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NETVASCO - 08/03/2010 - SEG - 11:20 - Vasco sul-africano quer enfrentar o original

Fundador do clube e vascaíno até no nome, Marcelino Vasco da Nóbrega acreditou que seu coração não aguentaria a emoção. Receoso de não “dobrar” o Cabo da Boa Esperança outra vez, preferiu ficar em casa. A irmã Yvonne e os sobrinhos zarparam para a aventura e se juntaram a outros cinco mil sul-africanos descendentes de portugueses, sob sol de 38 graus. Espremidos nas acanhadas arquibancadas de madeira e ferro do lotado Estádio Parow Park, superaram toda sorte de tormentas para festejar a vitória do Vasco da Gama, da Cidade do Cabo, sobre o Black Leopards, de Makhado, por 2 a 1, ontem, na final do Campeonato Sul-Africano da Segunda Divisão. No ano do 30ª aniversário de fundação, inspirado na admiração de Marcelino pelo Vasco brasileiro, o time da Cruz da Malta daqui descobriu seu caminho para as Índias, com o acesso inédito à Premier Soccer League (PSL), a lucrativa elite do futebol da África do Sul.

Como o Vasco original, o Vasco deste lado do Oceano Atlântico é um clube da colônia portuguesa. Há 40 mil descendentes de primeira e segunda gerações só na Cidade do Cabo, local de grandes lembranças para os navegadores portugueses do século XV. Só que essa turma do século 21 perdeu o sotaque faz tempo. O inglês é o idioma principal, até nos cânticos da tímida torcida. “Let’s go, let’s go Vasco!” (Vamos, vamos Vasco!) foi o mais animador que se ouviu. Falar em português era privilégio de poucos, como o angolano Virgílio Gamba.

— O Vasco é o único time com descendência portuguesa por aqui. Por isso, vim torcer por eles — justificou o garçom.

A vitória começou a se materializar aos 34 minutos do segundo tempo, quando o atacante ugandense Geofrey Serunkuma foi derrubado na área. Pênalti que o capitão do Vasco, Keenin Carlo Lesch, bateu, com categoria, deslocando o goleiro Gwanya, para marcar o gol da vitória e do título.

Antes, aos 27 minutos do primeiro tempo, o apoiador Bradley August havia feito 1 a 0, de cabeça. Mas, na saída de bola, Bobe cruzou na área, o barrigudo goleiro Omony titubeou e Grant empatou.

O 1 a 1 (placar do primeiro jogo) levaria a decisão para os pênaltis. Mas o capitão Lesch pôs a nau vascaína na rota.

— Lutamos muito, demos o máximo para a realização deste sonho — festejou o capitão, segurando a taça.

Agora, o Vasco terá de lutar para se estabelecer no novo território da elite. Fundado por Marcelino Vasco em 26 de janeiro de 1980, cinco anos depois de ter assistido a uma partida do original contra o Flamengo, no Maracanã, o clube depende de 31 conselheiros para pagar a folha de apenas 270 mil rands (cerca de R$ 64,5 mil). Nem a metade do que ganha o atacante Dodô, no Vasco carioca.

— Como a Segunda Divisão paga 150 mil rands mensais (R$ 35,9 mil), nosso grupo, todo mês, rateia 120 mil rands (R$ 28,7 mil). Não posso falar quando dou porque minha mulher me mata se souber — contou Mário das Neves, o atual presidente, aliviado por segurar a placa que simbolizava o cheque de 300 mil rands (R$ 72 mil) que a PSL oferece ao campeão da Segundona.

Com o acesso, o clube vai se tornar espécie de novo rico. A partir de agosto, receberá 1 milhão de rands (R$ 239,3 mil) por mês da PSL. Até lá, a sacolinha de Mário e outros 30 conselheiros vascaínos continua a passar.

— Vamos fazer um planejamento para não cair. Seria uma honra ir ao Brasil enfrentar o “big” Vasco! — admitiu, em inglês, o técnico e ex-jogador, Carlos das Neves, irmão do presidente, que faz coro. — Seria incrível fazer dois jogos com o Vasco brasileiro. Quem sabe, um aqui e outro no Rio de Janeiro.




Fonte: O Globo

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