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NETVASCO - 06/11/2009 - SEX - 22:03 - Eurico Miranda: 'Estou em estado de coma e vou sair dele agora'

Dezesseis meses após ter deixado a presidência do Vasco, Eurico Miranda tem a aparência de outra pessoa. Mais magro e bem menos estressado, ele parece seguir apenas com um velho hábito. Do corretor do escritório de advocacia que mantém no centro do Rio de Janeiro era possível sentir o cheiro da fumaça de seus charutos. Por cerca de duas horas, o ex-presidente do Vasco conversou com o GLOBOESPORTE.COM. Apesar de criticar a administração de Roberto Dinamite, preferiu não falar em derrota política no ano passado. Mas admitiu que prolongou demais a sua permanência no poder do clube. Precisava sair para cuidar da saúde, muito abalada com dois sérios problemas.

- Eu deveria ter saido (do Vasco) até um pouco antes. Hoje eu tenho certeza de que se não tivesse saído do Vasco hoje eu estaria fisicamente muito mal. Essas coisas não acontecem por acaso.

Na sala, que voltou a trabalhar todos os dias após sair do Vasco, Eurico exibe poucas recordações. Nada de faixas de campeão, fotos de conquistas, camisas ou troféus que colecionou durante os anos que comandou o clube. Em vez disso, fotos dos filhos e dos netos e uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Entre as dezenas de livros de direito cível e penal é possível encontrar um DVD comemorativo dos 10 anos do título da Taça Libertadores.


Na mesa de trabalho, Eurico Miranda tem um porta retrato com a foto da neta


Durante a conversa com o GLOBOESPORTE.COM, Eurico manteve o tom sereno na voz e não se exaltou uma única vez. Com o Vasco podendo garantir a volta para a Primeira Divisão neste sábado, no Maracanã, com uma vitória sobre o Juventude, Eurico espera, como define, acordar novamente.

- O Vasco na Segunda Divisão para mim é um pesadelo. Vou acordar dele, com certeza. Não há pesadelo que dure para sempre. Vou acordar e o Vasco vai estar no lugar dele, que é na elite. Estou naquele estágio que a gente fica quando está em coma.

A rotina de Eurico Miranda mudou bastante desde que deixou a presidência do clube. Ele passou a ficar mais com a família, dar mais atenção aos cinco netos. Chegou até ir passear na Disney, tirar fotos com o Mickey. Mas a maior transformação foi deixar de ver os jogos do Vasco por oito meses, durante toda a Série B.

- Não assisto aos jogos. Como disse, estou em estado de coma e vou sair dele agora. Me recuso ver qualquer coisa do futebol na Segunda Divisão. Mas só estou neste estado com o futebol, não em relação ao Vasco como um todo. Só voltei a São Januário para a reunião de beneméritos. Nunca mais voltei lá. Não volto porque me dói ver como se destrói. Construir é difícil, muito difícil. Destruir é fácil - disse.


Na parede do escritório, dois escudos do Vasco


Mais longe do Vasco, Eurico passou a se cuidar. Tratou de um sério problema de saúde. E passou a dar mais atenção à família. Aos domingos, religiosamente vai às missas na Igreja.

- Em função do Vasco e da vida que levei eu não vi os meus filhos crescerem como deveria. Tive muita sorte que a minha mulher fez o papel de mãe e pai. E não estava tendo essa oportunidade com os meus netos. Meu neto estava fazendo quase quatro anos e estava difícil de ele me chamar de vovô. Posso sentir essa falta (do Vasco), mas agora posso ver esse lado que estava deixando de lado.

Neste sábado, quando o Vasco enfrenta o Juventude, Eurico Miranda não vai estar no Maracanã. Nem vai acompanhar a partida pela televisão. Vai procurar apenas saber do resultado que considera previsível.

- Normalmente nos dias dos jogos do Vasco (na Série B) eu não estava aqui no Rio. Como não vou estar agora neste próximo jogo. Mas você toma conhecimento (do resultado). Não vejo o jogo completo, mas tomo conhecimento do que aconteceu nas resenhas esportivas na TV ou pela Internet. É impossível ficar alienado no mundo de hoje - disse Eurico, que não tinha dúvida de que o time voltaria para a Primeira Divisão.

- Só a camisa do Vasco, só a camisa do Vasco... pode colocar quem quiser lá dentro dela... só a camisa do Vasco disputando essa competição resolve o problema. Os adversários são tão inferiores como um todo que só a camisa, sozinha, resolve.

Eurico admite que ao longo dos anos no futebol criou uma imagem polêmica, de amor ou ódio. Mas não se preocupa com isso.

- Sou uma pessoa com enormes defeitos como todo o ser humano tem. Mas com certeza sou abençoado pelo lá de cima. Sou casado com a mesma mulher há 40 anos. Eu criei e casei quatro filhos. Tenho cinco netos. Construí uma família. Tenho uma legião de amigos. E por ter me tornado uma figura pública eu tenho uma legião de inimigos entre aspas, mas que quando começam a me conhecer deixam de ser inimigos. As pessoas não conseguem ficar indiferentes comigo. Ou gostam ou não gostam.

Sobre o futuro, Eurico revelou ter um sonho. Levar os netos aos estádios para ver os jogos do Vasco.

- Um sonho meu é pegar o meu neto mais velho na mão e ir sozinho a um jogo de futebol do Vasco e ver como ele começa a extravasar esse sentimento pelo Vasco. Vai ser a minha grande alegria - disse Eurico, que garante não ter receio de ser hostilizado por alguns torcedores.

- Sinceramente eu não tenho essa preocupação. É difícil eu me transformar no meio esportivo em uma pessoa anônima. Não tenho receio nenhum em ir a qualquer lugar pelo fato de se eu vou ser festejado ou xingado. Vaia, ser chamado de todos os nomes possíveis e imaginários, isso para mim é comum. Assim como ser idolatrado também. Nunca vão apagar a minha passagem pelo Vasco. Enquanto não aparecer uma figura que represente o Vasco como eu, eu não vou ser esquecido. Não há hipótese.




Eurico Miranda garante não estar morto politicamente no Vasco. Não quer disputar a presidência com Roberto Dinamite nas próximas eleições, mas tem planos para seguir como uma voz ativa no clube. Saiba como neste sábado na segunda parte da entrevista com ex-dirigente.

- Quando eu sai quiseram passar uma situação que me derrotaram no Vasco. Mas eu não fui derrotado no Vasco. Eu não participei de eleição. Apoiei um candidato. Não podia continuar. Já tinha tido que iria sair. Precisava me tratar e tinha que sair de qualquer maneira. Eu não fui derrotado, nem me senti derrotado - garante.

Fonte: GloboEsporte.com

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