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NETVASCO - 13/09/2009 - DOM - 13:06 - Eurico chamou Dunga para motivar elenco antes da final do Estadual 87 O Dunga famoso pelos carrinhos, quedas de braço, broncas ferinas e vitórias a fórceps é o mesmo que ajuda na erva para o chimarrão da rua, arruma o jardim em casa e tolera com bom humor os pedidos de convocações feitos pelas crianças da vizinhança. De certa forma, reproduz o dito do guerrilheiro argentino Che Guevara, segundo o qual é preciso endurecer, mas sem perder a ternura.
Rigoroso no ambiente da Seleção Brasileira, técnico se mostra afável com amigos e com a vizinhança de onde mora na Zona SulO Dunga famoso pelos carrinhos, quedas de braço, broncas ferinas e vitórias a fórceps é o mesmo que ajuda na erva para o chimarrão da rua, arruma o jardim em casa e tolera com bom humor os pedidos de convocações feitos pelas crianças da vizinhança. De certa forma, reproduz o dito do guerrilheiro argentino Che Guevara, segundo o qual é preciso endurecer, mas sem perder a ternura.
De fato, o lado light do técnico que vai levar o Brasil à Copa da África do Sul pode causar surpresa. Não para quem acompanha o seu dia a dia na Zona Sul de Porto Alegre. Como é o caso de Alex Junior, 18 anos, segurança na rua onde Dunga vive, e da estudante Thamyris Terra Ramires, 13 anos, cujo caminho para a escola passa pela casa do Capitão do Tetra.
– Ele é simpático. Dá autógrafos e tira fotos quando pedimos – conta a menina, acompanhada por um coro de colegas fãs de Dunga.
– É supergente fina, humilde. Fora de série. Não sei de nenhum cara do nível dele que seja assim – derrete-se Alex, sentado no banquinho de madeira por vezes usado pelo técnico para o chimarrão com os guardas, na guarita da rua.
Este comportamento de homem comum parece não combinar com o homem obstinado que vez por outra deixa escapar uma conduta agressiva, como fez com Bebeto durante a Copa de 98. Mas fecha, sim, segundo afirma José Caetano Dell’Aglio Júnior, membro da Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Dunga busca o perfeccionismo e exige 100% dele e dos outros, mas não leva trabalho para casa.
O raciocínio bate com os depoimentos de quem o conhece bem. Emídio Perondi, por exemplo. Ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) e homem com trânsito na CBF, o padrinho de Dunga – de casamento, inclusive – revela que passa horas a fio junto do afilhado sem falar sobre futebol. Define o afilhado como alguém que soube extrair o melhor de uma infância modesta, porém rígida na formação do caráter.
Dunga era adolescente quando a mulher de Perondi, Helianita, o colocou na função de tesoureiro de um dos times do colégio estadual Rui Barbosa, em Ijuí, onde nasceu e cresceu. Pouco afeito aos estudos, era o contrário em se tratando de responsabilidades.
– Ele sempre colocou na cabeça o plano de ser comandante – assegura Perondi.
Levar a missão a cabo exigiu pulso firme. Rendeu bons frutos e dissabores, como em 1998, depois da consagração do Tetra, em 1994. Capitão da Seleção de Zagallo, Dunga jamais economizou gestos e palavras para cobrar esforço dos companheiros.
Reserva no time de 1998, o ex-zagueiro Gonçalves, hoje empresário, afirma que a postura firme tinha efeito contrário e abatia Giovanni, Bebeto, Rivaldo e Leonardo. Por questão de temperamento, não reagiam bem às cobranças públicas. Ao contrário de Ronaldo, Roberto Carlos, Aldair e Edmundo, que entendiam as broncas e as traduziam em estímulo para jogar.
Segundo Gonçalves, a situação se repetiu no Inter, onde Dunga encerrou a carreira. Na equipe de 1999, jovens como Claiton e Gustavo sentiam as críticas, enquanto Christian, Elivélton, Régis e o próprio Gonçalves respondiam à altura. O ex-zagueiro, porém, apoia a postura do capitão, um homem capaz de ficar transtornado diante de corpo-mole. E Gonçalves o considera hoje mais suave. Zinho também:
– Quando você joga, o sangue esquenta. E o técnico já planejou, deu preleção. Não tem muito o que fazer. O jogador nem escuta gritos – observa o técnico do Miami FC, dos EUA.
