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NETVASCO - 22/12/2009 - TER - 18:05 - Presidente Lula aguarda visita do Vasco campeão da Série B a Brasília Após participar do Prêmio Brasil Olímpico, nesta segunda-feira, o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, concedeu uma entrevista exclusiva à Rádio FM O Dia nesta terça. No bate papo descontraído, Lula voltou a pedir incentivo às crianças e participação de todas as prefeituras do Brasil para criar atletas para os Jogos Olímpicos do Rio.
Lula falou também que garantir a paz e a tranquilidade no Rio de Janeiro durante os Jogos será a primeira grande medalha de ouro do Brasil.
Bem-humorado, o presidente pouco falou de política e agradeceu por isso.
"Olha, Mauro, eu quero te agradecer, quero agradecer aos ouvintes da FM O Dia e dizer que é a primeira entrevista, na minha vida, desde 1980, em que eu não falo de política... às vezes as pessoas acham que político só entende de política. Eu na verdade, gosto de discutir outras coisas, de discutir os assuntos que o povo discute".
Confira a entrevista de Lula à FM O Dia.
O Dia: Eu estou tendo o prazer de estar sentado aqui à mesa com o Presidente Lula, batendo um papo aqui amigável com ele, rapaz. Olha, ele viu a foto do jornal O Campeão, em que ele foi o destaque na primeira página, ao lado do Adriano e ficou empolgadíssimo. Agora, eu acho interessante, o Presidente é vascaíno e adora o Adriano, rapaz! Está virando a casaca, Presidente?
Presidente: Não, não, eu não estou virando a casaca, não. O problema é o seguinte: é que o Vasco foi campeão da série B, ficou de ir a Brasília - até ontem eu encontrei com o Roberto Dinamite – e não foi, e o Márcio Braga me ligou dizendo “Olha, o Flamengo... eu vou querer visitar o senhor aí...” e foi lá ele e o Adriano. Foi legal, porque o Flamengo é um time que, embora eu seja torcedor do Vasco, o Flamengo é um time que todo brasileiro termina gostando do Flamengo, porque o Flamengo é o que mais representa a cara do Rio de Janeiro, do futebol...
O Dia: Agora, o senhor pegou na taça mas não quis vestir a camisa, não é Presidente? Eu vi muito bem, lá, o senhor deu aquela...
Presidente: Não, vestir a camisa já era demais para mim. Porque, eu, de vez em quando, eu vejo o jogador correndo e beijando o distintivo da camisa, tem jogador que beija cem distintivos por ano. Eu, na verdade sou corintiano em São Paulo e sou vascaíno no Rio, há muito tempo e é importante lembrar, ô Mauro, que eu virei vascaíno em 1958, 1957, na verdade, por causa do Belini. Eu vi o Vasco em uma decisão, não sei se contra o Flamengo ou contra o Botafogo e tinha o Coronel, tinha o Orlando, tinha o Belini e o Belini depois virou capitão da Seleção Brasileira e por conta dele eu virei vascaíno.
O Dia: Eu tinha a curiosidade de saber porque. O senhor, corintiano, virar vascaíno, é complicado, né? Agora, Presidente, a gente estava conversando aqui, fora do ar sobre o Adriano e o Ronaldo. O senhor dizendo que os dois, o senhor inclusive falou isso para o Adriano, que se os dois se cuidarem, se os dois estiverem mesmo a fim de disputar a Copa do Mundo eles têm condições, mas precisam se empenhar para isso. Como é que a cabeça do senhor em relação a esses dois jogadores?
Presidente: O problema é o seguinte Mauro Leão. Teoricamente, são dois jogadores importantes. Agora, você sabe que para convocar para a Seleção não depende apenas da vontade do técnico. Eu acho que até agora o Dunga tem feito um trabalho sério, mas é preciso que os jogadores ponham na cabeça que depende única e exclusivamente deles. Ou seja, se eles estiverem bem, jogando o que eles sabem jogar, dificilmente, qualquer que seja o técnico, deixará de convocá-los. Agora, se eles acharem que podem relaxar, que não precisam treinar, que não devem estar bem fisicamente, ou seja, e devam ser convocados pelo nome... se bem eu conheço o jeito de trabalhar do Dunga, não serão convocados. Então, como o Adriano é um menino novo e o Ronaldo está com 32 anos, eu estou vendo gente jogar com 36, 37, 35, ou seja, se eles se prepararem e colocarem isso quase como uma profissão de fé, se dedicarem, treinarem e marcarem os gols que eles sabem fazer, eu penso que dificilmente eles não seriam convocados. Agora, é por isso que eu digo, depende, Mauro, única e exclusivamente deles.
