NETVASCO - 31/01/2009 - SÁB - 04:30 - Há 50 anos, vascaíno Edson Bispo se sagrava campeão mundial de basquete
Há 50 anos, em 31 de janeiro de 1959, o Brasil se sagrava campeão mundial de basquete masculino no Chile. Era a primeira grande conquista do país na modalidade. E havia um vascaíno entre os 12 jogadores que trouxeram a taça das quadras chilenas: Edson Bispo, nada menos do que um dos 5 titulares da seleção brasileira.
O que Edson Bispo dos Santos queria, na verdade, era ser jogador de futebol. Chegou a passar num teste para o Fluminense, mas não ficou no clube devido a problemas de racismo. Edson era negro. O Vasco surgiu, portanto, como caminho natural. Porém a concorrência era forte: mais da metade do Expresso da Vitória ainda estava em São Januário. Coube ao treinador Oto Glória encontrar a saída. Sugeriu que Edson, de 1,98m, procurasse o time de basquete.
Foi um conselho abençoado: jogando como pivô na equipe juvenil, em apenas seis meses chegou ao time adulto e um ano e meio depois (1954) já estava na Seleção Brasileira. Foi um dos primeiros atletas a utilizar a jogada conhecida como "gancho". Curiosamente, Edson pertencia ao Exército na época e, por isso, precisava obter liberação do Ministério da Guerra a cada viagem que precisasse fazer para competir.
Como atleta vascaíno, foi bronze no Pan do México em 1955, 6º lugar nas Olimpíadas de Melbourne-1956, campeão sul-americano no Chile em 1958 e campeão mundial em 1959. O jogo do título foi contra os donos da casa e Edson jogou no sacrifício, pois estava gripado e com febre desde o início da fase final. Detalhe: toda a fase decisiva foi disputada numa quadra montada sobre o gramado do Estádio Nacional de Santiago, mesmo local onde em 1948 o time de futebol do Vasco havia conquistado o 1º Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões.
Após o título mundial Edson Bispo transferiu-se para o basquete paulista, jogando inicialmente no Corinthians e, mais tarde, no Palmeiras e no Hebraica. Continuou ganhando títulos, com destaque para os dois bronzes olímpicos seguidos em Roma-1960 e Tóquio-1964. Ao todo, marcou 589 pontos em 60 jogos oficiais pela Seleção. Encerrou sua carreira como jogador em 1969 e tornou-se técnico, função em que também chegou à Seleção Brasileira. Obteve, como principal resultado, o ouro no Pan de Cáli em 1971. Despediu-se do cargo em 1976 com 40 vitórias em 53 partidas oficiais.
Hoje, aos 74 anos, Edson Bispo é funcionário aposentado da prefeitura de São Paulo e ainda tem sua vida ligada ao basquete. Ele comanda a Avebesp (Associação de Veteranos de Basquete do Estado de São Paulo) e é diretor do setor educacional-esportivo da Federação Paulista de Basquete.
Homenageado no dia 30 de janeiro, juntamente com outros 4 campeões de 1959 (Amaury, Jatyr, Waldyr Boccardo e Wlamir Marques), Edson Bispo declarou ao Sportv:
"Nem quando nós fomos campeões mundiais nós recebemos tantas homenagens assim. Nós não esperávamos depois da idade que nós chegamos receber esse reconhecimento na mídia, todas essas homenagens que nós estamos recebendo. É muito gratificante, porque falam que o Brasil não tem memória. Mas hoje está provado que através de vocês, da imprensa, da mídia televisada, falada, dos atletas, dos dirigentes de resgatar essa nossa atuação há 50 anos atrás é uma coisa muito relevante, muito importante. Eu só tenho a agradecer a todos vocês."
Além de Edson Bispo, outros dois campeões mundiais de 1959 jogaram no Vasco em algum momento de suas carreiras: Fernando Pereira de Freitas (mais conhecido como Fernando Brobró, falecido em 2006 aos 71 anos) e Waldyr Geraldo Boccardo (72 anos).
FICHA TÉCNICA
Dados Pessoais
Nome: Edson Bispo dos Santos
Posição: Pivô
Data de Nascimento: 27/05/1935
Local de Nascimento: Rio de Janeiro (RJ)
Altura: 1,98m
Clubes - como Jogador
1952 a 1958 - Vasco da Gama-RJ
1959 - Corinthians-SP
1960 a 1970 - Palmeiras-SP
1970 - Hebraica-SP
Seleção Brasileira - como Jogador
- Jogos Olímpicos:
. 6º lugar em Melbourne (Austrália - 1956) - 76pts/7 jogos
. medalha de bronze em Roma (Itália - 1960) - 83pts/8 jogos
. medalha de bronze em Tóquio (Japão - 1964) - 74pts/6 jogos
- Campeonato Mundial:
. campeão (Chile - 1959) - 90pts/8 jogos
- Jogos Pan-Americanos:
. medalha de bronze na Cidade do México (México - 1955) - 21pts/4 jogos
. medalha de bronze em Chicago (EUA - 1959) - 84pts/6 jogos
. medalha de prata em São Paulo (Brasil - 1963) - 40pts/6 jogos
- Campeonato Sul-Americano:
. campeão (Chile – 1958) - 88pts/6 jogos
. campeão (Argentina - 1960) - 94pts/6 jogos
589 pontos em 60 jogos oficiais
Seleção Brasileira - como Técnico
53 jogos (40 vitórias e 13 derrotas) em 7 competições oficiais.
