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NETVASCO - 27/05/2010 - QUI - 07:22 - Confira análise das dívidas dos principais clubes do Brasil As dívidas dos clubes brasileiros e como se dividem – Versão 2010
(A versão é 2010 em função do momento em que esses números vêm a público, mas eles, os números, as dívidas, referem-se ao ano de 2009, cujos balanços foram publicados no decorrer de abril.)
Em 4 de fevereiro, este OCE trouxe o post de igual nome, mostrando o quanto deviam os principais clubes brasileiros e como se dividiam essas dívidas, tomando por base os balanços referentes ao ano de 2008.
Esse post, depois da introdução, mostrará a situação de 14 grandes clubes brasileiros em estudo preparado pela Casual Auditores. Alguns, obviamente, não entraram na lista pelo simples fato de seus balanços não terem sido publicados a tempo. A esse respeito, por sinal, até cinco ou seis dias atrás, era irrisório o número de clubes com os balanços em seus sites oficiais – como determina o Estatuto do Torcedor – e, justamente por isso, não publiquei nada, ainda, sobre as receitas de 2009. Os clubes com seus balanços nos sites oficiais podiam ser contados nos dedos de uma só mão.
A Casual é uma empresa de auditoria especializada em clubes de futebol e recentemente associou-se à inglesa Parker Randall, o que lhe permitirá, futuramente, avaliar o desempenho dos clubes europeus, também.
A partir de agora, passo a transcrever o trabalho da Casual.
Critérios para avaliação do endívidamento
Este levantamento foi elaborado com a avaliação dos balanços dos clubes que publicaram as demonstrações financeiras até 31 de dezembro de 2009.
A dívida total (empréstimos/fiscal/cível e trabalhista) não representa o total do passivo dos balanços, pois valores a pagar como folha de pagamento, imagem, demais fornecedores ficaram de fora. O objetivo é o de apresentar os passivos mais contundentes e, portanto, as dívidas na Timemania e impostos correntes, as instituições financeiras e entidades provedoras de empréstimos como: Clube dos Treze, CBF e federações, bem como as ações movidas por empregados, jogadores, comissão técnica, empresários que, substancialmente, foram o objeto desse levantamento.
Endívidamento dos clubes
O endívidamento dos principais clubes brasileiros tem sido motivo de muitas polêmicas, dúvidas e contestações. A Casual Auditores apresenta um “raios-X” dos últimos 4 anos para propiciar aos leitores e torcedores o entendimento da situação financeira dos clubes.
Nos últimos dois anos (2009 e 2008) a dívida dos clubes brasileiros ultrapassou R$ 2 bilhões.
Dividimos as dívidas dos últimos 4 anos por tipo: fiscais, empréstimos e contingências cíveis e trabalhistas. A dívida fiscal em todos os anos é sempre a maior. Em linhas gerais os clubes apresentam dificuldades para pagar seus passivos e, conseqüentemente, o atraso resulta em ações, autos de infração, atualizações por correções e juros altíssimos que dificultam os pagamentos futuros. Os números dos clubes, em sua maioria, demonstram que a primeira opção dos clubes para o atraso são as dívidas fiscais, o que explica a liderança dessa dívida. Em 2007 se verifica o aumento sensível na dívida fiscal dos maiores clubes do Brasil em decorrência da adesão a Timemania (loteria administrada pela Caixa Econômica Federal).
Essa loteria visa arrecadar recursos para o abatimento das dívidas dos clubes que atualmente parcelam seus débitos vencidos com a Secretaria da Receita Previdenciária, com o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, com a Secretaria da Receita Federal, com a Procuradoria- Geral da Fazenda Nacional e com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS. O pagamento é feito em até 240 prestações mensais.