O Dia: Agora, Presidente, o senhor falou em idade, né? O seu Corinthians, por exemplo, tem lá o Ronaldo, contratou o Yarlei, está contratando o Roberto Carlos. Já contratou um time de veteranos, né? O senhor acha que vai dar para o Corinthians, com essa “garotada” ?
Presidente: Olha, se contratar veterano e tiver o equilíbrio entre os veteranos e o grupo jovem, ou seja, você pode estabelecer um equilíbrio no time, entre a experiência e a juventude e disputar a Libertadores e ganhar.
Eu queria te dizer que em 1957 o São Paulo foi campeão paulista porque levou daqui um senhor chamado Zizinho, o nosso querido mestre Ziza, que deu um equilíbrio ao São Paulo. Queria lembrar, também, que nos anos 70, o São Paulo levou o Gérson, já quase no final de carreira, ou seja, montou um time com dois ou três jogadores experientes e um grupo de jogadores jovens e o São Paulo teve uma década muito exitosa.
Nós vimos agora o que o Pet fez no Flamengo, ou seja, o Pet, no fundo, no fundo, foi quase o homem que deu o título ao Flamengo, porque marcou os gols impossíveis, dois gols de escanteio, gols olímpicos. Então, tem essas coisas. Se o Corinthians está levando algumas pessoas com mais idade, por conta da experiência, jogadores que já disputaram a Libertadores, é importante levar. Agora, é importante ter a clareza de que um jogador de 37 anos não consegue correr 90 minutos disputando uma partida com jovens de 22 anos. Então, se você tiver o equilíbrio de colocar esses jogadores no tempo certo, para jogar a quantidade de minutos certa, você pode tirar proveito da idade, por conta da experiência. Agora, não basta ter experiência, senão você contrataria o Pelé, você contrataria...ou seja, é preciso que o cara tenha idade, tenha profissionalismo e esteja preparado para aguentar jogar uma partida de 90 minutos.
O Dia: Eu, volta e meia vejo fotos do senhor batendo uma pelada lá na Granja do Torto, o senhor é bom de bola, Presidente?
Presidente: Não, eu nunca fui bom de bola, tem duas coisas que eu não aprendi na vida: jogar bola e dançar. Eu tento dançar, mas não tem jeito, não. Não tenho...
O Dia: Um forrozinho, não, não vai?...
Presidente: Não, não, dançar, eu danço. Afinal de contas, dá para arrastar o pé, mas eu tenho, tenho, eu fico olhando as pessoas que sabem dançar...
O Dia: Aquele pé de valsa...
Presidente: Eu fico olhando as pessoas que dançam bem, eu fico com um certo ciúme...e jogar bola, eu joguei bola durante toda a minha adolescência, eu joguei bola parte da minha juventude.
O Dia: Qual posição que o senhor gostava?
Presidente: Eu jogava de meia-direita. Eu era mais ou menos o que o Didi era para a Seleção brasileira...
O Dia: ...dava aquela “folha seca”...
Presidente: A minha “folha” normalmente era molhada, mas de qualquer forma, eu achava que eu jogava razoavelmente bem, porque quando você joga sempre no primeiro time, do time em que você joga, a vaga tem...tem primeiro quadro e tem segundo quadro. Como eu jogava sempre no primeiro, eu achava que eu era bom. De vez eu quando eu levava a roupa do time para lavar em casa...
O Dia: ...o senhor era o dono da bola?
Presidente: Não, eu não era do dono da bola, mas eu levava as camisas para lavar em casa, então isso me dava a garantia de mais uns três jogos como titular, então...
Jornalista: Presidente, deixe eu lhe perguntar, o senhor, por exemplo, ontem o senhor foi personalidade olímpica na festa lá, o senhor emocionou a galera com o seu discurso, o senhor anda fazendo uns discursos bonitos, agora, sempre emotivos. O esporte mexe muito com o senhor, não é? É por aí que o senhor vê a salvação da juventude, Presidente?
Presidente: Olhe, eu tenho dito aos meus companheiros governadores e ainda ontem eu conversava com o Sérgio Cabral e conversava com o Prefeito... Nós, nós temos a obrigação política, agora, de mobilizar o Brasil para ficar quatro anos no mesmo estado de emoção que nós estávamos quando nós conquistamos as Olimpíadas. Ou seja, nós temos que ir a esses morros aqui do Rio de Janeiro, nós temos que ir à periferia e tentar cadastrar todo jovem, toda criança que quando chegar nas Olimpíadas esteja em uma idade de disputar uma medalha ou de disputar alguma coisa no esporte. Por que? Porque nós precisamos despertar nas pessoas a paixão pelo esporte e pela cultura, que são as duas coisas que podem, mais rapidamente, motivar a criança a não entrar em jogada que não presta.
