Aos 39 anos, Euller ainda está na ativa como jogador de futebol, justamente no clube onde iniciou a carreira, o América-MG. Famoso pelo apelido "Filho do Vento", que recebeu ainda no clube de Belo Horizonte, o atacante disse ao R7 que merecia mais chances na seleção brasileira, onde jogou entre 2000 e 2001.
Na época, o time se preparava para a Copa de 2002 e Euller, que estava em grande fase no Vasco ao lado de Romário, teve algumas oportunidades com a camisa nacional. Mas, por "ter menos direito de errar", ele acabou ficando fora do Mundial conquistado pela equipe de Luiz Felipe Scolari - de quem garante não ter mágoas.
Euller também comentou sobre seu estilo de jogo, que rendeu a alcunha famosa (da qual se orgulha), agradeceu à lembrança de Romário , que já o considerou seu melhor parceiro de ataque na carreira, e deu dicas de como prolongar a vida como jogador. "Você tem que abrir mão de certas coisas", comentou.
O atleta, que já disse que quer ser dirigente, ainda falou sobre o ex-presidente vascaíno Eurico Miranda, que não deve servir como exemplo para Euller no comando de algum time.
Euller cabeceia na final da Copa Mercosul de 2000, contra o Palmeiras; jogador se consagrou pelo Vasco e foi até a seleção
Leia a entrevista:
Você considera que seu estilo de jogo mudou hoje? Em qual momento você percebeu que teria que mudá-lo, até por causa da idade e da questão física?
Eu não mudei meu estilo de jogo, ele é o mesmo. Sou um jogador de ataque que usa a velocidade para criar oportunidades para fazer gols. Sempre foi assim, desde o início da minha carreira. Embora eu tenha feito 280 gols, fui muito mais de "servir" do que de fazer. O que eu posso dizer é que o fôlego não é mais o de antes. Talvez eu aguente uma partida de 90 minutos e jogos semana a semana, mas fica mais difícil jogar seis partidas em um mês, onde você tem que jogar quarta e domingo. Até os testes físicos e de velocidade continuam excelentes. É muito mais a quantidade de jogos que a parte física.
E como é sua preparação hoje para manter sua velocidade?
Na verdade, lá atrás, abri mão de muitas coisas, como bebida, noitada, para prolongar minha carreira. Você tem que ter uma vida mais regrada, com descanso. E eu fiz isso desde o início, e hoje estou desfrutando. Os testes físicos comprovam isso.
E você daria essa dica para os jogadores que estão começando, para seguir seu exemplo?
Não só eu, mas muitos atletas experientes e treinadores dão a dica, cabe ao atleta aceitar ou não. É que os jovens têm muita energia para gastar, e muitas vezes pensam no "aqui e agora", e não no amanhã. E no futebol não dá, tem certas coisas que você tem que abrir mão, senão você chega aos 26 anos e sente o cansaço. Tem jogador que para aos 30 anos, e creio que esse é o auge de um atleta. Eu fui convocado para a seleção aos 29 anos, foi um dos meus melhores momentos.
Você se considera injustiçado por esse papel de coadjuvante, do cara que "serve" os companheiros e não o cara que marca mais gols?
De maneira nenhuma, nunca! Eu fui e sou feliz assim, tudo que conquistei foi desse jeito. Acho que o futebol perde muito por não ter esse tipo de jogador.
Romário já te apontou como o melhor companheiro de ataque da carreira dele. Você acha que ele te escolheu por você ser um jogador que mais "serve" do que faz gols?
Sim, o Romário é o matador e eu aquele que "servia". E eu escolhi o Vasco pensando nisso, que a minha característica poderia casar com a do Romário, e deu muito certo. E ele foi o melhor parceiro, aquele que casou com a minha maneira de jogar, com a tática dentro de campo. Talvez tenha sido o último time brilhante do Vasco. Vai ser difícil montar uma equipe tão competitiva quanto aquela, ainda mais com as características se unindo, principalmente a minha com a dele.
E o que você achou quando ele, quer teve parceiros famosos na Europa, te escolheu como o melhor?
Fiquei muito feliz e orgulhoso das palavras dele, porque foi uma aposta minha. Tive muitas propostas melhores do que o Vasco, mas apostei nesse "casal". E foi bom, porque estar bem no Vasco, ao lado do Romário, me rendeu uma convocação para a seleção, onde também fiz parceria com ele. Na minha primeira convocação, contra a Venezuela, joguei ao lado do Romário - ele fez quatro, eu um e o Juninho Paulista fez outro [pelas eliminatórias para a Copa de 2002, em agosto de 2000]. Ganhamos de 6 a 0. Foram várias lembranças boas, também do título brasileiro e da Mercosul [ambos em 2000, pelo Vasco].
Você acha que merecia mais chances na seleção?
