Considerado a solução para a crise que o Vasco viveu nos últimos anos da administração Eurico Miranda, o Movimento Unido Vascaíno não sobreviveu ileso a sete meses no comando do clube. A crise aberta com o pedido de demissão de José Henrique Coelho, ex-vice-presidente de marketing, e as acusações feitas por ele ao presidente Roberto Dinamite, confirmam o racha que já vem se desenhando desde que o grupo assumiu o poder.
Logo que substituiu Eurico Miranda, Roberto Dinamite teve problemas para solucionar questões como a distribuição de ingressos para a torcida. Enquanto José Henrique Coelho sempre se mostrou contrário à ajuda, que facilita a ação dos cambistas, Dinamite não conseguiu dar fim ao hábito da gestão anterior. Em outubro, o Ministério Público Estadual abriu inquérito para apurar as acusações de desvio.
A nova diretoria do Vasco chegou a cancelar a prática nos primeiros meses da gestão, o que desagradou os torcedores. Entretanto, o expediente voltou a ser usado, com a intenção de acalmar a torcida, em crise com o time por conta da má campanha no Campeonato Brasileiro.
Outro problema enfrentado pela diretoria foi a descoberta de que Luiz Américo Chaves, vice-presidente jurídico do clube, recebia salários. Apesar da alegação de que o pagamento não seria ilegal por não se tratar de uma vice-presidência presente no estatuto vascaíno e, assim, uma função não-remunerada, Chaves optou por deixar o cargo e assumir o papel de assessor jurídico.
Já no fim de 2008, início de 2009, uma nova polêmica expôs as divergências entre os caciques vascaínos. José Henrique Coelho tentou alterar os uniformes do time de futebol com o intuito de buscar um aumento nas vendas. As mudanças não foram bem aceitas pela torcida e Roberto Dinamite e Luso Soares da Costa, vice-presidente de patrimônio, vieram a público desmentir as inovações propostas por Coelho, que deixou o episódio enfraquecido.
Outro motivo de discussões internas é a participação de Carlos Leite na montagem do elenco vascaíno deste ano. Alguns dirigentes discordaram do alto grau de interferência do empresário nas decisões do clube. Nos bastidores, Leite é chamado ironicamente de vice de futebol.
Com a saída de José Henrique Coelho, existe ainda a possibilidade de outros nomes abandonarem a diretoria. O ex-presidente do MUV pode levar alguns seguidores e a formação de uma nova chapa de oposição não está descartada.
José Henrique Coelho, o 'lado radical' do MUV
José Henrique Ferreira Coelho. Este é o nome do protagonista da maior crise da gestão Dinamite desde que o ex- atacante foi eleito presidente do Vasco, em junho do ano passado. As acusações feitas pelo ex-vice-presidente de marketing em carta-renúncia divulgada na última quarta-feira levantam até a possibilidade de um pedido de impeachment de Roberto.
Esta não é a primeira vez que Coelho abre fogo contra o comando do Vasco. Durante os últimos seis anos, ele foi um dos maiores opositores a Eurico Miranda, tanto que possui dois processos na Justiça contra o ex-dirigente. Coelho, na função de presidente do Movimento Unido Vascaíno (MUV), foi um dos principais articuladores da eleição de Roberto Dinamite.
Empresário de sucesso do ramo de confecções, José Henrique Coelho sempre foi conhecido pelo seu temperamento aguerrido. Durante o processo eleitoral do ano passado, ironizou a indicação de Amadeu Pinto da Rocha para a presidência, chamando-o de "Amadeu Miranda", uma insinuação de que ele não passaria de um fantoche para a permanência de Eurico no poder.
Após a denúncia de fraude no pleito ocorrido em novembro de 2006, José Henrique Coelho, ao lado de Luiz Américo Chaves, coletou provas e pressionou a Justiça até a anulação da vitória de Eurico Miranda e o agendamento de uma nova eleição. Coelho tem coordenado o questionamento dos balanços fiscais divulgados pela antiga diretoria referentes a 2005, 2006 e 2007.
Na luta para derrubar Eurico Miranda do poder, José Henrique Coelho ajudou a montar dentro do MUV os três pilares que sustentam a atual diretoria. Além da parte política, representada por ele e pelo ex- jogador de vôlei e ex-presidente do MUV, Fernandão, representantes da colônia portuguesa, como Luso Soares da Costa e José Pinto Monteiro, fortaleceram o movimento junto ao Conselho de Beneméritos e o quadro social. Coube a Roberto Dinamite, com grande aceitação dos torcedores e da mídia, completar a estrutura política do Vasco atual.
Fonte: Lancenet