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NETVASCO - 28/03/2010 - DOM - 06:11 - Dorival Júnior fala sobre sua passagem pelo Vasco

Dorival Júnior comanda o time mais badalado nestes primeiros meses do ano. No Santos de Robinho, Neymar e Ganso, ele assiste, à distância, o drama do Vasco, clube que ajudou a levar de volta à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Feliz com os meninos da Vila, o técnico não disfarça sua mágoa pela forma como saiu do time carioca, e ainda acredita que "tinha muito a acrescentar".

Enfaticamente, ele contesta a versão de que sua saída do Vasco tenha acontecido apenas por divergências salariais. Na época, divulgou-se que Dorival deixara o cargo por divergências salariais, mas também por falta de estrutura (o clube tinha perdido o Vasco-Barra) e pela maneira como se conduzia a reformulação do elenco. Página virada, Dorival vive hoje um momento especialmente positivo. Ao contrário do Vasco.

Como foi a saída do Vasco?

DORIVAL JÚNIOR: Não gostaria de ter saído. Foi um trabalho difícil, complicado, e poderíamos ter acrescentado algo a mais. Muita coisa foi falada, houve desgaste grande. E a diretoria sabe que ficaria qualquer que fosse a circunstância. Também assumo a minha parcela de responsabilidade pelo desencontro. Só fiquei chateado, porque pareceu que foi o lado financeiro, que eu queria um centro de treinamento só para mim...

E por que nunca esclareceu?

DORIVAL JÚNIOR: Estava no Vasco há mais de um ano. Dava entrevista quase diariamente. Então, se não me conheceram em um ano, não seria em uma semana.

Tem vascaíno lamentando...

DORIVAL JÚNIOR: É pelo momento do time. Não seria o sentimento correto. Tenho muito respeito pelo Vagner Mancini e fica complicado comentar sua saída. Ele é ótimo profissional. Até o fim do primeiro turno estava tudo indo bem... É uma questão de encaixe e isso vai acontecer a qualquer momento. Futebol é dinâmico. Para nós, há um palmo de distância entre o céu e o inferno. Em uma semana a mão gira, pende mais para um lado. Na outra, muda de novo. Por isso, não se pode relaxar. Treinador é um administrador de problemas. E, mesmo com resultado positivo, tem o jogador que não foi a campo, tem o que foi substituído. É preciso manter todos motivados.

Profissão chata...

DORIVAL JÚNIOR: Um ano de futebol vale três de vida! (risos)

Conclusão de quem?

DORIVAL JÚNIOR: Minha! Por isso não vou muito longe. É preciso estar comprometido sempre. Se não, nem entre. O desgaste é grande.

Então você chega na sua casa e não desliga...

DORIVAL JÚNIOR: Não tem como. Admiro quem consegue sair do trabalho com um baita problema, chegar em casa e esquecê-lo. Quero conhecer esta figura! Queria perguntar para a mulher dele se é verdade. Deve ser um tremendo mentiroso (risos)!

Mas hoje sua mulher está feliz?

DORIVAL JÚNIOR: Não é porque ganho que estou tranquilo. Uma coisa é fato: ela é paciente. Acima do normal. A Valéria é o ponto de equilíbrio.

A melhor contratação do Santos foi a sua?

DORIVAL JÚNIOR: Não. Quem faz o espetáculo são os atletas. Não sei até onde o Santos pode chegar, mas este é um trabalho que vai deixar algo de bom no clube e no futebol brasileiro.

O Santos está chamando a atenção do Brasil inteiro.

DORIVAL JÚNIOR: Porque nosso futebol é dinâmico, vistoso. Temos velocidade e objetividade. A todo instante buscamos o campo adversário, fazer gols. O jogador não pode perder esta alegria de fazer brincando seu trabalho.

Por que os outros times não conseguem fazer isso?

DORIVAL JÚNIOR: Talvez em algum momento eu também necessite manter um resultado. Não quer dizer que o que dá certo aqui vai dar em outra equipe. Muita gente questionou a postura do Santos contra o Palmeiras (perdeu por 4 a 3, em jogo que teve expulsão de Neymar). Tivemos erros que foram corrigidos entre nós. É um time novo, jovem, que ainda vai cometer erros.

Que tipo de erros?

DORIVAL JÚNIOR: O relaxamento. É natural do ser humano.

E o deslumbramento?

DORIVAL JÚNIOR: É evitado com trabalho. São incentivados a buscar o máximo. E sabem que são eles mesmos que precisam se cobrar.

Como eles combinam as comemorações?

DORIVAL JÚNIOR: Não combinam. É no momento. Muitos já dançaram e nunca se falou nada. Ao contrário, elogiavam. Não vamos cortar isso porque teve gente que criticou. Esse grupo se gosta. O que mostram em campo é alegria. É brincadeira, respeitosa. Em poucos lugares, vi situação tão boa, com gente do bem.

Qual mais gostou?

DORIVAL JÚNIOR: Acho legal porque sai tudo coordenado, sincronizado... Se eu estivesse ali, sairia torto. Nunca fui muito assim, solto. (risos)

O Robinho é boa influência?

DORIVAL JÚNIOR: Ele se deu muito bem aqui. Como o Ronaldo, que no ano passado falou que era mais um louco chegando para um bando de loucos, no Corinthians, o Robinho chegou aqui como mais um moleque num grupo de moleques.

Neymar e Ganso têm chances de ir para a Copa?

DORIVAL JÚNIOR: Chances remotas, mas têm.

Seu time será desmontado depois do Paulista?

DORIVAL JÚNIOR: O presidente me garantiu que quer reforçar o Santos. Quer montar um grande time. E para isso tem de iniciar um trabalho, corrigi-lo e mantê-lo. Temos de manter os principais jogadores. Mas o assédio é grande. E sabemos que todo clube precisa vender. Acho, porém, que o Santos tem de se preparar. Não é só vender. Às vezes, a reposição fica mais cara do que a venda.

O que acha de os atletas irem para o exterior tão novinhos?

DORIVAL JÚNIOR: Uma sucessão de erros. Infelizmente não sabemos preparar, lapidar nem vender os jogadores. Somos afobados. De um modo geral, os clubes brasileiros não sabem preparar um atleta. Os trabalhos na categoria de base são deficientes, principalmente aqueles relacionados aos fundamentos do futebol. E nós, como clubes, não sabemos vender. Qualquer argentino vale mais do que US$ 10 milhões. Contamos nos dedos, nos últimos anos, quantos acima desta cifra conseguimos vender. Perdemos valor de mercado. Mandamos para fora a mercadoria quase bruta. Poderiam ser mais valiosos. Entregamos esses meninos a preço de banana.

Por que há em abundância?

DORIVAL JÚNIOR: É natural no Brasil. Jogador de futebol é erva daninha. Dá em qualquer lugar. Tenho inveja do Bernardinho. Ele é o melhor treinador de esporte do mundo. Com o José Roberto Guimarães, acrescentaram ao vôlei tudo o que eu gostaria que fizessem pelo futebol. Quando passaram a dar ênfase aos fundamentos, a trabalhar a base, dominaram o cenário mundial. Temos de montar equipes para fornecer jogadores para as equipes principais e não apenas para ganhar títulos na base.

Neymar e Ganso sairão cedo?

DORIVAL JÚNIOR: Deveriam ficar mais dois ou três anos. Neymar mais tempo, porque é mais jovem. Farei o possível para que isso aconteça.

Fonte: O Globo

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