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NETVASCO - 26/01/2009 - SEG - 17:38 - Queda fez Vasco deixar de ganhar mais de R$10 milhões em cotas de TV

Tomada isoladamente, a verba recebida com os direitos de transmissão dos jogos tem sido a maior componente entre os diversos itens que compõem a receita operacional dos clubes brasileiros. Pensando numa forma ideal, os clubes de futebol, ou melhor, o futebol profissional dos times, inclusive as divisões de base, deveria ser mantido unicamente com essas receitas. Delas não fazem parte, evidentemente, os valores obtidos com as transferências de atletas. Assim como as contratações não deveriam fazer parte do item “Despesas Operacionais”. Era o que preconizava o, na prática, extinto G14 para seus filiados, os maiores clubes de futebol do mundo.

Recordando rapidamente, as principais fontes de receitas operacionais, são:

Direitos de TV
Bilheteria (ou Matchday, no conceito europeu, mais completo)
Receitas de Marketing - Patrocínios
Licenciamento da Marca
Receitas com Sócios-Torcedores

Idealmente, os clubes que possuem estádios devem administrá-los à parte, como um centro próprio gerador de receitas e despesas. A própria publicidade estática incluída no pacote de negociação da TV, deve ser contabilizada na conta “estádio”.

Novamente num conceito do que seria ideal, deveria haver o máximo equilíbrio entre os itens operacionais, de forma a que o clube pouco sofresse no caso de um problema com um ou outro, numa visão pessimista, ou, numa visão otimista, de forma a que o clube buscasse sempre auferir o máximo de rendimento em cada um deles, ao mesmo tempo, elevando a receita total.

Infelizmente, por motivos muitos que não cabe agora analisar, nossos clubes são TV-dependentes.

Não por coincidência, a organização e seriedade do modelo implantado pelas emissoras, relacionando-se de forma mais profissional com os clubes, através de seu representante, o Clube dos Treze, processo ainda mais evidente depois da introdução do sistema de pontos corridos, tem levado os clubes a uma progressiva melhoria em sua organização. Ressalve-se que essa é tão somente a opinião desse blogueiro.

Feita essa introdução, vamos ao tema desse post, propriamente dito.

Falando um pouco sobre os Direitos de Transmissão do Brasileiro

Com o novo contrato negociado válido para o triênio 2009/2011 entre emissoras e clubes, passamos a ter doravante pelo menos duas formas distintas de pagamento: o correspondente às emissoras de sinal aberto e fechado, e o pagamento referente aos jogos vendidos pelo sistema PPV - pay per view ou pagar-para-ver.

(Como marketing é um dos meus assuntos preferidos, minha escolha de nome é pay-per-view, em inglês, apenas como curiosidade. Combinam melhor.)

O pagamento é dividido em doze parcelas mensais.

É importante ter em mente que de cada pagamento são deduzidos 5% de direito de arena para os atletas e mais 5% para o INSS. Até a temporada passada havia ainda o desconto de 1,75%, referente à taxa de manutenção do Clube dos Treze. Durante a negociação do novo contrato, o Clube dos 13 negociou a cessão de seus direitos de nome com a Rede Globo, pelo valor de 10 milhões de reais. Esse valor, negociado à margem do contrato principal, na prática significa um aumento de igual quantia no bolo destinado aos clubes, ainda que de forma indireta, pois o Clube não mais é mantido pelas contribuições dos associados.

Para 2009, a verba destinada aos clubes é de 300 milhões de reais por parte das emissoras abertas e fechadas, e mais 110 milhões por parte do PPV.

Da verba de 300 milhões sairão, também, os pagamentos das despesas de viagens e estadia (despesas de hotel) dos clubes, que são feitas pelo Clube dos Treze.

Na assembléia de 15 de janeiro ficou definido que os clubes teriam direito a um mínimo de 1,5% na distribuição das verbas do PPV, desde que não tivessem alcançado esse percentual nas pesquisas encomendadas para aferir a participação de cada torcida.

Essa mesma assembléia delegou à diretoria executiva do Clube dos Treze a negociação com os 4 clubes convidados: Náutico, Avaí, Santo André e Barueri.

Além das cotas referentes aos direitos, eles também terão suas despesas de viagens e estadia pagas.