O maior problema para os clubes e para o próprio governo residiu na expectativa fracassada de se arrecadar anualmente R$ 500 milhões. Como a CEF, estabeleceu que até fevereiro de 2009 eles poderiam desembolsar até o limite de R$ 50 mil por mês para quitar os impostos federais, partir de março, seriam obrigados a pagar os impostos atuais integralmente, sob risco de serem excluídos da Timemania.
A situação geral dos clubes não é boa, pois a dívida continua crescendo ano a ano. Em 2009 79% dos clubes tiveram suas dívidas aumentadas. Os empréstimos representaram aumento de 57% para os clubes, sendo a Sociedade Esportiva Palmeiras o clube que mais necessitou desses empréstimos tomando R$ 33 milhões em 2009. Embora o clube de Parque Antártica tenha sido o maior devedor dos bancos em 2009 em relação ao ano anterior, o Clube Atlético Mineiro é o clube mais endívidado com as instituições financeiras, portanto deve possuir bom crédito com os bancos.
Em 2009 100 % dos clubes tiveram suas dívidas fiscais aumentadas. O Sport Club Corinthians Paulista foi o clube que mais viu a sua dívida fiscal aumentar: R$ 31 milhões em relação a 2008.
Seguido de 3 grandes do Rio com aproximadamente R$ 20 milhões. Esse aumento é um sinal de alerta, pois pode significar que os impostos correntes, ou seja, os que não se enquadraram na Timemania estariam se acumulando novamente. O Flamengo apresenta a maior dívida fiscal dos clubes em 2009 com R$ 223 milhões. O fator positivo dessa dívida é que ela não é vencível imediatamente como os empréstimos de curto prazo feito junto às instituições financeiras e adicionalmente a maioria é atrelada a Timemania. O fator negativo é que para 78% dos clubes, as dívidas fiscais se acumulam anteriores a 2006, fato que demonstra o problema crônico de várias gestões e não do grupo A, B ou C na situação. Chama a atenção em nossa análise o fato de que para 50% dos clubes essas dívidas fiscais aumentaram após a criação da Timemania em 2007, indicando que ou esses clubes abriram mão dos processos contra a União na adesão a Loteria, ou, não registravam os passivos fiscais nos balanços.
Em 2009 43 % dos clubes tiveram suas dívidas com ações cíveis e trabalhistas aumentadas. O Botafogo foi o clube que verificou o maior aumento de todos com R$ 61 milhões. O Vasco também, visto que até 2007 não apresentava passivos decorrentes de contingências, todavia em 2008 lançou R$ 103 milhões em seu balanço.
Fatores positivos nos endívidamentos
Há que se destacar que alguns clubes começam a verificar o pagamento dos passivos, principalmente decorrentes de ações cíveis e trabalhistas. O balanço dos clubes demonstra reduções nesses passivos que indicam tal situação. São os casos de Fluminense, Vasco, Flamengo, Corinthians e Atlético Mineiro. Denota-se uma visão profissional, pois, nesses casos, indica que não há preocupação na discussão de qual gestão criou os passivos, mas de clube buscando soluções para toda sua coletividade.
Depois das tabelas, um rápido comentário sobre cada um dos clubes.
FLUMINENSE
O Fluminense apresenta o maior volume de dívida, dentre os clubes integrantes desta análise. Os passivos fiscais, cíveis e trabalhistas, representam em média 92% de seu endívidamento dentro de cada ano analisado. Ainda que, em 2007 tenha ocorrido o reconhecimento e a conseqüente atualização de dívidas de natureza fiscal em função da adesão a Timemania, a efetiva razão da elevação do montante das dívidas do Fluminense se observa, também ano de 2007, a partir da constituição de provisão para contingências, sobretudo nas esferas cível e trabalhista. Esta medida elevou em 79% o montante da dívida do clube no ano de 2007, em relação ao ano de 2006, levando ao nível observado até o exercício de 2009.
