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NETVASCO - 17/07/2009 - SEX - 11:49 - Livro traz histórias surpreendentes de Romário

Ao ler 'Romário', livro que será lançado no Rio na próxima segunda-feira, escrito pelo jornalista Marcus Vinicius Rezende de Moraes e dedicado àquele que é considerado o melhor jogador de área da historia do futebol, o homenageado disse: 'Gostei. Mas senti falta de umas porradinhas'. E Romário, o crítico literário, tem lá suas razões. Quem ler as quase 300 páginas do livro vai passear por histórias pitorescas e nunca antes reveladas, mas não vai encontrar declarações de desafetos - o que, na verdade, acaba não comprometendo a obra, embora saibamos que a lista de desafetos não é pequena.

'Romário', ou o craque analisado, descrito e revelado por parentes, amigos e colegas de trabalho, não é, tecnicamente falando, uma biografia, mas nos aproxima do homem, de suas fraquezas, esquisitices e genialidade como nenhuma entrevista conseguiu fazer até hoje. Repleto de cenas cotidianas, o livro traz à tona alguns bastidores curiosos. Como, por exemplo, saber que a primeira proposta que ele recebeu para deixar o Brasil foi para jogar na segunda divisão na Itália. Quando tomou conhecimento da proposta, Romário foi falar com Eurico Miranda, então presidente do Vasco, e dizer que gostaria muito de ir. Eurico explicou que Romário não era jogador para segunda divisão e que, quando saísse, seria para um clube maior. E Romário pensou: 'esse cara tá querendo me prejudicar'. Logo depois veio a proposta do PSV e Eurico cumpriu a palavra.

Sobre o pai, seu Evair, o craque diz. 'Ele vivia repetindo: nunca soltar pipa, nunca fumar, nunca beber e nunca roubar', e essas palavras Romário diz carregar até hoje como um mantra. Foi o pai, também, o primeiro treinador de Romário, que, ainda nos campinhos de várzea e antes dos dez anos, era orientado a cabecear sempre para baixo. Dia após dia, o pai pegava uma bola e forçava o pequeno a subir e testar para baixo, um fundamento que Romário, já mundialmente famoso, tratou de eternizar - quem não lembra do baixinho subindo e testando certeiramente para baixo?

Alguns episódios são inesquecíveis. Como o que conta que Romário, tentando ajudar os pais, passou algum tempo indo ao Ceasa de madrugada para descarregar caminhões de melancia. Ou o caso da quase-dispensa do Vasco, em 1983, porque ele não tinha massa muscular. Ou a enorme dificuldade financeira da família que, mesmo tendo os dois filhos aceitos na base do clube carioca, não tinha o dinheiro da condução para ambos e resolveu, então, que cada dia um deles iria treinar enquanto o outro ficaria em casa. Ou o primeiro encontro com a atual mulher, Isabella, contado por ela: 'Ele me convidou para sair e eu pensei que fosse parar num pagode. Mas me enganei: ele me levou a um jantar super-chique. Foi carinhoso e cavalheiro. Me conquistou'.

Mas está no capítulo de Vanderlei Luxemburgo uma das melhores passagens, nas palavras do treinador: 'Tentei levá-lo para o Palmeiras em 2002. Ofereci um contrato de 4 meses em que ele receberia US$ 400 mil. Estava tudo acertado, mas o presidente Mustafá Contursi não bancou o negócio. Fiquei aborrecido e deixei o Palmeiras, transferindo-me para o Cruzeiro. Nos aproximamos e, em seguida foi a vez de ele me convidar para dirigir o Fluminense: 'parceiro, quer trabalhar aqui no Fluminense? Só você pode dar jeito'. Respondi: 'parceiro, acho que não vai dar. Eu continuo o mesmo'. E ele disse: 'eu também, então vamos deixar isso quieto'.

Mas talvez seja o primeiro encontro de Romário com Eurico a história mais interessante do livro. Prestes a ser contratado pelo Vasco, Romário chegou à antessala de Eurico com outros vários jogadores que também aguardavam ser chamados para conversar com o presidente (Nota da NETVASCO: Eurico Miranda era, na época, vice-presidente de futebol.) e assinar seus primeiros contratos. Quando Romário foi chamado e entrou na sala, Eurico foi logo dizendo quanto ele ganharia. Mas Romário não aceitou. Eurico, surpreso, respondeu: 'Gostei de você. Foi o único que teve atitude. Quanto quer receber?' Romário deu seu preço e foi aceito.

Já no final, ficamos sabendo de alguns hábitos atuais do aposentado Romário, confidenciado pela mulher: 'Romário está amarradão em casa. Fica horas no computador baixando músicas. Acorda, vai direto para o computador. Tem dia que fica até o final da tarde'.