O Dia: O senhor ontem usou um exemplo, o senhor disse que deveria se pegar todos esses garotos que são brigões na comunidade, na favela, pegar esse garoto que gosta de bater em todo mundo e colocá-lo para treinar boxe, que é para ele se tornar um campeão, achei interessante isso.
Presidente: Isso é uma brincadeira que eu faço sempre. Você tem menino aí, na rua... eu, quando era moleque, a gente fazia guerra de pedra, guerra de mamona, a gente brigava vila contra vila, ou seja, você tem que pegar esses que gostam de brigar, eles podem fazer judô, podem fazer karatê, podem fazer boxe... eles podem praticar um esporte e depois brigar à vontade, para disputar uma medalha. Se essa meninada for motivada pelo esporte, pela cultura, Mauro, nós temos a chance de recuperar 99% dessa meninada. O que nós precisamos aproveitar agora é o clima das Olimpíadas, o clima da Copa do Mundo, o clima da Copa das Confederações e motivar as cidades brasileiras. Cada prefeito deste país tem a obrigação de criar uma espécie de cidade olímpica e despertar na meninada da cidade o desejo de praticar esporte. O momento é agora, é tentar envolver. Eu disse ontem ao Nuzman que todas as Federações e Confederações terão que nos apresentar um plano de metas, ou seja, o que ele vai fazer até 2016.
O Dia: O senhor vai cobrar isso...
Presidente: Veja, eu... não apenas cobrar, mas eu penso que nós precisamos trabalhar para que isso aconteça.
Você imagine se cada cidade brasileira começar a trabalhar a questão do esporte, despertar na juventude da sua cidade a prática do esporte. Imagine se isso acontecer em quase seis mil municípios brasileiros. Imagine se isso acontecer na periferia do Rio, na periferia de São Paulo, na periferia de Recife, de Salvador...O que a gente não vai ter de produtos esportivos e de gente qualificada! E nós estamos dispostos a fazer os investimentos necessários, Mauro. Eu não considero isso gasto do governo, não, eu considero isso investimento, porque se você recupera um menino desses e o transforma em um esportista, você está ganhando uma coisa extraordinária para o nosso País. É por isso que eu sou apaixonado pelo esporte, é por isso que eu gosto do esporte, porque eu acho que o esporte é uma das grandes oportunidades que nós temos de garantir que o Brasil volte a ser um país em paz.
O Dia: O senhor já deve ter respondido essa pergunta umas cinco mil vezes, o senhor já deve estar até... mas é um assunto que não tem como a gente fugir: a questão da segurança, Presidente, especialmente no Rio de Janeiro, para a Copa do Mundo, para as Olimpíadas, o senhor está sentindo que há um empenho dos governadores, das autoridades, para que seja resolvido isso?
Presidente: Olhe, nós temos a experiência dos jogos Pan-Americanos aqui no Rio de Janeiro, que foi um Pan-Americano para causar inveja a qualquer dos jogos Pan-Americanos já realizados no mundo. Eu não tenho dúvida nenhuma de que nós poderemos fazer uma Olimpíada aqui ou uma Copa do Mundo, com segurança total e absoluta. Primeiro, pela paixão que o povo brasileiro tem pelo esporte, segundo porque eu tenho convicção de que as pessoas vão se envolver, de corpo e alma, na realização desses dois grandes eventos. Terceiro, porque nós estamos fazendo muitos investimentos na questão da segurança, ou seja, com o Pronasci, nós colocamos quase R$ 6 bilhões para a gente cuidar da segurança, para qualificar os nossos policiais, com o Bolsa Formação, ou seja, garantindo ao soldado que ele receba uma ajuda de custo extra para ele poder estudar, ficar mais qualificado, utilizar mais a inteligência... E, aqui no Rio de Janeiro nós já temos quatro favelas em que, praticamente, se vive em paz, hoje.
Eu acho que até as Olimpíadas nós vamos ter o Brasil em uma situação infinitamente melhor, do ponto de vista econômico, nós vamos ter o Brasil infinitamente melhor, do ponto de vista educacional e nós vamos ter o Brasil infinitamente melhor, do ponto de vista da segurança pública. Eu estou convencido disso. Nós temos seis anos pela frente, nós temos projetos, nós temos governadores com disposição de fazer e nós vamos conquistar isso. Isso vai ser uma vitória, vai ser a primeira medalha de ouro que nós vamos conquistar, que é a gente garantir paz e tranquilidade no Rio de Janeiro.
O Dia: Presidente, dando uma voltada aqui no assunto aqui... o senhor falou que, falando de futebol, o senhor falou que no seu time o Adriano joga, o Ronaldo joga, e ontem o senhor utilizou uma metáfora, né, ao comentar a questão da sucessão, dizendo que dois Tostões ou um Coutinho e um Tostão não poderiam jogar, o senhor fazendo uma alusão à candidatura do Aécio e do Serra. Como é que o senhor conseguiu dividir, o que o senhor arrumou ali, na hora, que o senhor saiu pela... Qual a jogada que o senhor fez ali para sair?