Acho que sim. Não tenho o que reclamar, mas tem jogadores cujo direito de errar é menor do que outros, e eu estou nessa linha de raciocínio. Tem que errar o menos possível. Talvez, o fato de ter machucado e ficado fora da Copa América tenha prejudicado um pouco. Na Copa das Confederações, o Eurico [Miranda, presidente do Vasco] não liberou. Mas fiquei satisfeito de ter feito parte de um grupo campeão do mundo, em 2002. Até a última convocação antes da Copa, em um amistoso contra Portugal, eu estava dentro do grupo. Acho que poderia ter mais chances, até de ir para a Copa, mas faz parte.
E na época o treinador era o Felipão, que foi seu técnico no Palmeiras. Por que você acha que ele não te levou? E por que você acha que estava nessa linha de "jogadores que tem menos direito de errar" na seleção?
Porque alguns jogadores podem usufruir desse benefício, erram aqui, erram ali, mas sempre serão convocados. Outros, não, têm que estar 100% todas as convocações. Coisa normal do futebol, nos clubes é assim também - uns podem mais, outros menos. E isso não vai mudar. Sobre o Felipão, não posso dizer [porque não foi à Copa] porque não perguntei a ele. Mas acho que foi muito além da convocação, talvez outras coisas, nomes que surgiram de última hora. Mas não guardo mágoa, tenho contato com ele até hoje.
E como foi depois da Copa? Te abalou um pouco?
Não, pelo contrário, foi excelente. Pude fazer um contrato muito bom no Japão, me deu uma condição de estabilidade de vida muito boa. Mesmo que sejam poucas as oportunidades, temos que ser gratos. De alguma coisa se teve proveito.
Como você acha que conduziu sua carreira? Alguma decisão que se arrepende?
Em todos os clubes que eu passei, alguma coisa ficou. Mas se você olhar para trás, não caminha para frente. O mais importante é que em todos eles fui vencedor, ganhei títulos e, mais importante de tudo, me tornei ídolo. Isso foi importantíssimo.
Como foi sua relação com o Telê Santana, técnico na época que você chegou ao São Paulo?
O Telê foi o meu pai no futebol, muito mais que um técnico. Devo muito ao Telê a minha condição de continuar jogando. Fui para o São Paulo como ponta-direita e ele me ajudou a jogar por dentro também. E ele teve essa paciência de fazer isso comigo, até mesmo no CT, quando não tinha ninguém lá. Me ajudou muito fora de campo, me disciplinando, dando conselhos. E ouvi tudo.
O Eurico Miranda foi um personagem polêmico no Vasco. Como você o avalia como presidente?
Ele se resume dessa maneira: é um excelente presidente para o clube que dirige. Faz tudo, se dedica ao máximo, nem que isso tenha que fazer mal para alguém. O que eu não acho certo, estou dizendo como ele é. Acho que você pode fazer o melhor para o clube sem ter que afetar outras pessoas.
O que você acha sobre o o famoso apelido "Filho do Vento"?
Gosto muito, é uma marca registrada. Tenho três núcleos de escolinhas com esse nome. E o Brasil me conhece como "Filho do Vento".
Perto da aposentadoria no futebol, Euller já mira carreira de técnico e dirigente
Já com 39 anos, Euller, o "Filho do Vento", começa a pensar mais no seu futuro fora do futebol do que como jogador, apesar de ainda ser importante para o América-MG, clube onde iniciou a carreira ainda no fim década de 1980 e para o qual retornou, em 2008, depois de passagens vitoriosas por diversos times nos últimos 20 anos.
E o futuro, para Euller, continuará no futebol. Como treinador, "não nos próximos anos", e dirigente. O atacante disse que conversará com o presidente do América, Marcus Salum, para definir se seguirá no clube de Belo Horizonte depois que encerrar a carreira. A outra opção é o Atlético-MG, onde Euller também foi ídolo.
- Quero conversar com o Salum sobre a possibilidade de um cargo futuro. Estou me preparando, fiz meu curso de treinador e quero fazer um de gestão esportiva para abrir espaços nos clubes. Vou falar também com o Alexandre Kalil [presidente do Atlético-MG], para também estar à disposição. E o que for melhor é o que eu irei buscar.
Segundo o atleta, a carreira de técnico só começará depois que a carreira de futebol "esfriar" - antes, quer passar mais tempo com a família. E a aposentadoria está planejada para o fim do ano, mas pode mudar.
- [A carreira de jogador] Está em aberto. Tenho contrato com o América até dezembro e pretendo encerrar, mas só Deus sabe o futuro. Virar treinador, agora, não. Quero mudar meu ritmo de vida após terminar de jogar, com mais tempo para a família, com finais de semana, e como treinador isso não é possível. Penso em ser treinador mais para frente, talvez daqui uns três anos.
Fonte: R7