NETVASCO - 17/01/2009 - SÁB - 22:20 - HÁ 50 ANOS O VASCO SE SAGRAVA SUPER-SUPERCAMPEÃO CARIOCA
Há exatamente 50 anos, no dia 17 de janeiro de 1959, o Vasco da Gama empatava por 1 a 1 com o Flamengo e conquistava um dos títulos mais sensacionais de sua história: o de super-supercampeão carioca de 1958. Mas por que super-supercampeão? A explicação é simples. Naquela época, os campeonatos eram em turno e returno e pontos corridos; quando dois clubes terminavam empatados em pontos ganhos, disputavam o título numa "melhor-de-três"; quando três ou mais clubes terminavam empatados, havia um "mini-campeonato" entre eles, em turno único, chamado "supercampeonato", para definir o campeão. Pois em 1958 houve a necessidade não de um, mas de dois triangulares entre Vasco, Flamengo e Botafogo. O segundo triangular, realizado já em janeiro de 1959, foi chamado de "super-supercampeonato". No final, deu Vasco. A NETVASCO tem o orgulho de contar a história de mais um título inesquecível do Vasco da Gama que, espera, possa servir de inspiração para a temporada 2009. Este Especial será continuamente atualizado durante todo o sábado, dia 17.
VASCÃO DA GAMA, SUPER-SUPERCAMPEÃO CARIOCA DE 1958
Foram mais de seis meses de competição e dois triangulares extras para que o vencedor da temporada de 58, ano de ouro do futebol brasileiro, fosse conhecido. E foi no empate em 1 a 1 contra o Rubro-negro que o Vasco levantou o título de Campeão Carioca de 1958, em um dos certames mais emocionantes e disputados da história do futebol da Cidade Maravilhosa. A partida, jogada em um sábado à noite, devido ao forte calor do verão do Rio de Janeiro, fechava o segundo triangular desempate que decidiu a competição.
Depois de dois turnos e 132 jogos, Vasco, Botafogo e Flamengo chegavam ao fim da competição em igualdade de pontos ganhos (32) e exatamente com a mesma campanha: 14 vitórias, 4 empates e 4 derrotas. Mesmo tendo permanecido na liderança isolada durante quase todo o campeonato, o Gigante da Colina foi cedendo terreno e, justamente nas duas últimas rodadas, foi derrotado pelos dois concorrentes, que com esses resultados acabaram por alcançá-lo no topo da tabela.
Estavam presentes naquele Carioca vários craques que tinham acabado de se consagrar para sempre depois da conquista do Copa do Mundo na Suécia. Do time titular na partida final em Estocolmo, nada mais, nada menos do que sete jogavam no trio que disputou a decisão extra: Orlando, Bellini e Vavá (Vasco); Nilton Santos, Didi e Garrincha (Botafogo); e Zagallo (Flamengo). Este último clube ainda tinha Joel e Dida, que atuaram nos dois primeiros encontros, e Moacir, que não chegou a atuar.
Depois de mais um empate na decisão extra (cada um venceu uma partida), um novo triangular foi necessário para que se conhecesse o campeão. Na primeira rodada, o Vasco encararia o Botafogo em uma espécie de revanche, já que fora o Alvinegro que lhe tirara a chance de levar a taça na semana anterior, na derrota por 1 a 0, quando um empate já lhe bastava. Mas dessa vez os cruzmaltinos levaram a melhor: 2 a 1! Na partida seguinte, o empate entre Fla e Bota acabou por beneficiar o time de São Januário, já que com isso, bastaria não ser derrotado pelo time rubro-negro no jogo final para ficar com o título.
O JOGO FINAL
1 X 1 NA DECISAO DO “HIPERCAMPEONATO”: VASCO, CAMPEÃO DO “ANO DE OURO”
E tudo acabou como devia acabar: o Vasco da Gama, enfim, em sua quarta tentativa, premiado com o título inédito, pelo qual sofreu mais do que todos. O Flamengo, sem sair derrotado, mantendo a cabeca erguida, num adeus de fibra e categoria. E o jogo, em si, brilhante, nervoso, estrategicamente bem mexido, e, individualmente, jogado com aquela arte que só o jogador brasileiro possui.
