A confissão do velocista norte-americano Tim Montgomery de que correu dopado a final do Revezamento 4x100m das Olimpíadas de Sydney-2000 pode valer ao Vasco uma das maiores glórias de sua história. Isso porque o quarteto do Brasil, medalhista de prata na prova, era 100% composto por atletas vascaínos: André Domingos, Claudinei Quirino, Edson Luciano Ribeiro e Vicente Lenílson (clique e confira).
Caso se confirme a eliminação dos EUA na prova (o caso já está sendo apreciado pelos órgãos competentes e a punição é dada como certa por especialistas) e a conseqüente ascensão do Brasil ao lugar mais alto do pódio, o Projeto Olímpico do Vasco, tão criticado e combatido na época por não ter rendido ao país uma medalha de ouro olímpica, terá recebido um justo, embora tardio, reconhecimento.
E os corredores laureados - André Domingos, Claudinei Quirino, Edson Luciano Ribeiro e Vicente Lenílson - passarão a fazer companhia a Adhemar Ferreira da Silva (ouro em Melbourne-1956) no seleto grupo de atletas do Club de Regatas Vasco da Gama que conquistaram o ouro olímpico para o Brasil.
Página 11 da Revista oficial do Vasco (Ediouro), edição nº 10, de setembro de 2000, registrando a medalha de prata do revezamento brasileiro 100% vascaíno em Sydney-2000
Fonte: NETVASCO (texto), Revista do Vasco (imagem)
Montgomery confessa doping em Sydney-00
"Tenho uma medalha de ouro que não foi obtida com meu talento", admitiu o ex-velocista, em entrevista que irá ao ar nesta terça à noite nos EUA pela HBO.
"Não estou aqui para desmerecer as glórias alheias, só as minhas. E devo pedir desculpas aos meus colegas do time de revezamento pelo que ocorreu."
A confissão pública pode detonar a sétima cassação de medalha da equipe dos EUA no atletismo daquela Olimpíada. Nunca antes ou depois, na história dos Jogos, um país perdeu tantas comendas por causa de doping em uma só modalidade.
Caso os norte-americanos sofram punição retroativa, o Brasil, vice-campeão do 4 x 100 m em Sydney-00, herdaria o ouro, que seria o primeiro do país naquela Olimpíada.
Na entrevista, Montgomery afirmou que usou testosterona e hormônio do crescimento antes dos Jogos de Sydney-00. Ambas as drogas têm efeito anabolizante no organismo, promovendo o aumento da força e da potência musculares.
O hormônio de crescimento, conhecido pela sigla hGH, ainda não era detectado pelos exames em 2000. Atualmente, segundo a Wada (Agência Mundial Antidoping), já há tecnologia para detectá-lo. As amostras colhidas em Sydney-00, de acordo com as regras do COI (Comitê Olímpico Internacional), ainda estão armazenadas.
As declarações de Montgomery, embora ainda não veiculadas pela TV, já causaram repercussão em entidades esportivas. O primeiro a se pronunciar foi o Usoc (Comitê Olímpico dos EUA), pedindo punição.
"Se Tim Montgomery fraudou a prova, então ele deveria, voluntariamente, devolver sua medalha, como outras equipes [de revezamento dos EUA] de 2000 já fizeram", disse Darryl Seibel, porta-voz do Usoc.
Como atenuante, o velocista não participou da final da prova no time cujo astro era Maurice Greene, então recordista mundial dos 100 m. Montgomery correu apenas as eliminatórias, o que poderia desqualificar seu resultado, mas não a equipe.
Não é o que pensa o comitê dos EUA, que dá idéia de que poderá abrir mão dessa medalha. "Qualquer resultado obtido com o uso de substância proibida está manchado", diz Seibel.
"Ele tem responsabilidade com seu esporte, com os atletas contra os quais competiu em Sydney e também com a nova geração de velocistas que tem feito o melhor para competir limpa e deixar no passado problemas como esse", acrescenta.
Questionada, a Wada se esquivou de comentar o caso. "Essa questão deve ser feita diretamente ao COI", respondeu à reportagem Frédéric Donzé, gerente de comunicações da agência.
