NETVASCO - 02/12/2009 - QUA - 08:19 - Vivinho, autor do gol de placa em São Januário, vira 'olheiro' do Vasco
Welves Dias Marcelino marcou época em São Januário. É autor de um dos gols mais bonito do estádio. E, atualmente, trabalha como supervisor de uma escolinha do Vasco, no Cachambi. Não está associando o nome ao feito? Vivinho fez história na Colina ao balançar a rede depois de aplicar três chapéus no volante Capitão, da Portuguesa, pelo Brasileirão de 1988.
Vivinho (no centro de azul) posa com os garotos da escolinha do Vasco, em Cachambi, Zona Norte do Rio
- A gente perdia por 1 a 0 para a Lusa. O Mazinho me lançou e na hora só queria abrir espaço para fazer o gol. O Capitão tentou fechar o ângulo duas vezes e levou dois lençóis. Depois do terceiro chapéu, ele ficou na dúvida se eu ia aplicar o quarto e abriu o canto. Foi aí que chutei para marcar. Não sabia que ia dar essa repercussão toda. Só percebi a dimensão daquela jogada no dia seguinte - recordou o ex-ponta-direita, que foi bicampeão carioca (1987/88) e brasileiro (89) pelo Vasco.
O gol deu origem a uma placa no local, apesar de a homenagem ter sido retirada pelo mesmo Eurico Miranda dois anos após a façanha.
- Em 1990, eu me transferi para o Botafogo. Então, esse dirigente quis apagar a minha imagem no clube. Mas a jogada não foi para mim, foi para a torcida do Vasco. Estive em São Januário depois disso e procurei a placa para guardar de recordação, só que ninguém soube me dizer onde ela tinha ido parar. Queria que a mesma fosse exposta na sala de troféus para que as pessoas pudessem relembrar aquele momento - sugeriu o ex-jogador, de 48 anos, ao presidente Roberto Dinamite.
Passados 21 anos, Vivinho virou pastor da Igreja Nova Vida, em Higienópolis, Zona Norte do Rio. No entanto, não abandonou o futebol. Pelo contrário, faz sucesso na equipe de masters cruzmaltina e ainda indica jovens talentos ao clube de coração.
- Levo uma vida simples hoje em dia. Moro em Olaria, num apartamento próprio, e tenho alguns imóveis em Uberlândia, minha cidade natal. Acabou aquela loucura de boate, churrasco e mulher à vontade. Tinha sucesso e dinheiro, mas não havia paz no coração. Bebia tanto que tinha que tomar glicose na veia para conseguir treinar no dia sequinte. Quase me joguei de uma cobertura em que morava em Copacabana. Graças a Deus isso não aconteceu. Hoje dou expediente na igreja de segunda a segunda e coordeno cerca de 80 crianças. É gratificante alimentar o sonho delas de quem sabe um dia jogar profissionalmente - contou.
Briga no vestiário prejudicou o Botafogo na final do Brasileiro de 1992
No Botafogo, Vivinho disputou a final do Campeonato Brasileiro de 1992. O Glorioso era favorito ao título, mas foi derrotado pelo Flamengo (3 a 0 e 2 a 2). Se serve de desculpa, o ex-jogador revela que o Alvinegro perdeu o primeiro jogo antes mesmo de entrar em campo.
- O Valdeir, o Pinga e o Carlos Alberto Dias brigaram com o Renato Gaúcho no vestiário por pura vaidade. Os três disseram que não iam correr por este atacante. Só não chegaram às vias de fato porque tinha muito apaziguador para separar a confusão. Jogamos em um esquema tático durante todo o campeonato e nas duas últimas partidas aconteceu isso. Por sua vez, o técnico Gil não teve pulso para contornar a situação. Conclusão: o Piá e o Charles Guerreiro deitaram e rolaram nas laterais e nós entregamos o troféu para o Flamengo - garantiu.