Presidente: Veja, é porque eu fico olhando como é que é montado um time de futebol. Um time de futebol, você tem que ter o lateral direito, o lateral esquerdo, você tem que ter o central, você tem que ter os meias-armadores, você tem que ter o centroavante, ou seja, você não pode colocar um time... Muitas vezes, você vê um técnico substituir no final, no desespero, colocar três atacantes. Não dá certo, eles trombam entre eles, porque todos eles querem ocupar o mesmo espaço. Se você pega dois Garrinchas e coloca em campo, um vai ficar sem bola, porque o outro vai ficar com a bola o tempo inteiro. Se você colocasse dois Peles, ia ficar com um Pelé só, porque se os dois fossem fazer as mesmas coisas, disputar o mesmo espaço de campo, eles trombavam. Por isso é que é legal o futebol: você ter um em cada posição. Cada um sabe o que fazer na sua posição. Se você colocar muita gente boa dentro de um time, jogando na mesma posição, não dá certo. Senão, seria fácil você colocar o Pelé no gol, seria fácil você colocar o Tostão para jogar de beque central, seria fácil... Não dá certo. Cada um tem uma tarefa dentro de campo.
Jornalista: Então, o José Serra não seria um (incompreensível) porque (incompreensível)
Presidente: Ah, eu acho... Não, eu acho que não seria mesmo, veja, porque o time não é montado assim. Às vezes, você tem um cara extraordinariamente bom de bola, mas na hora de você escalar, você escala um cara que, taticamente, vai cumprir uma função melhor para o time. Ou seja, não basta o cara ser bom de bola. O cara tem que ser bom de bola, mas o cara tem que, primeiro, saber trabalhar em equipe, saber que jogo não se ganha sozinho e saber que os onze em campo, cada um tem uma tarefa e cada um tem que participar da vitória. Se você pega uma pessoa e acha que sozinha vai resolver, não resolve. A história do futebol está cheia disso, está cheia. Então, o que nós precisamos é ter cada macaco no seu galho.
Jornalista: Isso. Presidente, por falar em tática, o Bebeto, o senhor se lembra do Bebetinho, que jogou... foi companheiro do Romário, lembra?
Presidente: Lembro, lembro.
Jornalista: O Bebeto assumiu o América, e o Bebeto disse que vai usar o exemplo do Dunga, que saiu do "nada", nunca foi treinador, nunca treinou time nenhum de futebol. O Dunga assumiu a Seleção brasileira e fez sucesso. E o Bebeto, agora, assumiu o América. Eu queria fazer duas perguntas para o senhor. Primeira, o senhor gosta do Dunga, como treinador? E a segunda, o senhor acha que o Bebeto pode dar certo, também, como técnico?
Presidente: Olha, a história do futebol está cheia de exemplos extraordinários. Você se lembra que na Copa de 1966, o Gerson foi considerado covarde na Copa de 66, e na Copa de 70 o Gerson foi considerado herói porque ele se recuperou. O Dunga, na Copa de 90 foi crucificado, jogaram em cima das costas do Dunga a responsabilidade de o Brasil ter sido desclassificado. Em 94, o Dunga foi transformado em herói porque foi o capitão da Seleção brasileira que ganhou a Copa do Mundo nos Estados Unidos. Ora, o Dunga tem uma coisa importante em quem quer liderar um time: personalidade. Você não consegue liderar um conjunto de pessoas, todos vedetes, todos craques, todos ganhando muito dinheiro, se você não tiver personalidade. E isso, o Dunga demonstrou que tem. Segundo, o Dunga demonstrou na Copa América, por exemplo, na Venezuela, em que nós ganhamos da Argentina de 3 x 1, o Dunga demonstrou muita personalidade quando o Kaká, por exemplo, não quis participar, ele não convocou outros medalhões da Seleção brasileira, montou um time mais “arroz com feijão”, e ganhou a Copa América. Então, eu acho que o Dunga tem uma coisa que eu acho importante, ele tem personalidade e tem liderança sobre a equipe que ele está convocando. Você nunca... Se você, Mauro Leão, fosse o técnico de uma Seleção, você nunca convocaria um jogador que fosse rebelde contra você e que não estivesse sujeito a cumprir as táticas que você estabelecesse para o time. É por isso que o Dunga gosta tanto do Robinho, é por isso que ele coloca alguns jogadores que a gente acha que não deveriam estar mais lá, mas é porque os jogadores estão dispostos a cumprir.
