Há um ano no Perth Glory, o volante Amaral admite que sente saudades do Brasil e ainda não se adaptou à vida na Austrália. No entanto, ele só pensa em retornar ao país depois de encerrar a carreira. Com 36 anos, este paulista de Capivari acha que não receberia o respeito merecido dos dirigentes conterrâneos.
- As portas estão fechadas para mim no Brasil por causa da idade. Aí só pensam em garotada. Tem muita gente boa desempregada. Os dirigentes deveriam tomar como exemplo a trajetória do Maldini, no Milan, além do desempenho do Fernando, no Santo André. Futebol é mistura de experiência e juventude – afirmou.
Por mais que sonhe com a culinária tupiniquim, Amaral garante que a estrutura oferecida pelo futebol australiano acaba compensando o “sacrifício” de morar em um lugar onde “não existe feijão como o brasileiro”.
- É uma liga nova, um mercado novo. O campeonato aqui tem três turnos. Enfrentamos cada clube três vezes, mas é tudo muito bem organizado. Não há jogo no meio de semana e só treinamos uma vez por dia. Em relação às comidas, outro dia mostrei para eles que abacate não se come com pão e presunto e sim com açúcar. Os gringos adoraram – comparou o jogador, que recebe de 15 em 15 dias e não tem o salário atrasado há pelo menos 12 meses.
Volante pensa em adotar Canguru para fazer média com os australianos
Na base da brincadeira, Amaral disse que sonha criar um canguru para se aproximar dos costumes australianos. No entanto, o meio-campo ainda enfrenta dificuldades em se comunicar na língua de Shakespeare.
- Não sei falar inglês. Vai na base da foto e da mímica mesmo. Chego aos restaurantes e saio pedindo pratos para experimentar até gostar de algum. Tem uma igreja evangélica que eu frequento todo domingo de manhã, mas não sei pronunciar o nome dela. Não entendo nada que o pastor fala, só grito aleluia – lembrou o volante, que não anda com intérprete, porém recebe algumas dicas de inglês de um dos dois filhos.
Apesar da distância da terra natal, Amaral não perdeu o contato de velhos amigos. Embora admita que tenha preguiça de enfrentar 25 horas de voo para passar férias no Brasil, ele não desgruda do telefone.
- Falo sempre com o Edmundo, Djalminha, Marcelinho Carioca e o Ricardinho. Mas encontrar pessoalmente só com o Cássio (ex-lateral esquerdo do Flamengo) que joga no Adelaide. Quando meu time enfrenta o dele, combinamos de sair juntos depois do jogo – contou.
Em ação com a camisa do Vasco
Amaral quase perdeu o emprego por causa de barbeiragem com o carro
O meio-campo revela que teve dificuldades em pilotar os carros australianos e que nunca viu tanta Limusine na vida.
- Quase compliquei a minha situação aqui. Dei carona para o presidente do clube (Perth Glory) sem saber passar a marcha direito. Depois meu empresário teve que explicar que eu não dei aquele pulo com o automóvel de propósito – declarou.
Perguntado sobre o time de coração, Amaral se saiu bem. Disse que torce para o Palmeiras na Série A e pelo Vasco na Segunda Divisão.
- O Palmeiras me revelou para o futebol e me fez chegar à seleção brasileira. E também passei por uma boa fase em São Januário. Aliás, vi o jogo contra o Ipatinga pela televisão e fiquei impressionado com as 80 mil pessoas no Maracanã – afirmou.
Amaral sempre chamou a atenção pela entrega em campo e teve participação importante em grandes elencos como, por exemplo, o do Palmeiras bicampeão paulista e brasileiro em 1993 e 1994. Também fez sucesso no Vasco, clube em que se sagrou vencedor das Copas João Havelange e Mercosul em 2000. No Corinthians, o meio-campo conquistou o Estadual de 1998 e o Brasileiro de 1999. Ele também defendeu a seleção brasileira 31 vezes, de 1995 a 1996.
Antes de se apresentar nos gramados, Amaral trabalhava em outros campos. Não era hobby de adolescente rebelde, mas ele costumava frequentar cemitérios como assistente de coveiro.
- Até hoje as pessoas lembram dessa história e sempre perguntam como era a minha vida antes do futebol. Aqui na Austrália também quiseram saber um pouco mais sobre o meu passado. Acho que isso desperta a curiosidade - disse.
Nome completo: Alexandre da Silva Mariano
Posição: volante
Nascimento: 28/02/1973 (36 anos)
Naturalidade: Capivari (SP)
Altura: 1,70m
Peso: 67kg
Times: Palmeiras, Parma (Itália), Benfica (Portugal), Corinthians, Vasco, Fiorentina (Itália), Besiktas (Turquia), Grêmio, Al Ittihad (Qatar), Vitória, Atlético-MG, Pogon Szczecin (Polônia), Santa Cruz, Barueri e Perth Glory (Australia)
Títulos: Paulistão (1993, 1994, 1996 e 1999), Campeonato Brasileiro (1993, 1994, 1998), Torneio Rio-São Paulo (1993 e 1999), Taça Guanabara (2000) vice-campeonato mundial (2000), Copa ITalia (2002/ 2003), Campeonato Turco (2003) e campeão paulista do interior (2008)
Fonte: GloboEsporte.com (texto e foto), PerthNow (foto)