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NETVASCO - 21/03/2009 - SÁB - 04:02 - Filipe Alvim, campeão da Libertadores-1998, conta o drama por que passou




O time acima é o Vasco da Gama. Campeão da Libertadores em 1998.

Carlos Germano, Odvan, Cristiano, Mauro Galvão e ele; agachados, Donizete, Luizão, Nelson, Vagner, Felipe e Juninho Pernambucano.

'Ele' é Filipi Alvim. O primeiro em pé. Da direita para a esquerda. Por sorte ou 'proteção divina' como gosta de falar, 11 anos depois pôde comemorar seu 30º aniversário. Não mais como jogador de futebol. Formado em Educação Física, ele percebe a sorte que em não se tornar o personagem principal de mais uma tragédia.

"Jogando pelo Acadêmica de Coimbra me senti mal. Em Portugal, os médicos disseram que minha falta de ar era asma. Eu vir jogar no Corinthians e encontrar o médico Paulo Faria salvou minha vida. Ele é cardiologista. Ele viu que eu tinha uma arritmia severa, que me impediu de prosseguir a carreira. Foi Deus que o colocou na minha frente. Hoje eu tenho saudade, mas estou feliz por estar vivo. E vejo que pouco adiantou Serginho, Feher e tantos outros morrerem jogando futebol. Nada de sério se fez pelo atleta com problemas cardíacos como eu."

Desde Juiz de Fora, onde vive, Filipi Alvim falou hoje à noite com o blog. Ele mora com sua mulher e o maior prêmio que poderia ter ganho na vida: seu filho Davi.

"Graças a Deus estou vivo para ver o meu filho crescer. Tenho muita sorte e agradeço não ter morrido em campo."

Filipi, como está a sua vida? Que amparo você teve da Academica de Coimbra? Ela era o clube que possuía seus direitos federativos...

Eu vou falar a verdade: não tive amparo nenhum do Acadêmica. Pelo contrário. Eu tinha 26 anos quando parei com o futebol. Fui honesto. Tinha direito a 100 mil euros. Fiz um acordo e aceitei apenas 33%. Me enganaram e descontaram 50% em impostos. Foi o único dinheiro que peguei há quatro anos. Hoje vivo com R$ 1.400,00 do INSS. Sindicatos de atletas profissionais, clubes, CBF, já que joguei em seleções de base. Todos viraram as costas para mim. Ninguém me ajudou. Estou envolvido em projetos sociais e só. Ser cristão me ajuda a suportar tanta dificuldade.

Ninguém brigou por você?

Meu erro foi não ter empresário, assessor de imprensa. Eu fui muito sozinho e sofri por isso. Jogador de futebol precisa de empresário sim para protegê-lo e não para explorá-lo como todos pensam. Ninguém me defendeu. A diretoria da Academica de Coimbra não teve a menor consideração por mim e ficou nisso. Fui apenas um jogador usado por um clube europeu. Enquanto tive saúde, servi. Depois, não. Jogador de futebol passa por coisas que as pessoas nem imaginam.

Você não tinha seguro de vida?

Não. E foi ótimo você perguntar. Se eu puder usar a mídia para ajudar meus companheiros do futebol eu tenho um conselho fundamental: façam seguro de vida. Eu tive 13 anos da minha carreira sem ter nada. Nada. Eu iria fazer o melhor contrato da minha vida com o Corinthians. Aí surgiu a minha doença cardíaca. Eu estava jogando contra o Cruzeiro e passei muito mal. O médico Paulo Faria, que é um dos melhores cardiologistas do Brasil, percebeu. E fiz uma bateria de exames e foi diagnosticada a arritmia severa. Eu esperei um tempo, tive paciência. Mas depois de oito meses, o Paulo me falou que a minha carreira tinha acabado. Ainda hoje eu não posso jogar futebol. É uma pena, uma tristeza. Sei que na NBA, nos Estados Unidos, todos os atletas têm seguro. No futebol brasileiro e até no europeu, não. Isso é absurdo.

Qual foi o momento mais difícil?

Foi perceber que eu não melhorava. Não tinha saída. A minha arritimia piorou três vezes por problemas emocionais. Eu tinha 26 anos. E ela nunca mais baixou. O que me deu força foi ser cristão. Se não tivesse Deus por mim, não sei o que seria de mim. Quando eu estava triste demais, veio a gravidez da minha mulher e o meu filho Davi. Foi ele e Deus que fizeram suportar o fim da minha carreira.

Você acha que o caso Serginho (jogador do São Caetano que morreu em campo por causa de um ataque cardíaco em 2004) ocasionou mudanças no futebol?

Pouquíssimas. Os clubes passaram a fazer exames mais rígidos. Mas é muito pouco. Cadê o seguro de vida? Cadê planos de acompanhamentos para atletas que são obrigados a parar de jogar. Vários casos acontecem e ninguém ficam sabendo. Para que existem os sindicatos de atletas? As federações? Os clubes? É tudo muito solto, muito amador. A situação do jogador de futebol no Brasil ainda é muito precária. Ninguém se dá conta. Todos querem saber apenas quando eles estão em campo. É cada um por si e Deus por todos. Só Deus mesmo para proteger quem para de jogar. Não há a quem recorrer. É tudo muito sério, triste.

Você acabou de fazer apenas 30 anos. Tem saudade do futebol?

Demais. Fico olhando as partidas, lembrando de tudo. É muito dolorido. Mas Deus me ensinou a ter uma visão positiva das coisas. Eu poderia ter morrido. Meu filho nem existiria. Penso nisso e fico feliz. Tenho a chance de estar falando com você e passando esse alerta para muita gente que pensa que está livre de doenças. Cumpro a minha missão dando palestras sobre drogas, bebidas, cigarro. Explico o malefício dessas substâncias às crianças e adolescentes. Cumpro a minha missão social como cidadão. Vivo bem, estou feliz aqui em Juiz de Fora.

Sua saída foi discreta. Por muito tempo foi segredo. Ninguém no Corinthians falou nada sobre a doença...

Eu agradeço a discrição de todos. Até de você que foi o jornalista que descobriu e foi digno comigo. Eu agradeço a você me ligar para saber como estou e fazer essa matéria. Espero que ela seja lida por jogadores e dirigentes de clubes, presidentes de sindicatos. E que as pessoas tomem providências. Não para mim, que a minha vida está em bom caminho. Mas para os inúmeros atletas espalhados pelo Brasil que muitas vezes nem sabem que têm doenças cardíacas por falta de um exame. Vamos fazer exames preventivos, seguros e cuidar bem de quem para de jogar futebol. O esporte no Brasil precisa evoluir fora de campo. Todo jogador é um cidadão e merece ter sua vida protegida. Chega de mortes desnecessárias nos gramados.

Fonte: Blog Futebol, Coisa e Tal - Extra Online (texto e foto), Lancenet (foto)

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