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NETVASCO - 03/08/2009 - SEG - 04:18 - Dr. Clóvis Munhoz fala sobre trabalho do departamento médico do Vasco Declarações do dr. Clóvis Munhoz ao programa "Só Dá Vasco" da última 5ª-feira (30/07):
DEPARTAMENTO MÉDICO X PREPARAÇÃO FÍSICA
"O jogador que vem de lesão, é preciso que se entenda que ele não está só no departamento médico ou só na preparação física. Um atleta como o Rodrigo Pimpão, que vem de um trabalho todo feito em conjunto com a fisioterapia, a preparação física e a supervisão dos médicos, esse jogador sai gradativamente do departamento médico para a preparação física, mas ele fica ali naquela fase de transição. Não é dizer 'A preparação física que resolva lá'. Não é assim. Acho que a conta tem que ser de todo mundo. Não pode botar na conta só do departamento médico, só dos médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos. A conta, quando ela é deficitária, todo mundo tem que pagar o cheque especial. Não é só quando está rendendo na poupança, e que todo mundo quer os lucros. Tem que ser lucro para todo mundo e prejuízo para todo mundo. É preciso que isso fique bem claro, para não ficar nenhum tipo de situação mal explicada."
RECLAMAÇÕES SOBRE NÚMERO DE JOGADORES LESIONADOS E DEMORA NA RECUPERAÇÃO
"Muita gente comenta, muita gente reclama, muita gente se queixa que tem muito jogador machucado, está demorando muito, o jogador se machuca e custa a voltar, a fisioterapia está lenta. Isso é normal. Reclamar é do jogo. A gente está bastante calejado, com as costas bastante largas para suportar com tranquilidade. Isso é do futebol. Não estou reclamando de nada. Isso é do dia-a-dia."
"Mas veja você. Nós nos reunimos no dia 5 de janeiro em Vila Velha sem ninguém se conhecer. A comissão técnica estava se conhecendo, 'n' jogadores vindos dos lugares mais diversos, de centros mais diversos, de preparações anteriores as mais diversas, muitos deles vindos de inatividade, mesmo os que foram contratados durante esses sete meses, jogadores que vinham de outros países, de outras situações, mas que não vinham em atividade. Você perguntava 'Quando é que foi o seu último jogo?'. 'Há 30 dias', 'Há 40 dias', 'Há dois meses'. É um jogador que precisa de todo um recondicionamento. O que aconteceu? Em 15 dias foi feito um trabalho, a meu juízo, excelente da comissão técnica, da preparação física, do treinador, do Dorival [Júnior], e conseguiu-se arrumar um time. Foi feito um time. O Vasco não tinha time e foi feito um time para estrear no Campeonato Estadual em 15 dias. Estreamos perdendo para o Americano, e os mais afoitos, inclusive torcedores, não torcedores, inimigos, imprensa já se apressaram a dizer que o Vasco não tinha time... Ninguém se lembrou de pensar que o Americano vinha se preparando há quatro meses para jogar um Campeonato Estadual, que era a vida dele. O time de menor expressão, com todo o respeito a esses times, se prepara para jogar o Estadual, que é vida ou morte para ele, e mais nada. O Americano atropelou fisicamente o Vasco, que não tinha se preparado para aquele jogo, nem para aquela semana, nem para aquele turno. Tinha se preparado para suportar a carga de um campeonato. O tempo mostrou que havia razão nisso, que a programação estava correta."
"Tivemos 15 dias para juntar uma série de jogadores vindos dos mais variados centros, a grande maioria despreparada fisicamente e, consequentemente, tecnicamente, porque se você não tem preparo físico, não tem condição técnica. Passado o Campeonato Estadual, o Vasco emendou na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro, continuando a jogar domingo, quarta e domingo."
"É óbvio que essa preparação foi a melhor possível. Mas não foi a ideal, porque para fazer a ideal, você tinha que ter os 60 dias que o europeu tem, em que ele fica 30 dias se preparando na montanha, se oxigenando, trabalhando só fisicamente. Depois, ele tem mais 30 dias para fazer os torneios internacionais que, para eles, o resultado pouco importa. É nesse época. Nós, antes de tanta competição, de Mercosul, de Copa do Brasil e de outras mais, o Vasco era sempre convidado para ir à Europa no meio de ano, quando às vezes ia uma e, muitas vezes, ia duas vezes lá. O Vasco era frequentador assíduo desses torneios anualmente, em Portugal, na Espanha, o Torneio de Paris, em Londres. Depois, eles têm esses torneios. 30 dias, então são 60 dias de preparação para fazer 50, 55, 60 - se muito, raramente - jogos por ano, em países que são menores do que São Paulo no Brasil."
"Alguns jogadores foram ficando pelo caminho. Os menos preparados, os que têm menor herança física, os que tiveram menor preparação na base, os que tiveram menor condição social na sua criação. Tudo isso interfere. É preciso que as pessoas, antes de reclamar, de dizer, tenham essa noção, esse perfil, essa consciência de que não é só 'Machucou', 'Demorou 10 dias', 'Não demorou sete', Demorou 20'. Tem 'n' fatores que contribuem para isso."