Outro esclarecimento: o Clube dos Treze funciona como uma empresa independente, recebendo o dinheiro das emissoras e distribuindo-o entre seus associados. Essa forma pode gerar protestos de algumas torcidas, mas foi a fórmula encontrada pelos clubes brasileiros para se relacionarem com as emissoras, negociando seus direitos e a administração dos recursos recebidos.

Como nos anos anteriores, os clubes estão divididos em alguns grupos:

I - Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco da Gama;
II - Santos;
III - Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Fluminense, Botafogo;
IV - Atlético Paranaense, Coritiba, Goiás, Sport, Vitória
V - Portuguesa;
VI - Bahia, Guarani;
VII - Convidados: Náutico, Avaí, Santo André, Barueri.

Os membros de cada grupo têm direito a uma cota fixa sobre o valor dos direitos para as emissoras de sinal aberto e fechado; cada divisão ficará mais clara de ser percebida na tabela a seguir, que mostrará os valores fixos citados e os valores variáveis do PPV, exceto para os times que receberão a cota mínima.

Aos valores, então:




*Vasco: o clube faz parte do Grupo I e teria direito à cota de 21.000.000. Como foi rebaixado para a Série B, terá direito, em 2009, a 50% da cota, tal como ocorreu com o Corinthians em 2008 e com os outros clubes rebaixados.

O pagamento dos direitos

Vamos deixar mais clara a situação do mês a mês dos clubes. Antes, porém, dessa nova tabela, uma lembrança não muito agradável para os torcedores: praticamente todos os clubes, à exceção de um, talvez dois, receberam ou negociaram por via bancária antecipações de seus direitos de TV do ano em curso.

Os primeiros adiantamentos serão descontados integralmente no decorrer desse ano. No segundo semestre, com o agravamento da crise financeira e o corte radical no crédito, que afetou da poderosa Petrobras ao armazém da esquina, a Globo viu-se, praticamente, forçada a socorrer os clubes. Esse é o verbo correto, mesmo que alguns torcedores venham a não gostar. Os seguidos depoimentos de presidentes de clubes entre final de julho e começo de outubro demonstraram claramente a situação desesperadora em que muitas dessas instituições se encontravam. Mais que liberar adiantamentos, as emissoras e o Clube dos Treze acordaram a possibilidade dos clubes pagarem esses adiantamentos em até 36 parcelas, ou seja, durante toda a duração do novo contrato. Dessa forma, os clubes preservaram o recebimento de parte de seus direitos de 2009. Se isso não tivesse sido negociado, o santo vestido em 2008 entraria o novo ano pelado, literalmente.

Portanto, as parcelas mensais que serão vistas na tabela não correspondem, integralmente, ao que receberá a maioria dos clubes.

Outro ponto importante: os pagamentos referentes ao PPV estão marcados para janeiro a junho, inclusive.

Por que?

Porque está aberta a possibilidade dos pagamentos de julho a dezembro serem feitos a partir de nova pesquisa que seria realizada no decorrer de maio, provavelmente, ou no início de junho, o mais tardar. Essa decisão será tomada pelos clubes, em assembléia.

Não custa repetir para evitar as cobranças nos comentários: fazer ou não uma nova pesquisa para definir os valores pagos pelo PPV será uma decisão tomada pelos clubes.

Aos números, então:




Aí está a realidade do futebol brasileiro e sua relação com a TV. Apesar do instável câmbio do real e suas oscilações incompreensíveis, ainda assim é um dos maiores e melhores contratos de vendas de direitos de transmissão em todo o mundo.

Na visão deste Olhar Crônico Esportivo é um esquema profissional, que vem funcionando à perfeição. O falecido e saudoso Marcelo Portugal Gouvêa, ex-presidente do São Paulo, disse-me, literalmente, em uma de nossas conversas, que em seus quatro anos de presidência o dinheiro da TV era algo com que ele contava com total segurança e que nunca falhou. Disse mais: essa parceria, mesmo com alguns problemas, como é natural, era a melhor que ele conhecia, extremamente profissional. Chata na hora de negociar, mas perfeita cumpridora de suas obrigações depois do acordo fechado.

Esse acordo é passível de críticas?

Claro que sim, como todo e qualquer acordo comercial e distribuição de verbas entre entidades tão distintas. Mas, inegavelmente, temos aqui a faceta mais profissional e evoluída de nosso futebol.

Novamente, na minha visão, essa relação tem sua parcela de influência sobre o desenvolvimento dos clubes, que, embora lentamente, vem acontecendo.

Fonte: Blog Olhar Crônico Esportivo - GloboEsporte.com

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