Presidente da FGF e amigo de Dunga, Francisco Novelletto Neto esteve em Rosário antes do jogo contra a Argentina e estranhou um suposto excesso de tranquilidade na Seleção Brasileira. Comparou o clima ao do Trianon, jogo beneficente promovido até ano passado, quase sempre com a presença de Dunga. O motivo seria o comando sobre os jogadores.
A postura do Dunga jogador é semelhaante à do Dunga fora de campo. Sebastião Lazaroni, técnico do Brasil na Copa de 1990, afirma que Dunga protegia alguns jogadores. Segundo ele, o volante defendia liberdade a Bebeto e Romário em campo, porque teriam condições de decidir.
Mas este brilho ofuscou-se em um passe de Maradona para Cannigia, e o Brasil caiu nas oitavas de final. Mais do que Lazaroni, Dunga acabou execrado pela imprensa. A derrota transformou-se no pejorativo slogan “Era Dunga”.
Ainda na Itália, Dunga e Lazaroni tiveram conversa considerada “franca e sincera” pelo técnico que hoje treina o Qatar SC, do Catar. Ouviu de Lazoroni que ele daria a volta por cima.
Verdade. A “Era Dunga” turbinou o título de 1994, mas há controvérsias se Dunga ainda guarda ressentimentos da humilhação a que foi submetido. Gonçalves acha que o episódio ficará na lembrança pelo resto da vida. Para Perondi, Zinho e Lazaroni, não existem rancores. Novelletto crê ser difícil opinar. Todos, porém, fecham questão em um ponto: quanto mais Dunga apanha, maior é sua motivação.
– O Dunga não se abate com as críticas. Elas o motivam – diz Zinho.
A pessoas próximas, Dunga já se queixou do que avalia ser perguntas mal-intencionadas de jornalistas – invariavelmente rebatidas com respostas ríspidas. De qualquer forma, trata-se de um desabafo recorrente: recém-promovido ao grupo principal do Inter, no começo dos anos 80, prometeu à imprensa, quase em tom de desafio:
– Ainda vou jogar na Seleção.
A cena foi presenciada por Wianey Carlet, colunista de ZH, para quem o iniciante Dunga era sério e dedicado. São características que o acompanharam, como revelam duas histórias:
Depois da passagem pelo Vasco, no final dos anos 80, Dunga foi negociado para o futebol italiano. Manteve vínculo com o ex-time, a ponto de ser convocado por Eurico Miranda, o mandachuva do Vasco, para motivar os antigos companheiros, especialmente Romário, para a final contra o Flamengo. Dunga estava no Rio Grande do Sul e atendeu ao pedido para ir ao vestiário do Maracanã. O Vasco arrebatou o título.
Em 1990, na Copa, a preocupação do volante com o estado do espírito dos jogadores chegou ao ponto da exigência de carne vermelha no cardápio das refeições, por vezes preenchido com carne branca ou peixe, alimentos mais leves. Conforme Lazaroni, Dunga entendia que carne de origem bovina daria mais sangue, vibração. Era “coisa de gaúcho”, arrisca o técnico.
Daí vem o que o padrinho Perondi coloca na casa das virtudes – entre elas, a confiança. Isto ilustra a conversa entre Dunga e Jorginho quando do convite para o ex-lateral virar auxiliar técnico da Seleção, em 2006.
– Nós convivemos, jogamos no Sub-20, na Copa, mas nunca fomos amigos íntimos. Por que você me escolheu? – questionou Jorginho.
– Jorginho, eu convidei você porque é de confiança, sério. Não irá me trair – retrucou o técnico.
A parceria rendeu os títulos da Copa América e da Copa das Confederações, além de uma base para a Copa.
Mas o sucesso não se esgota ou se explica apenas pelo temperamento obcecado de Dunga. Como aponta o técnico do Grêmio, Paulo Autuori – chefe de Dunga no Inter de 1999 –, o aspecto principal reside na leitura tática, na capacidade de aglutinação.
O raciocínio encontra eco no próprio Dunga. Quando assumiu a Seleção, em julho de 2006, avisou:
– Um jogador não pode estar na Seleção apenas com seu corpo. Terá de vir com cabeça, alma e coração.
Fonte: Zero Hora
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