Então, eu acho que o Dunga é um técnico vencedor. Basta que você pegue todos os técnicos famosos que passaram pela Seleção brasileira e veja quantos jogos eles ganharam e veja quantos o Dunga ganhou. Ou seja, o Dunga tem um saldo positivo muito importante. Segundo (terceiro), eu acho que o Bebeto, veja, esses meninos todos aprenderam muito, foram 20 anos, 25 anos jogando bola, trabalhando com técnicos diferentes em vários lugares do mundo, na Seleção brasileira. Portanto, esses meninos aprenderam. Agora, o técnico tem que ter o domínio psicológico e moral do time. Se não tiver, não é técnico. Ou seja, se o técnico não tiver disposição de chegar no vestiário, dar uma dura no jogador, tirar o jogador, colocar outro jogador, ele não será técnico muito tempo. Então, eu acho que o Bebeto, pelos conhecimentos futebolísticos que ele tem, ele pode ser técnico. Agora, é preciso ter personalidade e liderar, para ser técnico, eu estou convencido disso. Agora, que todo mundo sabe que o Bebeto foi um grande jogador de bola, todo mundo sabe, desde o Vitória, na Bahia, até o Flamengo. Eu acho que o Bebeto pode.
O Dia: “Cracasso” de bola, não é? E por falar em craque, Presidente, e a Marta? Quarta vez eleita, pela quarta vez consecutiva eleita a melhor jogadora do mundo...
Presidente: Olhe, eu, sinceramente, se eu fosse presidente do Corinthians, eu contratava a Marta para jogar bola para o Ronaldão. A Marta, a Marta é estupenda. Eu vi a Seleção brasileira jogar contra o México no último domingo, lá no Pacaembu. Primeiro, eu fiquei impressionado porque o Pacaembu lotou, coisa que não tinha lotado em jogos do Corinthians. Segundo, as meninas estão jogando futebol melhor do que os homens, ou seja, é uma coisa mais brilhante. Tem uma tal de Cristiane...
O Dia: Joga muito, não é?
Presidente: Joga muita bola, gente!
O Dia: O senhor viu a bola que ela deu para a Marta fazer o gol?
Presidente: Eu vi, eu vi o último gol, aquela... Aquela menina poderia ser contratada pelo Corinthians imediatamente, porque ela não deve nada a nenhum dos melhores jogadores que eu já vi jogar. Ela tem domínio de bola, ela joga de cabeça erguida, ela consegue driblar para a frente. Eu acho fantástico, eu fiquei entusiasmado com a Seleção brasileira. E a Marta, a Marta é genial. Eu acho que a Marta é daquelas coisas que a cada século aparece uma.
Jornalista: Agora, elas reclamam muito da falta de apoio, Presidente, que não têm apoio, que elas só aparecem quando tem jogo da Seleção. O futebol feminino não tem aquela força, não tem aquele apoio. Tanto que elas sobrevivem jogando no exterior. O senhor tem, assim, algum plano, Presidente, para essas meninas?
Presidente: Sabe o que acontece? É que as diretorias dos times de futebol ainda pensam pequeno. Veja, porque a torcida de um time de futebol não é só o homem, é a mulher, mais que a mulher, é a família. Então, se nós tivéssemos uma diversidade maior de coisas para ofertar à população, à opinião pública... Por exemplo, nós já tivemos os clubes de futebol, antigamente, tinham remo, tinham basquete, tinham judô, tinham boxe, tinham um monte de coisas, cada time tinha uma série de atividades esportivas. Hoje, eles ficaram apenas com o futebol. Ora, o futebol feminino bem jogado leva gente ao estádio e é rentável. Eu acho que todos os times brasileiros deveriam copiar o que o Santos está fazendo. O Santos contratou grande parte das melhores jogadoras e montou um time para disputar o campeonato internacional, vai disputar a Libertadores, se não me falha a memória. Ou seja, todos os times deveriam ter um time de futebol profissional e deveriam ter um time de futebol profissional feminino...
O Dia: Também acho.
Presidente: ... porque isso permite que o marido vá ao campo na quarta-feira ver o seu Flamengo jogar, o seu Botafogo, o seu Fluminense, o seu Vasco, o seu América – do Romário e do Bebeto, mas que a mulher vá na quinta ver o jogo da Marta, da Cristiane e de outras mulheres. Nós temos que ofertar e ver como espetáculo. Nós temos que ter oferta de programação e de espetáculo para as pessoas poderem ir ao campo.
Jornalista: O senhor gostou da eleição ontem, do melhor do mundo, Presidente? O Messi ganhou, o Kaká ficou em quarto. O senhor achou que teve “trairagem” com o Kaká?
Presidente: Não, eu acho que o Kaká não foi bem este ano, porque foi o ano da transição dele, do Milan para o Real Madrid. O Milan não estava bem. Eu acho que o Messi fez por merecer, foi bem, ele foi. Foi um ano exitoso, e um ano exitoso para o Barcelona, não é, porque o Barcelona ganhou todos os títulos que disputou este ano. Então, eu penso que o Messi fez por merecer. Graças a Deus, na Seleção Argentina ele não joga 10% do que joga no Barcelona, e isso nos deixa confortáveis.
