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NETVASCO - 24/01/2009 - SÁB - 15:15 - Padre Lino, ex-atleta e ex-capelão do Vasco, fala da passagem pelo clube

Talvez por causa dele, a Vila Kennedy entrou definitivamente no mapa. José Carlos Lino de Souza, de 48 anos, prega há 20 na Paróquia de Cristo Operário, cravada à beira da Avenida Brasil. Tal como Dom Hélder Câmara (por quem nutre grande admiração), padre Lino ganhou projeção devido à política. Nas eleições do ano passado, foi o braço religioso da campanha do prefeito Eduardo Paes na Zona Oeste. Calcula que, “com o poder multiplicador da Igreja Católica”, tenha levado 120 mil fiéis a digitar o número 15 nas urnas.

Agora, o sub-bairro de Bangu deve receber uma Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas (UPA), além de investimentos no esporte e no abandonado Parque do Medanha.

Mas, em 2009, o ex-capelão do Vasco da Gama e ex-sargento da Aeronáutica quer mais: “Vou trazer o presidente americano Barack Obama para a Vila Kennedy!”.

Hoje, a lembrança mais forte que padre Lino, um assumido cabo eleitoral de Paes, guarda do candidato derrotado Fernando Gabeira (PV) é “aquela foto dele de biquíni na praia”.

Detalhe: a fotografia a que o pároco se refere foi tirada há quase 30 anos, e Gabeira trajava uma tanga de crochê, e não um biquíni, em Ipanema.

Raramente padre Lino faz uso de eufemismos quando o assunto é um desafeto. O estilo direto rendeu-lhe, no ano passado, o papel de conselheiro do então candidato à prefeitura Eduardo Paes. Haviam sido apresentados um ao outro pelo ex-dirigente do Vasco Eurico Miranda, num jogo em São Januário. Uniram-se em torno do apoio da Zona Oeste, à qual se refere como “a menina pobre da cidade”. Sua paróquia, na época, reunia mais de 5 mil fiéis. Desde que se tornou “amigo do prefeito”, contudo, o número de fiéis aumentou.

— Pensam que é fácil, mas lidar com político é lidar com um raça complicada. Pior do que padre — dispara Lino.

Esse cearense de olhos vivos e gestos contidos nasceu em uma rede, em Fortaleza, pelas mãos de uma parteira. Apesar de morar em São Paulo, onde o marido era dono de uma fábrica de sapatos, sua mãe tinha medo de que alguém o trocasse numa maternidade. Repetiram duas vezes a viagem ao Nordeste, ondem também nasceram seus dois irmãos mais novos.

Em São Paulo, aprendeu o ofício do pai — “descalço eu não ando”, gaba-se. Porém, não criou raízes por lá. A família era alérgica ao frio. Mudaramse para Vila Isabel, subúrbio do Rio. Padre Lino ingressou na Base Aérea do Galeão, onde chegou a sargento.

Em 1982, decidiu se tornar padre. Ordenou em 1987, e passou por Madureira, Senador Camará e Campo Grande antes de chegar a Vila Kennedy.

— A paróquia é uma referência, e a Avenida Brasil, minha rua — diz o padre, lembrando que, somente na Vila Kennedy, Paes obteve 23.484 votos no segundo turno, contra 12.707 de Gabeira.

Pousados sobre a mesa do novo escritório do padre, estão um mouse óptico, um teclado multimídia e a caixa vazia de um monitor Samsung de 15 polegadas. Chama atenção ainda o livro “Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização”, de Franklin Foer.

Padre Lino está escrevendo um livro, a ser lançado este ano. Abordará esporte e religião, “dois assuntos que estão relacionados desde o início dos tempos”, ressalta.

A afirmação traz como pano de fundo sua própria biografia.

Padre Lino tornou-se esgrimista do Vasco aos 17 anos e, na inauguração do Estádio Célio de Barros, correu a primeira competição de 100 metros rasos. Voltou ao clube em 1998 para rezar a missa de seu centenário e virou capelão.

— Aquilo foi crescendo, crescendo, até que virou o evento central do centenário, com 15 mil pessoas — lembra.

O Vasco lhe rendeu contatos com figuras proeminentes da sociedade carioca. Ao contrário de Edmundo e Romário, duas estrelas que considera “pessoas complicadas”, admira, no futebol, Carlos Alberto Parreira, Zagallo e Ricardo Teixeira, além de Juninho Pernambucano, que apelidou de “Rei de Lion”.

— Gosto dos holofotes. A consequência disso é estar com pessoas famosas — diz.

Com três faculdades no currículo (Filosofia, Teologia e História), padre Lino diz que a Paróquia do Cristo Operário é seu orgulho. Segundo ele, a igreja é recordista em ordenar padres: foram sete formados desde agosto de 1989, quando assumiu o posto em Vila Kennedy.

— O bairro e a paróquia mudaram muito. A comunidade dobrou de tamanho e o poder aquisitivo melhorou — afirma o pároco. — Quando vim para cá, ninguém conhecia Vila Kennedy.

Então, eu dizia que ficava no caminho para Angra dos Reis.

Naquela época, o templo era muito modesto. Hoje, a paróquia tem cinco funcionários e até um campo de futebol. Segundo Lino, os projetos sociais da igreja beneficiaram mais de 12 mil crianças em 20 anos. A paróquia oferece ainda escolinhas de futebol e vôlei.

Com 20 computadores doados pelo Tribunal de Justiça, a igreja iniciará este mês um curso de informática.

Mas a principal empreitada de padre Lino está reservada para este ano. Ele pretende estreitar relações “há muito tempo perdidas” com os Estados Unidos, cujo dinheiro ajudou a criar a Vila Kennedy, e trazer o presidente Barack Obama para conhecer a comunidade.

— É o bairro mais americano do Rio, o projeto é deles. Faz todo o sentido Obama vir — afirma, para em seguida lembrar: — Não gosto dos Estados Unidos.

É muito difícil entrar no país.




Fonte: O Globo - Zona Oeste

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