NETVASCO - 20/02/2009 - SEX - 13:37 - Marco Antônio Monteiro publica artigo com duras críticas a Dinamite

O ex-vice-presidente de relações públicas do Vasco (durante a administração Eurico Miranda), Marco Antônio Monteiro, grande-benemérito do clube e atualmente um dos líderes da Oposição, publicou no site do Casaca, principal grupo de oposição da política vascaína, o seguinte artigo:

O Fim da Era Dinamite

Por: Marco Antônio Monteiro

Um mandato tem data para começar e data para terminar. É uma questão de calendário. Mas um mandato, seja ele numa entidade ou em algum nível de Governo, tem uma duração política, que pode ser igual ou menor que o calendário eleitoral.

A verdade é que uma administração pode acabar politicamente muito antes do fim do mandato. É o caso da administração Roberto Dinamite. Acabou, mesmo que dure mais um mês, seis meses ou três anos. E acabou porque uma administração que é eleita tem que oferecer perspectiva de futuro ou será atropelada pelas articulações da sucessão.

Qual a expectativa da administração Roberto Dinamite? Nenhuma frente a grandeza do Vasco. O grupo que chegou ao Poder tinha como único ponto de união a vontade de tirar Eurico Miranda da Presidência do clube. Ali estavam personalidades afastadas há anos do Vasco, muitas que tiveram seus interesses contrariados em algum momento e outras cuja vaidade extrapolava a idéia de ficar em segundo plano. Ali estavam pessoas que nunca participaram do mundo esportivo e não freqüentavam o clube. Ali estavam personagens que vendiam um moralismo dos piores tempos da antiga UDN para restabelecer feudos exterminados de São Januário. E, justiça seja feita, alguns poucos com a intenção de renovar o Vasco, mas sem a vivência para saber quem eram esses aliados de ocasião.

Com tudo isso, nem em seu – teoricamente – melhor momento, logo após a posse, conseguiu quadros para tocar uma Instituição como o Vasco. Nunca uma Diretoria Administrativa tinha tomado posse sem conseguir preencher as Vice-Presidências estatutárias. Não conseguiram até hoje. Iniciaram uma limpeza ideológica e encheram o clube de “profissionais” da base do MUV. A nova administração fez questão de não realizar uma transição. O desastre foi construído dia a dia.

Qual o projeto de Roberto Dinamite? Que posição deve ter o Vasco no cenário do futebol brasileiro? Quem são os aliados do clube em cada segmento? Que relação eu quero ter com os setores que investem no esporte, em especial a televisão? Que posição estratégica eu terei frente aos meus adversários, sejam locais ou nacionais? Que imagem eu quero que o meu torcedor tenha do Vasco? Qual a maioria política interna que será formada para sustentar isso? Nada disso pode ser respondido porque não existe projeto e duvido que haja alguém que tenha idéia de que isso é fundamental. Ignoram porque são ignorantes em termos de Vasco e de esporte.

A partir de 1986 o Vasco teve tudo isso. Uma maioria interna que sustentava a diretoria, um posicionamento estratégico que colocava o clube no mesmo patamar de nosso principal rival e acima dele nas articulações de entidades e televisão. E mais: uma imagem de força do Vasco, de clube que deveria ser temido. Infelizmente, muitas vezes, a nossa torcida não esteve a altura da imagem criada, mas esse é outro ponto.

Essa posição gerou inimigos fortes. A começar pela imprensa esportiva, majoritariamente rubro-negra, passando por setores do Vasco alijados do processo por total incapacidade de empreender uma política dessas. A política de sabotagem pós 2001 tirou o Vasco da posição de conseguir, seguidamente, montar grandes times, como entre 86 e 2000, mas não foi capaz de destruir a capacidade de manter o clube bem articulado no cenário esportivo e em termos patrimoniais.

Hoje, não há mais nada. O Vasco não faz parte do poder decisório do futebol brasileiro e nem fará. É um clube de segunda linha, com uma torcida importante, mas passiva e sem força. Vai andar por onde andam outros, ciscará aqui e ali, pode até ganhar uma competição ou outra, mas voltará ao lugar onde esteve nos anos 60 e parte dos anos 70. Não ameaçará aquele que não deve ser ameaçado. Perderá força nacionalmente assim como perderam Fluminense e Botafogo, que hoje variam entre 1 % e 2% da torcida brasileira. De resto, perder patrimônio, ver São Januário sujo como num passado já distante, se acostumar a andar de cabeça baixa pelas ruas será apenas conseqüência.

Isso só poderá se revertido pelos homens do Vasco. De conselheiros a sócios. Ignorem a imprensa esportiva. Ela quer a nossa derrocada. Façam como os vietnamitas ao enfrentarem os norte-americanos por mais de 15 anos. Eles não tinham a alimentação dos americanos, o equipamento dos americanos, as bombas dos americanos, o dinheiro dos americanos e nem o domínio das agências de notícias dos americanos. Mas tinham a vontade de acabar uma história de dominação. Já tinham expulsado os franceses e não queriam novamente ter quem os dominasse. Perderam dois milhões de homens, mulheres ou crianças, mas quem teve que abandonar o território foram os invasores. Só os verdadeiros vascaínos podem tirar os invasores do Vasco. Se os vascaínos de hoje não conseguirem estarão desrespeitando a memória dos que construíram a mais bela história de uma Instituição do esporte brasileiro. A próxima reunião do Conselho Deliberativo será apenas o primeiro passo para a redenção ou o abismo.

Fonte: Casaca