Jornalista: Presidente, vamos falar um pouquinho de música aqui, rapidinho. Nossa rádio, a FM O Dia é uma rádio, assim, de samba, de pagode, da garotada, da juventude. O senhor é pagodeiro, Presidente? Gosta de um samba?
Presidente: Olha, eu não diria que eu sou um pagodeiro. Mas eu adoro pagode e adoro o nosso querido mestre Zeca Pagodinho.
O Dia: Gosta do Zeca Pagodinho?
Presidente: Ah, adoro o Zeca Pagodinho.
O Dia: Eu fiz uma aposta com o meu chefe lá, eu falei assim: “Eu vou falar com o Presidente e vou pedir a ele para cantar uma música, uma palinha de uma música do Zeca Pagodinho. Aí ele falou para mim o seguinte: “Se você conseguir fazer o Lula cantar, dar uma palinha de uma música do Zeca Pagodinho, você vai ganhar um aumento de 200%.” Olha, Presidente, melhora a ração do meu cachorro aí, vai?
Presidente: Não, deixa eu falar uma coisa para você. O problema é que eu sou muito desafinado, Mauro.
O Dia: É, né! Mas uma palinhazinha, só?
Presidente: Mas, por exemplo, tem uma do Zeca Pagodinho, em que ele fala: “Descobri que te amo demais...”
O Dia: Show de bola essa, não é?
Presidente: Ah... depois, aquela música...
O Dia: A do caviar, também.
Presidente: Aquela do caviar é boa, a do penetra é extraordinária. A do penetra, eu lembro, eu lembro de quantas vezes, a gente era adolescente e a gente queria entrar na festa em que não era convidado, e ainda queria mandar na festa
O Dia: E ainda queria comandar.
Presidente: Mas uma música do Zeca Pagodinho que mexe comigo, que foi uma música muito cantada pelos jogadores da Seleção brasileira, na Copa de 2002, é “Deixa a vida me levar”. Eu acho que a Seleção brasileira, quando entrava no ônibus, o Ronaldinho, todo mundo com aquela timba, pandeiro, e cantando “Deixa a vida me levar”, foi uma coisa interessante porque essa música não tinha feito sucesso no disco do Zeca Pagodinho. E depois da Seleção brasileira, ela fez sucesso. Quando eu ouço a música, é a minha própria vida que está em jogo, ali. Eu penso exatamente daquele jeito. Porque tem gente que na política fica nervoso, toma decisão às vezes muito nervoso, precipitado. Eu acho que as coisas têm que sossegar. Então, eu estou sempre deixando a vida me levar, que é melhor.
O Dia: Isso é bom, não é, tranquilo.
Presidente: Mas é importante dizer que agora chegou o nosso governador Sérgio Cabral.
O Dia: É outro vascaíno, está cheio de vascaíno aqui, eu estou perdido aqui, que sou Botafogo. Presidente, deixe-me falar. Nós lançamos, a editora O Dia lançou - a nossa presidente Gigi Carvalho, inclusive mandou um abraço fraterno para o senhor -, nós lançamos um jornal, O Campeão, agora, e justamente no dia em que o Brasil foi eleito para sediar... o Rio de Janeiro foi eleito para sediar as Olimpíadas, foi o dia em que nós lançamos o primeiro número. E a capa do nosso jornal foi, inclusive, “O Presidente Pé Quente”, uma alusão ao senhor. O que o senhor da mídia específica, especializada agora, para esportes, para futebol, justamente nesse ano de Copa do Mundo, nessa fase de Olimpíadas. O senhor acha importante?
Presidente: Eu acho importante, Mauro, porque nós temos no esporte uma fonte de geração de riquezas, de geração de empregos extraordinária. Você veja uma coisa: eu sou o presidente da República e sou fanático por esportes, eu sou fanático. Eu acho que o povo brasileiro gosta de esportes. Então, quanto mais opção o povo tiver, melhor. E, sobretudo, quanto mais tiver jornais especializados em esporte, melhor, porque de vez em quando você pega os chamados, entre aspas, “grandes jornais brasileiros”, você pega, por exemplo, no domingo de manhã, os jornais ditos grandes jornais fecham no sábado de manhã. Então, às vezes, nem o resultado do jogo de sábado à tarde aparece no jornal de domingo. É um desprezo, é um desprezo. Então, eu penso que se a gente tiver mais jornais esportivos, mais jornais especializados cobrindo o esporte, eu acho extraordinário. Eu acho que O Campeão tem tudo para ser campeão mesmo.