Os dois começaram iguais: o Vasco defendendo com oito e atacando com seis. Sabará e Pinga - mais Sabará do que Pinga - desceram sempre, notadamente na primeira etapa. Da sua parte, o Flamengo trazia Babá e Luiz Carlos para desfazer os momentos de maior perigo. Quando avançavam, os dois times o faziam com igual decisão. Será interessante notar, no terreno puro da tática, que não esteve alheia ao jogo, que os dois conjuntos se metamorfosearam por igual, com suas manobras. Começaram em 4-4-2, chegaram a estar numa espécie de 5-3-2 (o Vasco descendo Écio como quinto homem de área e o Flamengo recuando Moacir), e por fim, estabilizaram-se num 4-3-3, desconcertante pela velocidade e pelas pinceladas de arte futebolística que marcaram sua aplicação pelos dois bandos.
As ordens do comando, porém não prejudicaram - e isso nunca poderia suceder - ao jogo, de uma forma geral. Houve provas de conjuntos primorosos e com suas respectivas lições bem decoradas. Houve artimanhas individuais de categoria exemplar. Houve, sobretudo, velocidade. Foi um dos jogos mais velozes dos últimos tempos. Dentro disso tudo, vale destacar as performances individuais de Paulinho (excepcional), Bellini, Valdemar, Roberto, Sabará e Pinga entre os hipercampeões, e Fernando, Pavão, Henrique e Babá entre os vice-campeões.
Num jogo onde os dois esquadrões vão para campo dispostos a tudo, é louvável, ainda, que se possa falar em alta esportividade, como a que se verificou ao final. Foi um jogo duro, mas nunca desleal.
UMA ETAPA E UM GOL PARA CADA TIME
O primeiro tempo foi mais do Flamengo. Movimentava-se melhor, revezava com inteligência seus homens de ataque, forçando com precisão enervante o último reduto vascaíno. Nesta etapa os cruzmaltinos tiveram que se defender com unhas e dentes. No período complementar, porém, o Vasco deu o troco. Voltou calmo e jogando no chão. Roberto desceu para policiar Babá, e Sabará conquistou definitivamente a meia-cancha. Aí o Vasco cresceu, encurralando o Rubro-negro até pelo menos marcar o seu gol. Depois houve a reação desesperada do Fla e o empate. Mas o Almirante continuou mais calmo e mais senhor das ações, mantendo, assim, o resultado que lhe deu o título.
O gol de Roberto Pinto foi marcado aos 13 minutos. Sabará centrou, Roberto recebeu livre, a defesa do Flamengo parou pensando que ele estava impedido (não estava, pois do outro lado, Jadir lhe dava condicao de jogo), e o tiro partiu seco, batendo Fernando inapelavelmente. Aos 24 minutos, Babá empatou para o time da Gávea. Moacir bateu uma falta, Bellini devolveu de cabeça, Babá travou, não foi chargeado e fuzilou Miguel.
Eunápio de Queiróz cumpriu magnífica atuação. Bem ajudado pelos atletas, pôde mostrar que é realmente o melhor juiz da cidade. A arrecadação somou a cifra de mais de 5 milhões de cruzeiros, com uma assistência total de cerca de 150.000 pessoas, recorde entre clubes.
LANCE A LANCE
Primeiro tempo:
5 minutos - Sabará, deslocado para o miolo, dá a Pinga, que avança, chuta e Fernando agarra firme. Perigo.
8 minutos - Almir trama com Sabará, este dá para Pinga, que chuta violentíssimo, rente a trave.
12 minutos - Moacir, em brilhante jogada, entrega a Babá, deslocado para a meia direita, que fuzila. Grande perigo.
14 minutos - Luiz Carlos passa por Coronel e Orlando, e atira um rojão que passa raspando.
16 minutos - O Flamengo cresce. Agora Moacir dá a Henrique, este a Dida, que balança o corpo e chuta com malícia. Miguel salva.
21 minutos – Dida, com a corda toda, agora corta Bellini e fuzila. Miguel manda a córner.
30 minutos - Agora é Sabará. Sempre deslocado, vai pelo miolo e, perto da área, arremessa perigosamente.