Ao terminar o livro, a imagem irreverente que temos de Romário fica mais sólida. Especialmente por causa de passagens como essa, nas palavras do treinador Antônio Lopes, contando como era Romário quando chegou ao time principal do Vasco. 'Um belo dia Romário me chamou num canto e disse, enfático: ' professor, eu já tenho que ser titular. Jogo mais que o Roberto Dinamite'. Achei curiosa a pretensão dele, mas argumentei que o Roberto era artilheiro e ídolo do clube. Sugeri que esperasse a vez dele chegar. E chegou'.

Essas e outras histórias fazem parte de 'Romário', livro que será lançado na segunda-feira, dia 20 de julho, na Livraria da Travessa, Rio de Janeiro.

Fonte: Jornal do Brasil

Autor: Romário esteve perto de Palmeiras e Corinthians

O jornalista Marcus Vinícius Rezende de Moraes conta com 75 depoimentos para traçar o perfil do ex-jogador - e agora dirigente - Romário no livro "Romário" (Editora Altadena, 287 pgs). Mas as ex-mulheres ficaram de fora.

Não que Romário não quisesse que suas ex-companheiras falassem algo que viesse a lhe desagradar. Ele até reclama que faltaram "porradinhas" de alguns entrevistados, todos escolhidos pelo jornalista de 45 anos. Mas por desistência de uma delas, as outras acabaram "pagando pato".

Quem não quis falar foi justamente a primeira mulher, Monica Santoro. Nesta semana, Romário foi preso pelo não pagamento de pensão alimentícia para os filhos Romarinho e Moniquinha, que assinam três páginas do livro dedicado ao pai.

"A Mônica ia dar um depoimento para o livro, mas aí no dia que eu iria entrevistá-la foi marcada uma audiência. No dia seguinte eu liguei para conversar e ela ficou meio desanimada, por causa de todo o desgaste que houve. Respeitei", explica o autor do livro, em entrevista concedida por telefone enquanto ele se dirigia até o campo do América para assistir a primeira partida do novo desafio de Romário.

"Chegamos à conclusão que se uma não falasse, nenhuma outra falaria também. É uma pena porque a Monica tem uma porção de histórias dele, principalmente sobre a vida dele no exterior. Romário queria os depoimentos das esposas. Ficou só o depoimento da atual, Isabella", explica enquanto procura o caminho certo para chegar ao Estádio Giuliette Coutinho, onde o América faria sua estreia na Série B do Campeonato Carioca, contra o Bonsucesso.

Marcus Vinícius é, antes de tudo, amigo de Romário. Eles se conheceram por causa de suas profissões - ele jornalista e o personagem do livro jogador de futebol. Com a aproximação e a saída do emprego de uma rádio do Rio, Romário o contratou para ser seu assessor de imprensa. Da relação de trabalho, surgiu a amizade. Da amizade a vontade de mostrar para os fãs do artilheiro quem era o Romário fora dos estádios e dos uniformes da Seleção Brasileira, Vasco, Flamengo, Fluminense, PSV (Holanda), Barcelona (Espanha), Valencia (Espanha), Al Saad (Qatar, Miami F.C (Estados Unidos) e Adelaide (Austrália).

"Falei com ele (após a saída da prisão). Ele está acostumado com essas porradas, e ele sempre se levantou. Desde moleque ele passou por dificuldades. Era perseguido quando criança, carregou caminhão de melancia para ganhar dinheiro, então ele tira isso de letra. Nada na vida dele é fácil", explica o autor sem medo do episódio desta semana atrapalhar a divulgação do livro.

"Estou com essa dúvida, mas não tem como mudar. E ele não matou ninguém, não cometeu um crime. Isso tudo já se resolveu. Se o lançamento fosse ontem (quarta-feira, dia em que Romário saiu da prisão) teria prejudicado, mas é só na segunda-feira (dia 20 de julho, na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro). A vida segue. Ele pensa assim, então vamos tocar em frente", disse o amigo do Baixinho, prestes a se encontrar com ele no campo do América.

No início eram números

A idéia inicial era fazer um livro de estatísticas que mostrasse como foi a carreira do craque. Mas tanta informação e números fizeram o autor repensar em como prosseguir com a idéia de fazer um livro sobre Romário. Como algumas entrevistas com pessoas que conheceram o Baixinho já estavam feitas veio a idéia de fazer o perfil baseado nas declarações de quem conviveu com ele.