O Dia: Está indo muito bem.
Presidente: E, depois, com essa foto que vocês publicaram, eu e o Adriano aqui, eu acho que vocês têm chance de... aqui, estou eu e o Sergio Cabral aqui, na inauguração, uma homenagem, a estátua do João Saldanha. Eu acho que é isso, eu acho que vocês encontraram um filé importante. O Brasil está precisando de imprensa, eu diria, muito, muito dedicada ao esporte.
Jornalista: Presidente, já estamos quase chegando ao fim da nossa... desse papo, desse bate-papo agradável aqui. Nós temos, agora, muitos ouvintes da FM O Dia, são muitos, nosso grande público é jovem. Qual o recado que o senhor manda para essa garotada, para essa juventude, Presidente, que está aí agora, correndo para o trabalho, correndo atrás do seu futuro? Em que eles podem acreditar, o que eles podem esperar deste Brasil aí que está vitorioso, que está conseguindo conquistas importantes no esporte, e a gente espera que também consiga no social?
Presidente: Eu queria dizer, Mauro, aproveitando até a presença do nosso companheiro Sérgio Cabral aqui, que a juventude brasileira, no desespero, na desesperança, tem que mirar um pouco a cabeça dela na minha própria história, para que ela não fique desanimada nunca. Não existe espaço para um jovem desanimar, porque tudo está para acontecer a partir dali, ou seja, ele tem tudo pela frente. Então, eu digo sempre o seguinte: se eu sai de Pernambuco com sete anos de idade, fui para São Paulo, passei todas as privações que um ser humano passa, e virei presidente da República, significa que esses jovens podem, se tiverem vontade e oportunidade, se transformar em coisas muito importantes. Pode ser presidente, pode ser governador, pode ser prefeito, pode ser engenheiro, pode ser médico, pode ser qualquer coisa que eles queiram ser. O que é importante é que eles saibam que eles têm a vida toda pela frente para conquistar um espaço, ou seja, não procurar o mais fácil. O mais fácil é não fazer nada, o mais fácil é ficar dormindo até as 10h, o mais fácil é ficar na rua fazendo arte. O mais difícil é você estudar, o mais difícil é você obedecer ao pai e à mãe, o mais difícil é você fazer as coisas corretas. Então, como nós estamos fazendo muito investimento no Rio de Janeiro... Eu estou saindo daqui desta entrevista, Mauro, e eu vou ao Complexo do Alemão e vamos a Manguinhos. Nós vamos entregar apartamentos, nós vamos entregar obras de infraestrutura nesses dois grandes bairros do Rio de Janeiro. O governador Sérgio Cabral já conseguiu paz em quatro favelas do Rio de Janeiro. Nós vamos conseguir nas outras favelas. Alias, ontem eu estava vendo a imprensa, e parece que caiu do céu essa tranquilidade. Isso é intervenção do governo estadual, da prefeitura. Nós temos trabalhado em uma parceria para ver se a gente gera oportunidades para esses jovens. Nós estamos fazendo aqui, no Rio de Janeiro, são praticamente 15 escolas técnicas aqui no Rio de Janeiro, nós estamos fazendo mais universidades no Rio de Janeiro, porque nós queremos que essa meninada tenha oportunidade.
Você vai ver, quando terminarem as obras do Complexo do Alemão, da Rocinha, de Manguinhos, de Pavão-Pavãozinho, você vai perceber a estrutura que vai ter lá. Não é apenas urbanizar, é levar benefícios, é o Estado estar presente com saúde, com educação, com formação profissional, com cultura, para que essa juventude perceba o seguinte: “O Estado está presente aqui, e o Estado está me dando a oportunidade que eu preciso para ajudar a cuidar da minha família”.É esse o sonho que eu tenho, o desejo que eu tenho, e é isso que me motiva a construir as parcerias mais extraordinárias aqui, com o governador do Rio de Janeiro, com o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, porque eu digo todo dia o seguinte, Mauro: o Brasil tem dívida com o Rio de Janeiro. É interessante dizer isso, porque o Rio de Janeiro é a cara do Brasil no exterior. Ninguém fala da minha Recife, ninguém fala de São Paulo, as pessoas falam do Rio de Janeiro, Copacabana, Ipanema. E, depois, as pessoas falam da violência também, falam do samba, falam do carnaval. Então, o que nós queremos, na verdade... O Rio de Janeiro já foi capital do país, perdeu isso aqui porque foi embora para Brasília, mas muitos funcionários ficaram aqui. O Rio de Janeiro, 50 anos atrás, não tinha 10% das favelas que tem hoje. Significa que os governantes passados foram irresponsáveis em permitir que o povo fosse se alojando em encostas, em beira de córregos. Então, o que nós queremos agora é devolver ao Rio de Janeiro, para combinar a beleza que a natureza nos deu, a alegria que é própria do povo do Rio de Janeiro... Então, você tem a beleza natural, você tem a alegria do povo do Rio de Janeiro. Agora, é preciso que o Estado tenha uma intervenção abrupta para que a gente possa dar cidadania a essa gente. Essas pessoas têm que morar melhor, essas pessoas têm que ter oportunidade de estudar, essas pessoas têm que ter acesso à cultura, essas pessoas têm que ter oportunidade de trabalho. É isso que nós queremos fazer e é isso, Mauro, que daqui a alguns anos a gente vai poder festejar no Rio de Janeiro. A quantidade de obras que estão acontecendo no Rio de Janeiro neste momento não aconteceu nos últimos 30 anos neste estado. Ou seja, este estado aqui foi um estado praticamente abandonado, em que governadores do estado brigavam com o governo federal, que brigava com o governo do estado, que brigava com o prefeito; ou seja, ficavam os três brigando entre si, e o povo no meio, sofrendo. Nós, agora, assumimos a responsabilidade de que juntos nós poderemos fazer, infinitamente, mais para melhorar a vida do povo sofrido do Rio de Janeiro, sobretudo da periferia do Rio de Janeiro.