31 minutos - Valdemar faz falta. Henrique dá um petardo que passa pela barreira. Defende Miguel depois de largar.
36 minutos - Sabará avança pela ponta esquerda, dá a Almir que, na corrida, atira pelo alto, rente a trave.
43 minutos - Almir dá um esticão para Valdemar, que fuzila. Fernando voa e manda a corner. Perigo.
45 minutos - Écio a Sabará, este a Pinga, que avança pelo centro e desfere petardo potente, rente a trave.
Segundo tempo:
2 minutos - Sabará cobra um hands com perigo. A bola passa pela barreira e Fernando defende, larga e sofre falta.
5 minutos - Sabará, um leão, avança pela esquerda dá a Pinga no centro, que vira, sensacional, rente a trave.
7 minutos - Écio dá a Almir, que perde, recupera e atira pela ponta, na corrida. Fernando afasta com esforço.
13 minutos - Sabará trabalha pelo miolo, Roberto recebe pela ponta direita, solto, avança e fuzila. Era o primeiro gol.
19 minutos - Falta contra o Vasco. Cobra Henrique. Bate na barreira. Na recarga, Dequinha chutou perigosamente pelo alto.
20 minutos - Pinga livra-se de Jadir, avança como uma bólide, e, meio sem ângulo, atira rente. Susto do Fla.
25 minutos - Falta batida por Moacir; defesa rebate e Babá, na corrida e de fora da área, empata, descambado para a meia direita.
31 minutos - Babá, em lance isolado, avança e dá um chute perigosíssimo. Miguel se estira e defende no canto.
40 minutos - Córner batido por Babá. Dida, num bolo de jogadores, pula e cabeceia pela esquerda da meta de Miguel.
42 minutos - Valdemar comete uma “pixotada”, passando a bola para Dida, que dá a Henrique, livre. Bellini, na corrida, o desarma.
44 minutos - Henrique, lançado pela direita, dá uma puxada para Babá, que cabeceia perigosamente. Defende Miguel, com esforço.
Da cabine da Rádio Continental, Waldyr Amaral narrou o lance desta maneira:
“Coronel atira… pela esquerda do ataque do Vasco a Sabará. Cortou Jadir pelo prolongamento da grande área do Flamengo. Jadir põe para Moacir. Interrompe a jogada em ótimo lance o pernambuquinho Almir e deu para Sabará! Recolheu Sabará o passe de calcanhar de Almir e já soltou pela direita a Valdemar. Penetra Valdemar. Aciona na entrada da área a Roberto, que atira, é gol! Gol do Vasco da Gama! Gol de Roberto! A imensa família do Almirante faz espoucar foguetes e é um alarido tremendo em Maracanã! Gol de Roberto, sacudindo a torcida do Almirante em Maracanã! Pelo meu cronômetro, doze minutos e meio da etapa complementar. Doze minutos e meio da etapa complementar. Gol de Roberto: Vasco da Gama, um; Flamengo, zero.”
PALAVRA DO HERÓI
No vestiário, Roberto Pinto, com o pé enfaixado, pagou o tributo de autor do gol vascaíno, recebendo uma infinidade de abraços mais e menos apertados, sendo carregado em triunfo um sem número de vezes, tendo que descrever o gol até ficar rouco. Mas, falando de sua emoção, declarou o seguinte:
– Acho que herdei do meu tio Jair Rosa Pinto o temperamento frio. Claro, fiquei contente. Foi, porém, uma emoção controlada. Incluindo os títulos de juvenil, fui oito vezes campeão pelo Vasco.
NOTAS DOS JOGADORES
VASCO DA GAMA: Miguel (8), Paulinho (10), Bellini (9), Orlando (8) e Coronel (8); Écio (8), Valdemar (9); Sabará (9); Almir (9), Roberto Pinto (10) e Pinga (9).
FLAMENGO: Fernando (8), Joubert (8), Pavão (9), Dequinha(8) e Jordan (8); Moacir (8), Jadir (8); Babá (9), Luiz Carlos (8), Henrique (9) e Dida (8).
FICHA TÉCNICA
VASCO 1 x 1 FLAMENGO
Data: 17/01/1959
Local: Maracanã
Público: 130.832 pagantes
Renda: Cr$ 5.621.768,00
Árbitro: Eunápio de Queiróz
Gols: Roberto Pinto-VAS aos 13' e Babá-FLA aos 24' do 2º tempo.
