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NETVASCO - 17/03/2009 - TER - 02:01 - Confira entrevista com o ex-técnico do Infantil Marcus Alexandre Cravo

Passados oito meses da posse da nova diretoria do Vasco, pode-se dizer que pouca coisa mudou dentro das divisões de base do clube. A demissão em massa de profissionais instaurou o pânico em São Januário. O time principal agonizava na Série A e precisou da ajuda dos garotos, que, subindo em um cenário completamente desfavorável, não conseguiram evitar o rebaixamento. Alguns deles, queimados com a torcida, acabaram fazendo as malas sem dar retorno financeiro ao clube, que não conquista um Estadual de juniores desde 2001.

Um dos profissionais demitidos foi Marcus Alexandre Cravo, profissional com 15 anos de clube. Era técnico do infantil do clube desde 1999 e conquistou vários títulos estaduais e nacionais pelo clube. Entre os jogadores que passaram por suas mãos, nomes conhecidos da torcida vascaína como Alan Kardec, Willen, Phillipe Coutinho, Souza, Carlos Antônio, Edu Pina, etc.

Em entrevista ao Olheiros, o técnico fala das qualidades de seus ex-comandados e não se omite em falar sobre temas delicados, como o procedimento de escolha nas divisões de base. Há também, alfinetadas à nova diretoria que, segundo ele, lhe deve dinheiro, e elogios à postura do ex-presidente Eurico Miranda em relação às categorias de base. Confira abaixo.

Fale um pouco sobre sua carreira.

Comecei em 1993 como professor da escolinha de futebol do Vasco, em seguida fui convidado para trabalhar como auxiliar técnico da equipe de Pré-Mirim de futsal do Vasco da Gama. Em 95, fui convidado a trabalhar no futebol de campo, também como auxiliar técnico de Luiz Antonio Ferreira no Infantil. Fiquei até 1999, quando assumi o comando técnico da mesma categoria, que exerci até 2008. Atualmente estou sem clube, houve sondagens de fora do Rio de Janeiro, mas não foram finalizadas as negociações. Dois grandes clubes do Rio também mostraram intenção, mas nada foi acordado.

Como você classifica sua passagem pelo Vasco? Como a diretoria anterior tratava as divisões de base?

Tenho a certeza de que cumpri minha missão. O Dr. Eurico, quando assumiu a presidência, fez uma reunião e determinou que "ninguém seria demitido se perdesse titulo, mas que ao final de cada ano a categoria de base deveria revelar um jogador para o profissional”. Feito isso o clube já estaria lucrando em seu investimento. Consegui revelar e formar varias gerações de qualidade. Só para terem uma idéia, os últimos atacantes e meias das seleções sub-15, sub-17 e sub-20 passaram pelo meu comando. Jovens como Alan Kardec, Alex Teixeira, Carlos Antonio, Philippe Coutinho, Willen, Guilherme e Romulo. Isso só para falar das gerações de 89 e 90, 92 e 94.

Dos jogadores que você comandou (Alex Teixeira, Coutinho, Guilherme, etc.), quem impressionou mais e pode, no futuro, ser um craque?

Ajudei a comandar e comandei jogadores de muita qualidade, mas estes que você citou possuem características que estão em extinção no futebol mundial; a habilidade e a técnica. Os três, porem, possuem característica e dinâmica diferentes entre si. O Alex Teixeira uma habilidade que necessita do condicionamento físico, pois dribla muito em velocidade. Porém, peca muito nas finalizações. O Coutinho é um jogador que faz de sua habilidade um recurso para escapar dos truculentos adversários e finaliza muito bem. Já o Guilherme é o mais novo deles e tem uma versatilidade muito grande. Joga tanto de meia como de segundo atacante. Todos têm um grande potencial e podem se tornar craques no futuro.

O Vasco não conquista um Estadual de Juniores desde 2001, embora levante muitas taças nas categorias infantis e juvenis. Porque, em sua opinião, esse fenômeno ocorre?

Com certeza a integração de atletas com idades de juniores no profissional e no Vasco tinha a política de que, uma vez no profissional, o atleta dificilmente retornaria à base, a não ser casos especiais. Nos outros clubes, a política não funciona desta forma. Vou dar um exemplo: na final do Carioca de 2007, o Vasco não desceu o Alan Kardec, que já atuava nos profissionais. Mas o Flamengo colocou o Paulo Sergio, que também havia subido, para jogar.

A geração /84, ultravencedora na base, não vingou nos profissionais como o esperado. Em sua opinião, o fracasso se deve apenas ao lançamento prematuro dos jogadores ou os defeitos dos jogadores eram mascarados com as vitórias na base?

Jogadores lançados sem completar o ciclo de formação apresentam alguns defeitos que devem continuar sendo corrigidos no profissional. O que acontece é que, por culpa do calendário, dificilmente sobra tempo para este tipo de treinamento. Soma-se isso à cobrança da torcida os meninos perdem a confiança e não repetem a performance que tinham nas categorias de base. Com isso, o trabalho na base é colocado em xeque e, se o atleta não evoluir rapidamente, é vendido na primeira proposta para o clube não perder o investimento.

A formação de jogadores para o time profissional é apontada como o principal objetivo das divisões de base do clube, mas os técnicos acabam sendo cobrados por resultados e títulos. Formação e títulos caminham necessariamente juntos?

Como falei anteriormente o ex-presidente não fazia esta cobrança, mas quando existe uma disputa temos o desejo de figurar nas primeiras posições. É importante o jogador também aprender a ser campeão, mas tudo tem um limite. Não fazíamos loucuras para ganhar títulos.

Algumas vezes, vemos equipes fisicamente privilegiadas ganharem campeonatos de base, mas seus jogadores, quando chegam aos profissionais, sofrem com a perda dessa vantagem. Quais, em sua opinião, devem ser as principais qualidades de jogadores que chegam, por exemplo, ao infantil de um clube grande?

Eu vou falar por mim: sempre observo a qualidade técnica, a habilidade e os fundamentos específicos de cada função e posição. Mas sabemos que este não é o critério mais utilizado hoje.

O Vasco passou por uma reformulação nas categorias de base, que se iniciou com a demissão em massa por telefone. Além das ligações, houve alguma satisfação a mais posteriormente? O clube ainda lhe deve alguma soma?

Não recebi nem um obrigado pelos serviços prestados. Não houve nenhum acerto com os demitidos, ninguém do clube apareceu para regularizar nossas carteiras de trabalho e não recebemos dinheiro algum.

Há algum processo ou pendência judicial contra o clube?

Há sim. Tive de fazer isso muito contrariado, mas percebi que era a única maneira de receber os meus direitos. Eles (a nova diretoria) disseram que não pagariam e ganhariam porque estas ações duram anos.

O Vasco é conhecido por oferecer um suporte educacional aos seus atletas, com uma escola à disposição deles, o que resultou, por exemplo, na aprovação do meia João Marcos no vestibular da UFRJ. Como isso funcionava na sua época? Há alguma maneira de conciliar estudo e treinos adequadamente?

O Dr. Eurico sempre falava que primeiro deveríamos pensar no homem, na sua formação na sua educação e só depois no atleta. Porque agindo assim, estaríamos contribuindo não só para o futuro do clube, com atletas com um nível intelectual mais alto, mas também para os jovens que não conseguissem alcançar seu sonho desportivo tivessem possibilidade de mudar de realidade através do estudo.

Fonte: Olheiros.net

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