"O que acontece? Esses jogadores, muitos deles não tiveram a força para suportar esse calendário desgastante, em cima de uma preparação que foi a melhor possível, mas não foi a ideal. A ideal seria nesses moldes lá da Europa. Comparando com os 55 jogos de lá, a gente faz aqui 75, 80. Eu já tive temporada de ver o Vasco fazer 92 jogos em um ano."
ATUAL DEPARTAMENTO MÉDICO
"Agora, o Vasco tem um departamento médico que esteve lá sob o meu comando e com a tutela política, muito bem feita, do doutor Manoel Moutinho, durante os últimos 12 ou 13 anos, até 2004, quando nós saímos. Nós estivemos lá por 23 anos e meio. Os colegas que saíram comigo são os mesmos que estão aí. São os mesmos que operaram dezenas e dezenas de atletas do futebol profissional e do amador nesses quase 30 anos de Vasco. Atletas esses que estão jogando normalmente. Eu fiquei 23 anos e meio como médico, até 2004. Agora já estou há um. E lembrando que antes dos 23 anos, eu fui atleta do Vasco, de ginástica de solo, de futebol de salão - na época era o futebol de salão, não era o futsal. Eu frequento o Vasco desde os cinco anos de idade, portanto, há 54 anos. Eu fui mascote de Barbosa, Belini, Paulinho, Orlando Peçanha, Vavá."
"Voltando ao corpo do departamento médico, o doutor Manoel Moutinho é um vice-presidente que já foi a duas Olimpíadas, tem uma experiência em fisiologia do esforço enorme, que discute com os médicos cientificamente, troca ideia, está sempre presente. Foi responsável pela fisiologia das equipes na Universidade Gama Filho durante muitos anos. Era uma equipe de ponta no Brasil."
"Nós temos uma fisioterapia, onde a chefe da fisioterapia, a Vanessa, dá aula para seis pós-graduações. O Fernando, a Miriam, o Marquinho são profissionais do mais alto gabarito."
"Agora, não tem milagre. Milagre, não tem. Os traumas que você tem são inerentes ao esporte. Você tem um traumatismo. O Paulo Sérgio teve um traumatismo extremamente violento, pancada fortíssima na face medial da perna, onde ficou inclusive, sob a proteção que ele usava, a marca da chuteira. Ele fez um derrame articular, um edema. Quando ele chegou no vestiário, você imagina uma manga no tornozelo dele. Era assim que estava o tornozelo dele, completamente deformado. Ele ficou em tratamento intensivo até quase 1h da manhã e no dia seguinte já se apresentou com pelo menos 60 a 70% daquele edema tendo regredido. Agora, demora. Não tem jeito. Não adianta voltar mais ou menos."
"Quando se ganha, ninguém avalia nada. Só tem avaliação, reunião, cobrança na derrota. Ganhou, está tudo uma maravilha."
"É preciso que essas coisas sejam ditas. Obviamente, vou citar o Robinho. Veio do Volta Redonda. Logo que chegou, teve uma lesão muscular. Você acha que o Robinho, com todo o respeito ao Volta Redonda, tinha no Volta Redonda uma solicitação que ele tem no Vasco? É óbvio que não. Tinha o comprometimento, a responsabilidade, o peso da camisa, a carga de treinamento que ele tem no Vasco? É claro que não. O peso da competição, dos adversários? Não."
"Você, quando faz tudo certo, nem sempre dá certo. Imagina quando você faz errado, Hoje, não tem mais bobo, não tem mais ninguém despreparado. Todo mundo sabe o pulo do gato. Todo mundo se prepara, conhece fisiologia do esforço, os melhores métodos de treinamento, de tratamento, os melhores aparelhos das salas de musculação, de cinesioterapia, de eletroterapia. Todo mundo tem isso à disposição. Basta ter um pouco de condição financeira. Todo mundo se prepara bem. Quando você se prepara bem, a sua chance é razoavelmente boa de ganhar, porque a maioria se prepara bem e só um ganha. No caso da Série B, só quatro ganham. Quantos ficam no caminho? 16. Então tem que bater 16, porque só quatro. Mas além dos quatro que vão chegar, certamente pelo menos mais seis ou oito se prepararam muito bem e não vão conseguir chegar."
