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NETVASCO - 21/12/2008 - DOM - 11:20 - Marta afirma que ficou triste com o rebaixamento do VascoMarta está há cinco anos na Suécia, onde defende o Umea IK, e garante se virar bem com o idioma local – até soltou essa pérola aí. Na semana passada, ela recebeu a equipe de reportagem do LANCE! e, obviamente, a entrevista não foi em sueco. Em bom português, aliás, a melhor jogadora do mundo falou abertamente sobre diversos assuntos, um deles o sonho de defender a Seleção Brasileira numa Olimpíada no Brasil, o que pode acontecer em 2016, quando estará com 30 anos.
Nesse bate-papo, Marta também fala da possibilidade de trocar o gélido país escandinavo pelo futebol dos Estados Unidos; vibra com a volta do seu Corinthians do coração à elite e sofre com a queda do Vasco, clube pelo qual iniciou carreira profissional; comenta o fato de estar pela quinta vez consecutiva entre as melhores no prêmio da Fifa... Confira:
Em 2016, se tudo der certo, o Rio pode ser sede da Olimpíada. Você estará com 30 anos. Passa pela sua cabeça defender a Seleção em 2016 e, quem sabe, brilhar em solo brasileiro?
Lógico. Tanto que estou na torcida para que o Rio vença a disputa. Meu sonho é disputar a Olimpíada de 2016 aqui no Rio.
Se a Seleção feminina levar o ouro olímpico antes da masculina, você acha justo dizer que o futebol brasileiro terá vencido tudo?
Acho que é diferente. Agora aumentou o interesse pelo futebol feminino, mas o público se volta muito para o masculino. Então, são conquistas diferentes, apesar de ser o mesmo esporte.
Quando e como você bateu o pé e decidiu que iria ser jogadora de futebol?
Essa decisão vem de muitos anos, desde quando comecei a jogar com os meninos na rua e vi que me destacava mais. Daí, cresci esse sonho na mente. Tive a oportunidade de ver alguns jogos de futebol feminino na TV quando tinha uns 13 anos. Na época existia Corinthians, São Paulo... Era a época da Roseli no Corinthians e da Sissi no São Paulo. Daí, passei a sonhar mais alto: “As meninas estão lá, por que não posso estar também?”, pensava.
Mais uma vez você está entre as finalistas ao prêmio da Fifa. O que você pode falar sobre suas concorrentes, que agora serão quatro? (além de Marta, concorrem Cristiane, Prinz, Smith e Angerer).
Prinz sempre está na disputa, já ganhou três vezes e não é surpresa. Cris representará mais uma vez o nosso país e não estarei sozinha nessa de novo. E ela merece. Além de jogar muito, fez cinco gols na Olimpíada de Pequim. Já a Smith é realmente isso tudo que dizem dela mesmo. Nunca a havia visto jogar até ter a oportunidade de enfrentá-la nas quartas-de-final da Copa Uefa (a inglesa defende o Arsenal). É uma ótima jogadora, bate bem com as duas pernas e tem um controle de bola excelente. Só acho que Daniela Alves e Formiga mereciam estar nesse grupo.
O que é mais difícil para uma mulher que gosta de futebol conseguir chegar ao profissionalismo no Brasil?
Preconceito, falta de estrutura, opção para trabalhar e se desenvolver. Tudo isso atrapalha. Penso que, se eu não tivesse saído do Brasil, teria sido muito difícil chegar a conquistar o título de Melhor Jogadora do Mundo. Tem que ter um local de trabalho, jogar uma liga competitiva, ser vista... É isso que acontece lá fora.
Você pensa que pode ser a maior jogadora da História do futebol feminino?
Ainda é cedo para confirmar isso. Fico muito contente com os comentários e com tudo o que acontece na minha vida há algum tempo. Há uns três, quatro anos que venho me destacando. Mas prefiro deixar os comentários para os jornalistas e para o povão. E eu faço a minha parte no campo.
Como ficou o coração com a volta do seu Corinthians à Série A e com o rebaixamento do Vasco, clube que você defendeu no início da carreira?
Como corintiana, fiquei muito triste com o rebaixamento no ano passado. Por outro lado, o que aconteceu esse ano foi uma reviravolta, bem diferente de 2007. Mesmo na Série B, clube, jogadores e torcida deram exemplo de garra, sinceridade e mostraram fidelidade ao Timão. Agora, o mesmo aconteceu com o Vasco. Não fiquei triste só por ter jogado pelo time feminino do Vasco, mas também por ser um clube grande. Vai ficar uma carência no futebol do Rio e do Brasil.
Existem rumores de que você pode jogar na Liga Norte-Americana. É verdade?
É verdade. Meu contrato com o Umea acabou no começo de dezembro e estamos trabalhando na possibilidade de renovação. Mas também estou em contato com o Los Angeles, dos Estados Unidos. São as duas possibilidades mais concretas. Pode ser que aconteça uma mudança, mas também pode ser que não. Posso também ficar na Suécia. Até porque a Liga de lá é uma das mais bem estruturadas atualmente e não deixa a desejar. Por outro lado é uma coisa nova também nos Estados Unidos. Querem montar uma boa estrutura e, querendo ou não, haverá boas jogadoras. Vimos o draft e havia jogadoras brasileiras e de outros países também.
E será logo comparada ao Beckham, né?!
(Risos) Fico mais concentrada no futebol. Beckham tem muitas outras coisas ao seu redor. Ele é um bonitão, modelo, isso e aquilo. Eu só bato minha bolinha devagarzinho (risos).
Você nasceu no Nordeste, quando vem ao Brasil vive no Rio, é torcedora do Corinthians e joga futebol. Você se considera uma brasileira em essência?
Eu me sinto brasileira de corpo e alma, em todos os quesitos. Nasci com isso. Vi o Timão jogar quando tinha oito anos. Foi amor à primeira vista. Falei: “caramba, gostei desse time, quero torcer para ele”. Daí em diante, nunca mais parei. Brigava com meu irmão, que é são-paulino. Saíamos no tapa mesmo (risos). Era complicado.
Você tem um ídolo?
Nunca falei que eu tenho um ídolo específico. Quando comecei a acompanhar futebol pela TV, gostava muito do Rivaldo. Depois surgiram muitas outras estrelas. E o Ronaldo é uma delas. Costumo dizer que pego um pouquinho de cada craque, especificamente do craque brasileiro. É a arrancada do Ronaldo, a inteligência do Kaká, os dribles improvisados do Ronaldinho Gaúcho... É complicado falar de um só, porque sempre aparecem novos talentos.
O que pode acontecer após o fim dessa geração vitoriosa da Seleção feminina? É muito difícil o processo de renovação, não?
É tudo imprevisível. Se tratando de futebol feminino, não sabemos o que pode acontecer. É uma Seleção muito boa, com grandes talentos. Não é à toa que temos três jogadoras entre as dez melhores do mundo. Nosso pensamento é que apareçam outras tantas.
Fonte: Lancenet
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