Se a Costa do Marfim vai à Copa do Mundo com a melhor geração de sua história deve muito a um brasileiro. Joel Carlos, nascido em São Gonçalo, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, fala dos atuais ídolos do país como um professor que relembra antigos alunos. Depois de cada nome, solta um breve comentário com a intimidade de quem os conhece há tempos.
O atacante Kalou, hoje no Chelsea, "sempre foi marrento e indisciplinado", entrega. Já o volante Yaya Touré, titular no Barcelona, "era muito sério, o primeiro a chegar e a sair". Um a um, Joel vai citando, cheio de orgulho, todos os meninos que passaram por suas mãos e hoje brilham no futebol internacional.
Além de Kalou, Yaya Touré e de seu irmão Kolo Touré, há ainda o volante Zokora, jogador que mais vestiu a camisa da seleção, o goleiro Barry e o meia-atacante Dindane, entre tantos outros. Pelo menos metade da atual seleção aprendeu um pouquinho com Joel. Por isso, no dia 20 de junho, quando Brasil e Costa do Marfim se enfrentarem pela segunda rodada do grupo G da Copa do Mundo, ele já escolheu de que lado vai estar.
Vou torcer pela Costa do Marfim, claro. Se eles vencerem, o meu trabalho vai aparecer, quem sabe o Brasil passa a me valorizar. Se o Brasil ganhar tudo bem, meu coração vai ficar feliz, mas tenho que apoiar o país que me deu uma oportunidade - justificou.
Joel começou no futebol como jogador e chegou a ser treinado pelo xará Joel Santana em seus tempos de júnior do Vasco. Depois rodou pelo Brasil até decidir encerrar a carreira com apenas 27 anos. Imediatamente aceitou um convite para trabalhar como técnico em Burkina Faso e três anos depois se mudou para a vizinha Costa do Marfim. Está por aqui há 17 anos e desde então só voltou ao Brasil uma vez.
Joel Carlos não trabalhou com o ídolo Drogba, mas diz que ele não é craque
Ele começou a revelar jogadores nas categorias de base do Asec Mimosas, o clube mais popular do país. Depois, foi para uma academia de futebol particular de Abidjan, "a melhor do oeste da África", ele garante. Um complexo com ótimos campos de futebol, melhor que muitas escolinhas do Brasil. Por isso, é pra lá que os jogadores mais talentosos querem ir e é para lá também que vão os olhares de clubes e empresários europeus.
Apelidos brasileiros para os jogadores marfinenses
São tantos meninos, que Joel criou o costume de dar apelidos brasileiros a eles. Dois já ganharam fama no futebol europeu: Gervinho, do Lille, um dos goleadores do Campeonato Francês, e Romaric, do Sevilha, da Espanha.
- O Gervinho eu peguei bem garoto, tinha só 25 quilos. Como já havia outro Gervais e ele era o menor da turma, coloquei esse apelido de Gervinho. Ele gostou, todo mundo gostou, tanto que hoje ele usa até na camisa da seleção. O Romaric fui eu que apelidei também, porque ele tinha um estilo parecido com o do Romário, meio marrento. Para ficar um nome mais daqui, coloquei Romaric - diverte-se Joel.
Das principais estrelas da Costa do Marfim, ele só não trabalhou com o atacante Didier Drogba, que foi ainda adolescente para a França.
- Drogba é o maior ídolo aqui, porque sabe fazer gol, mas não é habilidoso, para mim não é craque. O Eto'o, por exemplo, é muito melhor que ele. E aqui na Costa do Marfim o grande jogador é o Dindane. Esse sabe o que fazer com a bola, pode decidir o jogo em um lance - apontou.
Mesmo com tantos elogios aos seus ex-alunos, Joel não crê em uma vitória da Costa do Marfim diante do Brasil no Mundial. Para ele, a eliminação ainda nas quartas de final da Copa Africana, em janeiro, mostrou as deficiências de uma equipe com pouco entrosamento e individualismo de sobra.
- Eles são fortes fisicamente e sabem o que fazer com a bola no pé. A Costa do Marfim sem dúvida tem os melhores jogadores da África, mas mesmo assim não é o melhor time. Falta conjunto, um futebol mais coletivo. Sempre mostrei a importância do toque de bola e para ir longe na Copa eles precisam jogar como eu ensinei - brincou.
Você pode conhecer um pouco mais sobre a história de Joel Carlos em uma reportagem especial sobre a Costa do Marfim que vai ao ar neste domingo, no "Esporte Espetacular".
Fonte: GloboEsporte.com