BOTAFOGO
Com o segundo maior volume de dívida, dentre as analisadas, o Botafogo pode ainda sanar, em partes, este quadro. Considerando que, 36% do total de suas dívidas ao final de 2009,corresponde a provisões para contingência significa que, ainda existe a possibilidade de redução desta fatia (R$ 109.038, dentro do total de R$ 301.679, em valores absolutos), uma vez que, correspondem a processos ainda em andamento nas esferas judiciais. É possível ainda notar, a expressiva necessidade de financiamento das atividades operacionais, por via de recursos de terceiros, a partir do acentuado crescimento do volume de empréstimos e financiamentos ao final de 2009 em relação em relação ao anos anteriores.
VASCO
A dívida do Vasco saltou em aproximadamente 137% no ano de 2008, em relação a 2007. São três os elementos que substancialmente geraram a elevação a um nível mantido até o final do exercício de 2009: a adesão à Timemania, a provisão para contingências relacionadas a processos que se encontram em esferas judiciais e a aquisição de empréstimo junto a terceiros, sobretudo, relacionados a antecipação de receitas futuras junto a patrocinadores e TV.
FLAMENGO
A exemplo de outros clubes, a dívida total do Flamengo elevou-se de modo representativo entre os anos de 2006 e 2007, com a inclusão de vários débitos e suas respectivas correções no ato da adesão à Timemania. No aspecto geral o comportamento da dívida do clube apresenta fatores positivos (redução de 1% de 2008 para 2009). No entanto, em 2009 este montante (R$ 277.820) é influenciado por fatores significativos, como: elevação da dívida fiscal em 10% de 2008 para 2009 (devido a impostos e contribuições de períodos correntes), aumento de 233% dos empréstimos e financiamentos de 2007 para 2008 e, ainda a estagnação do saldo do “Parcelamento Timemania”, que atinge a todos os clubes, em virtude da reduzida arrecadação através dos concursos realizados até o final de 2009.
SANTOS
Em 2007 a dívida total do Santos aumentou em aproximadamente 62% em relação a 2006, em decorrência das atualizações para adesão à Timemania e a aquisição de empréstimos e financiamentos junto a terceiros. A partir daí, o comportamento da dívida seria relativamente estável, não fosse o crescimento de 14% da dívida fiscal de 2008 para 2009 em virtude de impostos e contribuições correntes devidas até o final do último exercício.
ATLETICO MINEIRO
Metade das dívidas do Atlético Mineiro tem origem em compromissos pendentes há vários exercícios, que em 2007, foram integrados a Timemania, com o benefício de pagamento em longo prazo. A outra metade do montante da dívida do clube está praticamente concentrada em compromissos junto a instituições financeiras (empréstimos e financiamentos), mais
precisamente 41% do montante da dívida ao final de 2009. O total da dívida do Atlético/MG, cresceu 22% de 2007 para 2008 e 10% de 2008 para 2009. O que aparentemente é favorável, no entanto, há que se considerar o constante crescimento dos empréstimos e financiamentos (entre 14% e 16% a cada ano), o que denuncia a necessidade de melhoria quanto à geração de caixa em suas atividades para financiamento das mesmas, em maiores proporções, através de recursos próprios.
INTERNACIONAL
Com a sétima maior dívida, dentro os clubes analisados, o Internacional apresenta um aumento modesto no total de sua dívida ao longo dos últimos 4 anos. Mesmo representando um número expressivo, a consolidação e atualização de dívida para a adesão a Timemania, não promoveu grande impacto para os passivos do clube já que estes valores faziam parte da posição patrimonial de exercícios anteriores em outras rubricas de parcelamentos. O que se observa de relevante dentre os anos analisados é o aumento de 140% do passivo de empréstimos em 2009 com relação a 2008.
CORINTHIANS
O exercício de 2007 registrou a elevação da dívida geral do clube em aproximadamente 102%, em comparação ao exercício de 2006. Em relação aos demais exercícios é possível verificar um cenário global favorável, sobretudo, quanto aos empréstimos e às dívidas cíveis e trabalhistas.