Romário topou. Deu sugestões de fontes e queria que todos fossem ouvidos. Segundo o autor, opinou sobre os entrevistados, mas não vetou nenhum e gostou do produto final dizendo que tudo o que foi escrito era verdade. Mas sentiu falta de algumas "porradinhas" dos entrevistados.

Ele "esperava mais" de Vanderlei Luxemburgo, com quem trabalhou na Seleção Brasileira e no Flamengo e colecionou algumas desavenças. Os dois estiveram próximos de trabalhar juntos de novo: uma no Fluminense, quando Romário o convidou para dirigir o time e outra no Palmeiras, em 2002.

Aliás, uma das frustações do atacante foi não ter jogado no futebol paulista. Além do Palmeiras, ele esteve muito próximo de acertar com o Corinthians, no fim de 2005. Antonio Lopes, então técnico do Corinthians, diz no livro que não vetou o atacante, apenas ponderou aos dirigentes que com Tevez e Nilmar em grande fase a disputa pelas vagas do ataque poderiam trazer problemas.

As declarações

Não houve vetos de Romário, mas uma pessoa não quis dar declarações sobre o jogador. Gilson Nunes, técnico da Seleção Sub-20 que se preparava para disputar o Mundial da categoria em 1985, cortou Romário da delegação por ato de indisciplina. Romário acha que merecia punição, mas não ao ponto de ser cortado.

"Gilson Nunes não quis falar. Ele disse que já tinha falado muito sobre o episódio e que as pessoas não o entenderam bem. Então ele não quis falar. Mas o Romário não colocou empecilho algum", explica o autor.

Outro com quem Romário teve problemas - até mesmo na Justiça Civil -, o técnico Zagallo topou falar sobre Romário. Mas apenas sobre o Romário jogador. Na Copa do Mundo de 98, Romário foi cortado da Seleção por problema muscular. Contrariado, o ex-atacante pintou no antigo bar Café do Gol uma caricatura do ex-treinador sentado num vaso sanitário. Zagallo abriu processo e ganhou.

Na mesma semana em que foi preso por causa da falta de pagamento da pensão alimentícia, a Justiça do Rio penhorou as contas do atacante para o pagamento de mais de R$ 635 mil que ele tem de pagar para Zagallo.

Deixando os problemas de lado - o lema do herói do tetracampeonato da Seleção em 1994, segundo o autor -, Romário ficou emocionado com o depoimento do Tio Ney, que o tem como filho.

"Ele gostou de todos os depoimentos, mas em especial a parte da infância, do Tio Ney e da Tia Nelza, que ajudaram a criá-lo. Eles eram muito pobres e Romário os ajudou a construir uma casa emprestando US$ 40 mil. Eles juntaram uma grana depois para pagar, mas Romário não quis, disse que quem devia alguma coisa era ele para os tios", conta o autor.

O primeiro a gente nunca esquece

Marcus Vinícius é casado com Josinete, de 43 anos, e pai de Caroline, 17 e Camila, 13. Jornalista de profissão, resolveu escrever sobre o cara que era sua fonte, depois virou amigo e por fim patrão. "Romário" é seu primeiro livro.

Por este motivo que ele preferiu fazer um perfil com declarações de quem conviveu com Romário ao longo de sua carreira do que uma biografia, que levaria mais do que os dois anos gastos entre entrevistas, redação e aprovação do personagem principal.

"Foi meu primeiro livro e achei que dessa forma não demoraria tanto. Seria mais rápido. Foi uma coisa para todas as pessoas o conhecerem melhor. E também uma forma de homenageá-lo", explica o autor.

Uma segunda edição não está descartada. Depois de finalizado, Romário e autor deram conta que faltavam depoimentos, como o do técnico da Seleção Brasileira Dunga, que em 1994 foi seu companheiro de quarto na conquista do tetracampeonato. Marcus quer mostrar também a nova vida de Romário, como dirigente do América. Até mesmo os problemas judiciais ele pretende abordar, se o entrevistado autorizar.

"Quem sabe numa segunda edição eu consiga fazer uma coisa melhor com o próprio Romário, já que ele é rico de histórias. Ele está agora no América, gostando da idéia de ser diretor. Se ele autorizar conto também os problemas judiciais. Mas sem autorização não dá", admite o autor, que gostou da experiência e pretende repetir o projeto com outras personalidades do esporte.

"São muitas as histórias, até mesmo com os técnicos de futebol, de bastidores. Temos muitos jogadores que dão um bom livro. Penso em fazer isso sim, gostei da idéia e quero repetir", disse o autor, flamenguista de coração, que classificou como maravilhosa a passagem do jogador pelo rubro-negro carioca. Foi ali que se iniciou a amizade entre o craque e o jornalista.

Fonte: Terra

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