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NETVASCO - 18/07/2009 - SÁB - 18:13 - Felipe, hoje no Al-Saad do Catar, revela que nunca foi vascaíno Felipe acaba de ser pai pela segunda vez. Thiago, de apenas 20 dias, agora se junta a Lucas, de 4 anos, e à mulher, Carla, no coração do jogador. Longe dos holofotes desde que trocou a popularidade no Brasil pela vida pacata no Catar, tem mais três anos de contrato com o Al-Saad, onde é o dono do time e acumula fortuna.
Em entrevista ao JB, Felipe fala sobre a aposentadoria no futebol brasileiro, garante que nunca torceu para o Vasco, revela ter fechado com o Flamengo ano passado e conta as dificuldades de adaptação num país onde os estádios, há quatro anos, tinham apenas cem torcedores por jogo.
Quando você vai voltar a jogar no Brasil?
Estou com 31 anos e tenho mais três de contrato. Quando terminar, estarei com 34 e aí, sim, penso em voltar. Mas por enquanto vou ficar no Catar. A família está adaptada.
Já são quatro temporadas no Al-Saad. Não deu vontade de voltar para o Brasil? Não houve proposta nesse período?
Houve, sim. Ano passado eu acertei com o Flamengo. Estava tudo acertado, bases definidas, mas na hora o meu clube não liberou. Naquela hora deu muita vontade de voltar.
O que fez você pensar no retorno?
Fui a um jogo, vi a torcida, isso mexeu comigo. Gosto de desafio. Fui procurado pelo Flamengo e aceitei a proposta. Mas não deu.
O que fez o Felipe, jogador de clube grande, de Seleção, trocar o Brasil pelo do Catar?
Eu tinha saído do Fluminense, em 2005, e tive essa proposta. Pensei: é um contrato de sete meses, minhas chances na Seleção foram poucas, dez ou 11 convocações. A concorrência era boa (Alex, Kaká, Ronaldinho Gaúcho), mas podia jogar também de segundo volante. Só que pensei bem e optei pela experiência o Catar.
Foi difícil?
No começo, foi complicado. Minha mulher, Carla, é advogada, pediu licença no trabalho e foi comigo. Era estranho, estava acostumado com Maracanã cheio e lá não tinha quase ninguém no estádio. Hoje, quando dá duas mil pessoas, está cheio. Há quatro anos, tinha cem pessoas no estádio. O futebol estava começando por lá. Foi difícil me acostumar. Tinha sido ídolo no Vasco, no Flamengo, no Fluminense, e de repente estava num país onde ninguém me conhecia, jogando para quase ninguém. Mas tinha um contrato, tinha que cumprir.
Como eles são tecnicamente?
Estão aprendendo. Quando você chega lá, chega para resolver. Eles dão a bola no teu pé e dizem: “Resolve”. E você tem que resolver. Quando eles erram, nem posso reclamar, pois eles estão aprendendo.
Bateu a solidão?
Tinha minha mulher comigo, depois veio meu filho, Lucas (de 4 anos). Hoje tem muito brasileiro (Fernandão, Araújo, Roger Flores, Juninho Pernambucano, Ricardinho, Marcelo Tavares). É tipo cidade do interior, a gente se esbarra toda hora. Lá tem Globo internacional, e então a gente se reúne na casa de alguém para assistir aos jogos transmitidos aos domingos.
O dinheiro falou mais alto?
Ah, sim. Jogador tem uma carreira curta. A gente precisa pensar na nossa família, nos irmãos. Isso tem me mantido lá estes anos.
Seleção é uma página virada na sua vida?
Enquanto eu estiver lá fora, acho que sim. Se bem que eu joguei com o Jorginho (auxiliar de Dunga) no Vasco. Ele sabe do meu potencial. Confio em mim. Se for chamado, sei da minha capacidade. Posso jogar de meia ou de segundo volante. Mas acho difícil ser chamado hoje. Quando eu voltar...
Você pensa em jogar até quando?