Para o ex-atacante alvinegro, Renato Gaúcho acabou estigmatizado por algo que na verdade era vítima.
- O Renato não teve culpa, mas acabou pagando um preço que não era dele. Ele foi vítima de uma briga, mas as pessoas só ficaram sabendo daquele churrasco em que o Gaúcho (atacante do Flamengo, na época) ganhou carne na boca. Os dois tinham feito uma aposta. O Renato cumpriu a promessa e foi crucificado - disse.
Falando em decisão, Vivinho não se esquece da final do Estadual de 1988. O Vasco venceu o Flamengo por 1 a 0, com um gol de Cocaca- que o substitui aos 42 minutos do segundo tempo- e ficou com o título.
- Com dez minutos de jogo, driblei o Leonardo na grande área e sofri uma entorse na coluna. Porém, o (técnico Sebastião) Lazaroni não quis me tirar. Pedi para sair no intervalo, mas acabei voltando para a etapa final para fazer número. Os jogadores do Flamengo não sabiam que eu estava machucado e teoricamente ficariam preocupados porque eu marcava e atacava pelas pontas. Foi um alívio quando o Cocada entrou. Não via a hora de sair de campo. Depois fiquei 21 dias sem poder andar. Mal conseguia colocar roupa. Na comemoração, não dava para ficar sentado nem em pé. Foi dolorido, mas nos sagramos campeões - afirmou o ex-atleta de Atlético-PR, Goiás, Fortaleza e Cabofriense, clube que se aposentou em 1997, com 36 anos.
Primeiro título da carreira foi com o Uberlândia, em 1984
Vivinho não passou por categorias de base. Foi descoberto aos 23 anos, por um olheiro do Uberlândia, numa pelada entre times de bairros na cidade de mesmo nome, em Minas Gerais. No primeiro ano como profissional, foi campeão da Série B do Brasileirão. Detalhe: fez o único gol do primeiro jogo da decisão contra o Remo, aos 47 minutos do segundo tempo. A segunda partida terminou empatada por 0 a 0.
- Trabalhei em uma panificadora até os 23 anos. Mas os dirigentes do Uberlândia me viram numa pelada e correram atrás de mim por seis meses. Eu não queria ser jogador, e minha mãe falava que futebol era coisa de vagabundo. Ela queria que eu trabalhasse para ajudar a família. Comecei no meio de campo, mas, como o time precisava de um centroavante, fui deslocado para o ataque. Um dirigente disse que eu tinha três jogos para mostrar serviço. Fiz três gols em três partidas e me firmei como titular. Depois fomos campeões da Segundona em 1984, e nesse mesmo ano, cruzamos com o Vasco na Série A. Joguei bem nestas duas partidas e acabei indo parar em São Januário - declarou.
Paredão na Colina para aperfeiçõar o chute
Por não ter treinado fundamentos na infância, o atacante foi obrigado a aperfeiçoar o chute. Com isso, o então técnico do Vasco, Bugre, mandou o jovem de 25 anos para o paredão.
- Como o próprio nome diz, era uma parede alta, com um gol pintado e uma caixa de areia. E eu ficava naquele lugar depois do treino, por uma hora e meia, aperfeiçoando o chute. Passei por isso sozinho durante um ano e meio. Só fui liberado desse treinamento extra depois que o treinador percebeu que meu chute estava com mais direção. Era tão constrangedor como o paredão do Big Brother. A diferença é que o BBB é visto por milhões de pessoas e ali eram 20 ou 30 atletas rindo de mim - comparou.
Ficha
Vivinho
Nome: Welves Dias Marcelino
Nascimento: 10 de março de 1961 (48 anos)
Cidade natal: Uberlândia (MG)
Altura: 1,80 m
Peso: 72 kg
Posição: ponta-direita
Clubes: Uberlândia, Vasco da Gama, Botafogo, Atlético-PR, Goiás e Cabofriense.