Este cenário favorável não se repete quanto analisada a evolução da dívida fiscal, aproximadamente 67% de 2008 para 2009, em conseqüência do crescimento de compromissos correntes, especialmente relacionados a encargos sociais.
GRÊMIO
Com uma evolução que se aproxima dos 9% na dívida global de 2008 para 2009, o Grêmio apresenta a tendência da absoluta maioria dos clubes integrantes desta análise. A adesão ao “Parcelamento – Timemania”, em 2007, marcou o crescimento no volume geral de sua dívida, porém, como fator positivo, há que se considerar a redução de 18% nos passivos cíveis e trabalhistas entre os períodos de 2008 e 2009.
SÃO PAULO
O equilíbrio marca o comportamento das dívidas do clube, entre os anos de 2008 e 2009, exceto pela elevação em 19,5% dos empréstimos bancários adquiridos neste período. Em suas demonstrações contábeis o clube apresenta uma redução no nível geral de caixa, especialmente quanto às atividades operacionais que, fatalmente, motivaram a busca de recursos no mercado.
PALMEIRAS
Apesar de figurar apenas em décimo-primeiro lugar, na escala das dívidas do clubes presentes no estudo, o Palmeiras é o primeiro no quesito evolução das dívidas entre 2008 e 2009. O nível geral cresceu em 81% neste período, com destaque para os empréstimos bancários que, se analisados isoladamente apresentam um crescimento extremamente elevado, na ordem de 200% para o mesmo período.
CRUZEIRO
Com 84% de suas dívidas concentradas na esfera fiscal, o Cruzeiro se beneficia dos longos prazos concedidos pelas modalidade de parcelamentos existentes, para melhor administrar seus recursos. Mesmo sendo um dos clubes com o menor volume de dívidas registradas em 2009, há um fator de alerta quanto aos empréstimos obtidos junto a instituições financeiras. Esta rubrica cresceu em todos os períodos analisados e se, comparados os anos de 2006 e 2009, primeiro e último dentro do horizonte de análise, verificamos crescimento acentuado, de R$ 5 milhões para R$ 26 milhões.
CORITIBA
A diminuição da dívida de empréstimos e financiamento entre os anos de 2007 e 2008, em aproximadamente 30%, marcou o inicio da estagnação do nível geral das dívidas do Coritiba colocando-o, dentre os grandes clubes aqui analisados, como um dos detentores dos menores volumes de dívidas registradas ao final de 2009.
ATLÉTICO/PR
Exceção dentro do grupo de clubes integrantes de estudo, o Clube Atlético Paranaense é o único que obteve redução do nível geral de suas dívidas no ano de 2009 em comparação com o ano de 2008, 13% considerando as rubricas analisadas. Destaque para os empréstimos e financiamentos bancários, reduzidos em 47% no período.
Aqui termina a transcrição do estudo da Casual. Como informado no início, as dívidas aumentaram, o que é preocupante. Eu, pessoalmente, considero perigoso o fato das dívidas fiscais de muitos clubes terem aumentado, o que significa, em termos mais claros, que o princípio básico que norteou o acordo “Timemania” não está sendo cumprido: o pagamento em dia das obrigações correntes.
Se o fisco é justo ou injusto, se os valores são excessivos ou não, se as multas são absurdas ou não, simplesmente não vêm ao caso. Pessoas e empresas pagam seus tributos e quando não o fazem são processadas e têm bens arrestados. Por que deveria ser diferente com os clubes de futebol? Que foram fantasticamente beneficiados pelo acordo e pela criação da Timemania. Ora, depois disso o mínimo que a sociedade espera dessas entidades é que paguem em dia seus tributos correntes.
Estou certo que vários aspectos dessas informações serão abordadas nos comentários e em outros posts.
Fonte: Blog Olhar Crônico Esportivo - GloboEsporte.com
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