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NETVASCO - 05/07/2009 - DOM - 12:10 - Pressão alta e turbulências no primeiro ano de Dinamite

Quem entra no gabinete da presidência, em São Januário, logo se depara com um homem de olhar cansado. O ex-atleta incorporou à rotina, diariamente pela manhã, um remédio para pressão alta. À noite, o comprimido é para controlar taxas que saíram do padrão. Regularmente, Roberto Dinamite é visto em audiências na Justiça do Trabalho. Após anos como a única figura simbolicamente forte o bastante para levar ao poder o grupo de oposição a Eurico Miranda, Roberto completou seu primeiro ano à frente do vasco lidando com mais problemas do que esperava. Diz ter herdado um clube em estado mais grave do que supunha. Mas enfrenta mais contestações e alcançou menos resultados no futebol do que poderia imaginar.

— O Vasco hoje é um clube aberto e mais profissional. Ao fechar contratos, mostra a verdade — diz Roberto.

Espera pela Eletrobrás ganha contornos de drama

De fato, há propostas de campanha cumpridas à risca. O clube se abriu, processo que culminou no novo programa de sócios. O vasco anunciou todos os valores de negociações como Eletrobrás e Penalty. Mas internamente, há contestações. O Conselho Fiscal acusa demora na prestação de contas e falta de envio de documentos contábeis ao órgão. O presidente alega não ter tido acesso a documentos da gestão anterior: — Estou agora assinando documentos de tudo o que pagamos para enviar.

O início foi traumático. Após batalha judicial, Roberto chegou ao poder na nona rodada do último Brasileiro. Cinco meses depois, veio o rebaixamento e o senso comum de que Roberto herdara um clube enfraquecido.

Mas cobrava-se de uma gestão que prometera uma “fila de investidores” e trabalhara quase três anos para assumir, um plano de emergência: — Estávamos no meio da competição. Não havia jogador no mercado. Antônio Lopes pediu um zagueiro e Roque Júnior custava R$ 150 mil por mês. Não tinha nada em caixa. Só entrou o dinheiro da venda do Philippe Coutinho — diz Roberto.

A profissionalização prometida se iniciou. Mas os custos altos geram discussão, principalmente no futebol. O vasco terminou 2008 operando em déficit mensal superior a R$ 2 milhões. A meta de não fabricar dívidas em 2009 seria inviável e o clube avançou pouco nos cortes. Mantém 530 funcionários — já teve 430 há três anos. O orçamento de 2009 previa gastos de R$ 16 milhões no futebol. O clube, oficialmente, diz gastar R$ 1,5 milhão por mês e projeta R$ 18 milhões anuais. Até dentro do clube há quem garanta que os números são maiores.

O orçamento contava com recursos que não entraram, como Eletrobrás, cotas de TV que estavam comprometidas por antecipações, além da inadimplência da Champs. Roberto anuncia um estudo para cortar funcionários.

— De janeiro a junho de 2008 (gestão anterior) o vasco contratou 120 pessoas. O vasco de 2010 ainda terá muita dificuldade financeira. Mas será referência em cumprir compromissos. Salário aqui sempre atrasou.Hoje, se tem manifestação de funcionário, são sempre os mesmos. Parece dirigido.

A asfixia financeira tornou um suplício a espera pela Eletrobrás, antes vista como salvação. Contratos com estatais exigem certidões que atestem a ausência de dívidas públicas. O Vasco, após sete meses do acordo, só agora poderá assinar. Razões para que se cobrasse um plano B.

— Até se pensou, mas a cada dia tinha um incêndio a solucionar no clube. Era necessidade de dinheiro para pagar funcionários, rebaixamento. O contrato da Eletrobrás prevê um trabalho social na região de São Januário, permitia mostrar que o vasco estava preparado para ter uma parceria deste porte. A negociação passou por prefeito, governador, presidente.

No futebol, quase 30 jogadores foram contratados em 2009 e ganharam prioridade. Os salários, ao contrário dos funcionários, estão em dia. Por vezes, com aportes do empresário Carlos Leite, escolhido para conduzir a montagem do elenco, outra medida que faz a oposição se exaltar. Roberto diz que a venda de Morais ajudou a quitar parte das dívidas com o agente.

— Carlos Leite é um grande vascaíno, a relação não é só de empresário. No início, sequer se fazia documento das negociações. Hoje, mais de 50% do compromisso com ele está resolvido. O caso do Morais tirou do vasco uma situação que só poderíamos resolver na frente. E ele (Leite) não estava cobrando.

Dinamite não esconde certa frustração com o rendimento do time na Série B: — Nem esperávamos o início tão bom no Estadual e Copa do Brasil. Precisamos reverter. O esforço é muito grande para cumprir obrigações e queremos em troca esta vontade do time.

Roberto lidou com grave crise política na saída do vice de marketing, José Henrique Coelho, presidente do MUV, grupo que sustentou a candidatura:

— Nada foi feito para cortar gastos e compromissos de competência e transparência não foram cumpridos. Não participo de nenhum estelionato, principalmente eleitoral — diz Coelho, afirmando que o MUV, antes desmobilizado, voltará a se reunir.

Ao sair, Coelho acusou Roberto de “agir como deputado”. Ou seja, sem medidas duras de austeridade. Outra crítica foi o emprego de parentes que seguem no clube. O cunhado, Leonardo Marins, é secretário particular. O sobrinho, Victor, trabalha no futebol de base. Já o genro, Gérson, é sócio da empresa de logística do futebol. Hoje, os opositores apontam gastos desnecessários, como dois diretores financeiros com altos salários e três secretárias no gabinete presidencial.

— Não chego demitindo pessoas — diz Roberto, já que algumas secretárias trabalhavam com Eurico Miranda. — Dizem que não sou administrador. Nem preciso. Tenho que administrar pessoas mais capacitadas, cada uma em sua área.

Fonte: O Globo

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