INTEGRAÇÃO DO DEPARTAMENTO MÉDICO
"Com certeza, sem nenhuma dúvida, há uma integração total do departamento médico, através dos médicos, fisioterapeutas, fisiologistas e preparadores físicos, porque o jogador se lesiona, fica sob os cuidados médicos, é analisado, feito o diagnóstico, indicado a terapêutica. Em conjunto com isso, vai para a fisioterapia. Nós discutimos com os fisioterapeutas as condutas. Nós temos um relacionamento profissional, científico e de amizade muito bom. A gente não tem nenhuma dificuldade. Até que o jogador sai dali, do departamento médico, desse conjunto médico e fisioterapeuta, e vai para a preparação física propriamente dita, passando primeiro pela sala de musculação, tudo com o acompanhamento do fisiologista, até ele chegar na preparação física do campo. Isso é discutido, porque no futebol você tem que discutir diariamente. Às vezes, o que é verdade de manhã, de tarde já não é mais. Você faz uma programação para um atleta treinar de manhã e à tarde fazer um outro tipo de trabalho. Quando chega depois do treinamento que ele fez de manhã, de tarde ele se apresenta indisposto, dolorido, cansado. Você já tem que reformular o que tinha programado para ele de manhã. É um preparar diário. Se você não tiver conversa, troca de opinião, avaliação de condutas dessas áreas... São áreas interdisciplinares. Tem que haver uma completa integração entre essas áreas, que são muito próximas. Se você não fizer dessa maneira, não chega a lugar nenhum. Isso é ponto pacífico. É evidente que há toda essa supervisão da fisiologia, toda essa interação entre os preparadores físicos que trabalham na sala de musculação, o Celso [de Rezende], que é o chefe da preparação física no campo, entre os médicos e essa parte da preparação física, juntamente com os fisioterapeutas. Essa integração, eu acho que ela é muito boa, grande e a melhor possível."
CARGA NA PREPARAÇÃO FÍSICA PODER SER EXCESSIVA
"Hoje, é preciso que se entenda que você só ganha, só tem sucesso se jogar no limite. Para jogar no limite, tem que trabalhar forte. Não tem mais esse negócio de você jogar botando a mão na cintura, se poupando, não atacando, não defendendo. Hoje em dia, o que se diz do futebol? Todo mundo tem que atacar e todo mundo tem que defender. Se não estiver muito bem preparado, não consegue fazer isso. A obrigação do Celso é preparar bem o time."
"O que está acontecendo na Série B do Campeonato Brasileiro? O Vasco tem chegado sempre buscando, buscando, buscando, a torcida empurrando, principalmente nos jogos em São Januário. O Vasco não desiste nunca. O Vasco acaba o jogo às vezes em um ritmo maior do que quando começou o jogo. Não tenho dúvida que a preparação física é muito boa. Não tenho nenhuma carta de advogado de defesa do Celso, não. Conheço o Celso há seis meses. Mas, contra fatos, não há argumentos. A preparação física é muito boa. Porém, em cima de todas aquelas divergências, daqueles fatores de discrepância, tem gente que vai ficando pelo caminho. A gente tem que tratar da melhor maneira possível, no tempo mais rápido possível. A obrigação do departamento médico é devolver o jogador à condição de treinamento e de competição no tempo mais rápido possível. O termo está dizendo: possível. Milagre, não tem. E você tem que sempre respeitar o atleta como cidadão, a saúde do atleta. Tem que lembrar que amanhã ele vai deixar de ser atleta e vai ser um cidadão como outro qualquer, que não será mais atleta profissional. Você tem grande responsabilidade nisso quando trata ele durante a época de profissional."
"Agora, muitas pessoas reclamam, perguntam, questionam. Acho que as respostas estão aí todas dadas. Não adianta reclamar, perguntar 'Está demorando muito. Assim não dá'. Isso aí é do dia-a-dia, mas não tem outro jeito."
"O problema não é ele se adaptar. Não tem outra saída. O treinamento tem que ser forte porque você tem que ter uma produção física excelente. Se você não tem a produção física excelente, você não chega. Um ou outro jogador obviamente pode não estar nas melhores condições por conta da alimentação na infância dele, da preparação muscular e articular nas categorias de base, da inatividade que ele possa ter tido antes de vir para o Vasco. Por conta de 'n' fatores, você não pode se pautar nestas deficiências para abordar a sua preparação física. É claro que não é uma coisa rígida. Tem muitos jogadores que você sabe que tem que poupar em determinados treinamentos, porque têm determinadas deficiências. Você dá uma certa condição especial de treinamento. Mas, no todo, você não pode pautar o seu treinamento e a sua preparação física em alguns jogadores que, por quaisquer motivos, não estejam em condições de suportar, porque senão você vai prejudicar o todo e não vai chegar."
"Você pode estar certo que nós não somos perfeitos, temos os nossos erros, mas somos pessoas capazes, somos extremamente experientes, adoramos o Vasco. Estamos extremamente atentos a todos os problemas atinentes ao departamento médico, e fazemos o melhor que nós podemos, no sentido de que a coisa funcione. Se há alguma deficiência, se poderia ser um pouco melhor, isso está fugindo da nossa percepção. Mas a gente vai continuar sempre buscando uma situação de perfeição, que a gente não vai conseguir nunca, mas pelo menos de aproximação dela, no sentido de servir o melhor possível ao Vasco."
Fonte: NETVASCO (transcrição)
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