeiro tempo nervoso, principalmente por parte da equipe brasileira. Aos 34 minutos, Puskas limpa uma jogada e coloca a bola sob medida para Adelardo marcar o gol espanhol. Terminado o primeiro tempo, a Espanha iria se manter à frente do marcador, em um domínio merecido da partida, até os trinta e oito minutos do segundo tempo: Amarildo penetra na área espanhola e arremata com violência um cruzamento de Zagalo, naquele que seria o gol de empate e o início da virada brasileira. Aos 41 minutos, Garrincha, em típica jogada, passa pelo marcador, vai ate' a linha de fundo e bate cruzado para Amarildo escorar de cabeça no canto direito do goleiro espanhol. Surgia um novo ídolo no futebol brasileiro: Amarildo. O Brasil jogara com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Didi e Zito; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo
Após ter eliminado a Argentina por 3 a 1, a Inglaterra enfrentava o Brasil com grande otimismo, principalmente devido à ausência de Pelé. Entretanto, os ingleses náo contavam com aquele jogador de pernas tortas vindo de Pau Grande, Mané Garrincha. Passados os momentos iniciais, a Seleção Brasileira foi gradualmente impondo o domínio da partida. A defesa inglesa era incapaz de parar Garrincha, o qual foi o melhor dos 22 jogadores em campo.
Aos 31 minutos do primeiro tempo, Zagalo cobra um escanteio e Garrincha, apesar de ser mais baixo que a zaga adversária, sobe mais alto e cabeceia para dentro das redes inglesas abrindo o placar. Aos 39 minutos, no entanto, a Inglaterra iguala o marcado após um chute de uma bola rebatida na trave superior de Gilmar. Aos 8 minutos do segundo tempo, Garrincha cobra violentamente uma falta na entrada da área inglesa de encontro à barreira e, na rebatida, Vavá escora de cabeça o segundo gol brasileiro. Aos 15 minutos do período complementar, Garrincha, que havia se deslocado para o centro, dribla dois adversários e bate de fora da grande área uma bola curva no ângulo superior esquerdo da trave inglesa. Após o jogo, a imprensa elegia um novo rei do futebol: Mané Garrincha. O Brasil jogara com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Didi e Zito; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo.
O jogo semi-final contra a equipe chilena mostrara um domínio territorial e tático da Seleção Brasileira. Novamente, o principal fator da vitória brasileira estaria nos pés e na cabeça de Garrincha, o qual liquidou com a defesa adversária. De fato, Garrincha mostrava uma vontade de ganhar a partida como nenhum outro jogador em campo. Logo aos 9 minutos de jogo, Mané recebe uma bola fora da grande área e de pé canhoto desfere um potente chute pelo alto que vai morrer nas redes chilenas: Brasil 1 x 0.
Estimulados pela torcida local, os chilenos nao desanimam e buscam o gol de empate. Começa a ficar evidente no decorrer da partida, entretanto, que o Brasil enfrentava dois adversários: a equipe chilena e o árbitro peruano Arturo Yamazaki, o qual claramente e parcialmente favorece o time da casa. Mas é Garrincha que novamente altera o placar em favor do Brasil ao escorar certeira cabeça em cruzamento de Zagalo. Ao final do primeiro tempo, quando a silenciosa torcida chilena parecia conformar-se com o resultado, o Chile marca o seu primeiro gol após cobranca de falta violenta no ângulo superior da meta de Gilmar.
Logo aos 4 minutos da etapa complementar, Vavá cabeceia de cima para baixo um cruzamento perfeito de Garrincha e balança novamente as redes chilenas, fazendo Brasil 3 x 1. O jogo prossegue sob amplo domínio brasileiro contra um adversário nervoso e atuando na base do desespero e do favorecimento do árbitro peruano, o qual viria a marcar um penalti contra o Brasil, convertido pelo atacante chileno. Apesar disto, a equipe canarinha mantinha-se tranqüila em campo, consciente de seu controle sobre partida. Tal era o seu domínio, que Zagalo viria ainda a construir o quarto gol brasileiro, ao cruzar da extrema esquerda para Vavá cabecear a pelota novamente para dentro da meta chilena e fechar o placar final de 4 a 2. O Brasil jogara com Gilmar, Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Didi e Zito; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagalo.
Para muitos, este é considerado o jogo mais bonito de todo o campeonato, onde ambas as equipes exibiram alto padrão técnico e futebol veloz. Os tchecos iniciam dominando a partida e jogando melhor os primeiros quinze minutos, quando um chute forte e rasteiro vence o goleiro Gilmar e abre o placar em favor da Tchecoslováquia. O placar desfavorável motiva a reação brasileira e, passados 3 minutos do gol tcheco, Amarildo é lançado na esquerda, passa dois adversários e com muita classe e raça chuta sem ángulo para empatar a partida. O primeiro tempo termina com o placar de 1 x 1, com Garrincha, que até então vinha sendo o melhor jogador da copa, apático devido, provavelmente, a uma forte gripe contraída antes da partida.
No segundo tempo, Amarildo, que vinha se destacando na partida, mostra melhor jogo ainda. Aos quinze minutos, passa por um zagueiro adversário com um drible seco e centra na direç∫ao de Zito, que penetra na área tcheca e cabeceia para dentro do gol. O jogo então prossegue com Didi e Zito comandando as jogadas pela esquerda em busca de Amarildo, o qual, com Zagalo jogando recuado, tem bastante liberdade de movimentação tanto pela ponta como pelo meio. Aos trinta e dois minutos, Djalma santos já na altura da intermediária tcheca, chuta uma bola para o alto em direçano à àrea adversária. Vavá aproveita a rebatida do goleiro tcheco, o qual estava muito à frente do gol, e manda o balão para o fundo das redes. O Brasil sela definitivamente a vitória e a conquista do bicampeonato mundial de futebol, estabelecendo mais uma vez a hegemonia do futebol nacional.
Documento em construção. Versão atualizada em 13/Fev/95
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