- Campeonato Mundial
. 6º lugar (Porto Rico - 1974)
- Torneio Pré-Olímpico das Américas
. 4º lugar (Canadá - 1976)
- Jogos Pan-Americanos
. 7º lugar em Winnipeg (Canadá - 1967)
. medalha de ouro em Cali (Colômbia - 1971)
. medalha de bronze na Cidade do México (México - 1975)
Veja os 50 anos da primeira grande conquista do basquete brasileiro. Duas das maiores estrelas do time campeão mundial, Amaury Pasos e Edson Bispo, relembram a importância na história do esporte
Edson Bispo e os demais campeões do mundo em 1959 recebem homenagem durante o intervalo de um jogo do Campeonato Nacional de Basquete
CAMPANHA
1ª FASE
Brasil 69 X 52 Canadá 16 de janeiro - Para escapar do nervosismo da estreia na competição, o adversário não poderia ter sido melhor. A seleção canadense não chegou a representar perigo para o time do Brasil, que se mostrou superior desde o início. O destaque da partida foi Amaury, cestinha do time com 17 pontos, seguido por Edson Bispo, com mais 16.
Brasil 64 X 73 URSS 17 de janeiro - Mais fortes fisicamente e mais altos, os soviéticos foram a pedra no sapato da seleção brasileira no Mundial de 1959. Depois de um primeiro tempo inconstante, o Brasil - assim como o cestinha do time no jogo Wlamir, com 17 pontos - conseguiu se encontrar na etapa complementar, mas não evitou a derrota.
Brasil 78 X 50 México 18 de janeiro - Precisando da vitória para garantir a classificação para a segunda fase, o técnico Kanela colocou a seleção brasileira para jogar no ataque. Contra um frágil adversário, o Brasil abriu 20 pontos de vantagem antes do intervalo. Com isso, o treinador, pouco afeito a mudanças, poupou os titulares da etapa complementar.
2ª FASE
Brasil 94 X 76 Taiwan 22 de janeiro - Sem o pivô Edson Bispo, acometido por uma forte gripe, a seleção brasileira não teve problemas na estreia na segunda fase do torneio. Mais uma vez, o time comandado por Kanela abriu uma boa vantagem na metade inicial do jogo e os reservas tiveram oportunidade de ficar mais tempo em quadra no segundo tempo.
Brasil 62 X 53 Bulgária 23 de janeiro - A seleção brasileira nunca havia vencido a Bulgária antes de entrar em quadra, e seguia o temor de se enfrentar uma equipe da Europa Oriental, ainda mais após a derrota para a URSS. Mas em uma partida parelha, os atletas do Brasil conseguiram passar pelo jogo ríspido dos búlgaros e comemoraram muito a vitória.
Brasil 63 X 66 URSS 24 de janeiro - Com Edson Bispo e Waldemar jogando no sacrifício - estavam com muita febre na hora do jogo - os soviéticos venceram mais uma vez. Mas no dia seguinte, depois de a URSS confirmar que não enfrentaria Taiwan, pois não consideravam a ilha um país, a vitória por WO caiu no colo da seleção brasileira.
Brasil 99 X 71 Porto Rico 28 de janeiro - Em mais uma grande atuação de Wlamir, que ganharia o prêmio de melhor jogador da competição, a seleção brasileira passou com mais facilidade do que imaginava por Porto Rico, que na época já tinha um time forte. Mesmo assim, a partida contou com momentos de nervosismo, inclusive com Waldemar sendo expulso.
Brasil 91 X 67 EUA 30 de janeiro - Mesmo com um time das forças armadas, os norte-americanos chegaram fortes para o Mundial. O Brasil ainda não havia vencido esse adversário em competições oficiais, mas essa sina ficou no passado. Com 26 pontos na melhor partida da competição, Wlamir deixou a seleção a uma vitória da conquista inédita.
Brasil 73 X 49 Chile 31 de janeiro - Mesmo com a eliminação da URSS, a seleção brasileira precisava da vitória para conseguir o título. Mas os donos da casa, que seriam campeões se vencessem por 11 pontos de diferença, em nenhum momento complicaram a vida dos visitantes. Aplaudido de pé, o Brasil chegava ao topo do basquete mundial.