O Dia: Presidente, agradecer ao senhor, muito obrigado por este bate-papo aqui, informal, com a gente da FM O Dia, tenho certeza de que os nossos ouvintes adoraram e quero dar uma notícia para o senhor, apesar de o senhor ser vascaíno e Corinthians: o Botafogo está formando um grande time e nesse ano o Botafogo vai ser campeão brasileiro.
Presidente: Ô Mauro, primeiro eu fiquei feliz que você fosse botafoguense. O Botafogo é um time engraçado, porque mesmo as pessoas que não torcem para o Botafogo, gostam do Botafogo. Você sabe que eu sou do tempo de Garrincha, de Paulinho, Quarentinha e Zagallo. Eu sou do tempo em que o Botafogo era o único time capaz de enfrentar o Santos de Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Eu sou do tempo em que eu via o Pelé vir aqui e ganhar de 5 x 1, do Botafogo, no Maracanã. Então, o Botafogo é uma paixão, eu conheço... só para você ter ideia, o Zé Eduardo Dutra, que agora virou presidente do PT, ele sai de Sergipe para vir ver jogo do Botafogo, aqui no Rio de Janeiro. O Zeca, que foi governador do PT no Mato Grosso do Sul, ele saia de Campo Grande para vir ver jogo do Botafogo, no Maracanã. Então, o Botafogo tem dessas coisas. Eu saí de São Paulo para vir ver jogo do Botafogo e Palmeiras, aqui, quando o Jairzinho acabou com o Palmeiras, aqui no Maracanã. Então, o Botafogo tem essas coisas, tem flamenguista que gosta do Botafogo, tem vascaíno que gosta do Botafogo, tem corintiano que gosta do Botafogo, porque é um time...a gente considera o Botafogo uma espécie de um time neutro, ou seja, um time que não...
O Dia: ...mas a gente ganha tudo, olha lá onde o senhor quer chegar, hein, Presidente!
Presidente: É um time mais ou menos como o Santos, o Botafogo é como o Santos, em São Paulo. Eu, por exemplo, a minha rivalidade em São Paulo é Corinthians e Palmeiras. Eu não tenho problema com o São Paulo, não tenho com o Santos, com o Santos eu tinha uma bronca do Pelé, porque durante 15 anos o Pelé não deixou o Corinthians ganhar do Santos. Então, eu tenho profunda raiva do Pelé como jogador de futebol, mas de qualquer forma eu acho que tem time que consegue ser isso. Consegue também galvanizar um pouco o carinho da torcida adversária.
O Dia: Muito obrigado, Presidente, pelas palavras agradáveis que o senhor falou sobre o Botafogo e agradeço muito a entrevista que o senhor deu à FM O Dia, foi uma honra e um prazer estar aqui com o senhor.
Presidente: Olha, Mauro, eu quero te agradecer, quero agradecer aos ouvintes da FM O Dia e dizer que é a primeira entrevista, na minha vida, desde 1980, em que eu não falo de política.
Jornalista: Mas o senhor falou um pouquinho sobre o Serra...
Presidente: Mesmo assim, eu tentei puxar de política e você não deixou. E eu te agradeço. Porque é verdade, às vezes as pessoas acham que político só entende de política. Eu na verdade, eu gosto de discutir outras coisas, de discutir os assuntos que o povo discute. Então, eu quero te agradecer por esta entrevista sui generis que eu fiz com você, Mauro.
Jornalista: Eu que agradeço, um abraço, Presidente.
Presidente: Um abraço, Mauro, e até a próxima oportunidade.
Fonte: O Dia Online
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