VASCO: Miguel, Paulinho, Bellini, Orlando e Coronel; Écio e Valdemar; Sabará, Almir, Roberto Pinto e Pinga - Técnico: Francisco de Souza Ferreira, o Gradim.
FLAMENGO: Fernando, Joubert, Pavão, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Luiz Carlos, Henrique, Dida e Babá - Técnico: Fleitas Solich.
VÍDEO
EMOÇÃO ATÉ O FIM
O Vasco em duas oportunidades deixou o título escapar por entre seus dedos. Primeiro, quando abriu quatro pontos a duas rodadas do fim do campeonato e deixou seus rivais tirarem a diferença. Depois, quando dependia de um empate no supercampeonato, contra o Botafogo, e perdeu por 1 a 0. Confira, abaixo, como o final do Campeonato Carioca de 1958 foi um verdadeiro teste para os nervos dos vascaínos até a confirmação do título em 17 de janeiro de 1959.
Turno
Data Res Adversário Loc Público Gols do Vasco
20.07.58 3-1 Bangu M 34.833 Pinga(2), Vavá
25.07.58 4-2 Bonsucesso SJ 5.805 Pinga(2), W. Moreira(2)
03.08.58 1-3 Madureira Ba 5.417 Sabará
09.08.58 4-0 S. Cristóvão M 21.803 Vavá(2), Sabará, W. Moreira
16.08.58 3-0 Canto do Rio M 5.181 Sabará, Laerte, W. Moreira
24.08.58 1-0 Fluminense M 44.812 Pinga
31.08.58 2-1 América M 31.560 W. Moreira, Almir
07.09.58 3-1 Portuguesa M 11.697 Écio, Pinga(2)
14.09.58 1-1 Flamengo M 81.834 Delem
19.09.58 4-2 Olaria M 8.229 Sabará(2), Rubens, Delem
28.09.58 3-2 Botafogo M 61.490 Pinga, Sabará, Rubens
Returno
Data Res Adversário Loc Público Gols do Vasco
05.10.58 2-0 Bangu SJ 9.752 Rubens(2)
12.10.58 6-3 Canto do Rio SJ 5.176 Delem(2),Laerte(2),Sabará,Rubens
19.10.58 1-1 S. Cristóvão M 10.393 Rubens
25.10.58 3-3 Bonsucesso M 7.124 Delem(2), Rubens
01.11.58 1-2 Portuguesa M 9.617 Pinga
09.11.58 1-0 Madureira SJ 6.649 Rubens
16.11.58 1-1 Fluminense M 34.316 Pinga
23.11.58 2-0 América M 24.487 Almir, Pinga
30.11.58 4-0 Olaria Ba 5.414 Almir(2), Pinga, Roberto Pinto
07.12.58 0-2 Botafogo M 65.671 -
14.12.58 1-3 Flamengo M 95.010 Pinga
Supercampeonato
Data Res Adversário Loc Público Gols do Vasco
20.12.58 2-0 Flamengo M 82.125 Pinga, Almir
03.01.59 0-1 Botafogo M 106.763 -
Super-supercampeonato
Data Res Adversário Loc Público Gols do Vasco
10.01.59 2-1 Botafogo M 80.137 Pinga(2)
17.01.59 1-1 Flamengo M 130.832 Roberto Pinto
M=Maracanã; SJ=São Januário; Ba=Rua Bariri
- Texto: Alexandre Mesquita (em parte baseado em texto de Ney Bianchi publicado na revista Manchete Esportiva de 21/01/1959), NETVASCO
- Tabelas: Alexandre Mesquita e Site Mauro Prais, trabalhadas e formatadas por NETVASCO
- Fotos: Museu NETVASCO (contribuição de Diogo Jesus de Oliveira), Site Mauro Prais, Site Milton Neves, Jornal dos Sports, Revista Manchete,
- Áudio: Rádio Continental - disponível no Site Mauro Prais (narração Waldyr Amaral)
- Vídeo: Canal 100 - disponível no Youtube (narração de Cid Moreira em 1969)