Eu não bebo, nunca fui de sair, me cuido. Acho que dá para jogar mais uns dois ou três anos depois que eu voltar. Quando eu perceber que as pernas já não obedecem mais, eu paro. Não quero roubar.
Voltaria para o Vasco ou para o Flamengo?
Volto para aquele clube que me fizer uma proposta interessante. Ano passado, o Flamengo me fez. Sou profissional. Depois do que o Vasco fez com o Pedrinho, aprendi que temos de ser profissionais. Depois que o Vasco foi rebaixado no Brasileiro, foram renovar com ele por um valor muito baixo, justamente para ele não ficar. Depois disseram que o Pedrinho não aceitou a proposta do Vasco. Não achei aquilo certo.
Mas você é vascaíno?
Não. Meu pai, meus irmãos, sim. Eu não sou. Nunca tive clube. Sempre gostei de jogar futebol. Mas não tenho time. Para você ver: eu era júnior do Vasco e ia a jogos do Flamengo no Maracanã. Amigos me chamavam para ver jogo do Botafogo, eu ia. Do Fluminense, eu ia. Dizia: “Tô duro”. Eles pagavam a minha entrada e eu ia.
Você se vê mais identificado com Vasco ou Flamengo?
Com os dois. Cresci no Vasco. E no Flamengo foram só dois anos, mas a torcida gosta muito de mim. Meu filho é Flamengo. Deixei ele escolher, como o lado da minha mulher é Flamengo, ele virou flamenguista.
No Catar, você joga com a camisa 23. Por quê?
Eu costumo respeitar a hierarquia. A camisa 10 já tinha dono, então me deram uma lista com alguns números. Tinha o 23 e gostei.
No Fluminense, em 2005, houve um problema entre você e o Petkovic por causa da camisa 10...
Eu costumo respeitar quem já está. Ele chegou e pediu a 10, mas eu não sabia. Então marcaram uma reunião na Unimed. Estavam o Celso Barros (presidente da patrocinadora), ele e o presidente do Fluminense (Roberto Horcades). Eu cheguei, vi todo mundo ali e achei que era uma reunião sobre qualquer coisa, menos para decidir número de camisa. E aí ele me pediu para usar a 10. Na hora eu cedi. Mas depois lembrei que tinha contrato com a Nike, para aquela campanha Joga 10 e disse que não cederia. O erro foi da diretoria do Fluminense, que não articulou direito a coisa.
Na época, você tinha a imagem de um jogador polêmico. Aliás, você nunca se preocupou com a sua imagem, não é?
Eu era jovem. Quando comecei, fazia as coisas e não ligava para o que falavam de mim, pois sabia que meus amigos e minha família me conheciam. Na época, não havia também assessoria de imprensa para blindar o jogador. Mas não fazia nada de errado. Por exemplo: se o jogo era no fim de semana, eu saía na quarta-feira. E como não bebo, treinava bem no dia seguinte. O cara que treina depois de beber não rende. Mas sou a mesma pessoa, só que hoje mais maduro. Hoje, coloco os meus filhos em primeiro plano.
Você prefere aparecer menos?
Quando fui para o Catar, rescindi meu contrato com uma assessoria. Ia para longe, ia ficar esquecido...para quê assessoria? Queria ficar quietinho lá fora, manter a privacidade.
Como você reagiu ao fim da era Eurico Miranda no Vasco?
É fácil lidar com o Eurico. Fala mal dele, só não fala mal do Vasco. Minhas brigas com ele foram por causa do Vasco, eu criticava o clube. A vantagem de trabalhar com ele é que com ele é sim ou não. Deixou o clube com dívidas? Deixou. O Roberto (Dinamite) merece a chance dele também. Vamos torcer.
Edmundo ou Romário?
Para o Vasco? Edmundo. Ele personifica o torcedor vascaíno. O auge dele em 1997, no Brasileiro, não dá para esquecer. Já o Romário é um ídolo nacional, ganhou uma Copa do Mundo. Tive a felicidade de jogar ao lado dos dois.
Fonte: Jornal do Brasil
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