Instado a se pronunciar sobre o tema, o COI manteve a cautela. "Apoiamos a posição do Usoc de pedir que o atleta voluntariamente devolva a medalha", afirmou Emmanuelle Moreau, porta-voz do comitê.
Segundo ela, o COI incluirá mais esse tópico na investigação que já promove sobre o caso Balco, laboratório que fornecia substâncias dopantes à elite do atletismo dos EUA, em caso desbaratado em 2003.
A Iaaf, entidade que comanda o atletismo, que poderia pedir punição ao atleta, mostra reticência em iniciar o procedimento disciplinar. Segundo Nick Davies, porta-voz da Iaaf, para isso acontecer, é necessário que Montgomery redija confissão e a envie à federação.
Fonte: UOL
Com chance de herdar ouro, 4x100 m do Brasil lamenta glória perdida em 2000
O COI disse nesta terça que irá investigar o caso. Montgomery, de 33 anos, fez a confissão em entrevista ao canal HBO. "Tenho uma medalha de ouro que não foi obtida com meu talento. Não estou aqui para desmerecer as glórias alheias, só as minhas. E devo pedir desculpas aos meus colegas pelo que ocorreu". As declarações de Montgomery ainda serão veiculadas.
Emmanuelle Moreau, porta-voz do COI, disse que a entidade irá investigar o assunto. "O COI criou uma comissão sobre o caso Balco em 2004, com o objetivo de investigar o modo como o laboratório pode ter afetado os Jogos Olímpicos".
A revelação de que o velocista Tim Montgomery correu dopado nos Jogos de Sydney-2000 pode dar ao Brasil o título olímpico do revezamento 4x100 m. A medalha de ouro pode chegar ao pescoço de Claudinei Quirino, Edson Luciano, André Domingos e Vicente Lenílson, mas eles lamentam que as glórias de campeão olímpico não serão recuperadas com o reconhecimento tardio.
"Eu vou ficar feliz com o ouro, não vou ser hipócrita de falar que não. Mas o que deixamos de conquistar naquela época, ouvir o hino, mesmo a parte financeira, isso nunca mais vai voltar. Eu vi o que aconteceu com a Maurren, o choro dela no pódio, aquela alegria. Isso o time do 4x100 m brasileiro nunca vai ter, mesmo sendo os únicos campeões das Olimpíadas de Sydney. Esse ouro será na hora errada", diz Edson Luciano.
Montgomery fez parte do time do revezamento 4x100 m que deu a medalha de ouro aos EUA em Sydney. Ex-recordista mundial, ele correu apenas nas eliminatórias. Na corrida que valeu o ouro, estavam na pista Maurice Greene, Jon Drummond, Bernard Williams e Brian Lewis - Kenneth Brokenburr disputou as eliminatórias.
"É frustrante saber disso agora. Nós deixamos de ouvir o hino, deixamos de defender os 180 milhões de brasileiros que representamos nas Olimpíadas. Ele pode não ter disputado a final, mas ajudou o time americano a chegar lá. O time tem de ser punido", afirmou André Domingos.
A chance de o Brasil herdar o ouro de Sydney-2000, que seria o único de toda a delegação brasileira nos Jogos, existe, mas todos os envolvidos com o assunto lidam com isso de forma cautelosa. Existe um precedente que pode manter o resultado dos norte-americanos.
O 4x400 m dos EUA viveram caso semelhante, também relativo a 2000. Jerome Young admitiu ter participado dos Jogos dopado, mas disputou apenas as eliminatórias da prova. O caso foi até a Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, que decidiu que o time não seria punido. Tempos depois, Antonio Pettigrew, que disputou a final, admitiu ter competido dopado e o time foi, então, eliminado.
"Todo o nosso trabalho (para os Jogos Olímpicos) foi jogado para o mato. Eu queria xingar todo mundo, porque perdemos muito sem aquele resultado. Mesmo assim, hoje eu faço trabalho com jovens e isso vai servir para mostrar para eles que tudo tem conserto. Se esse ouro vier mesmo, eu vou ficar muito orgulhoso", falou Claudinei Quirino - o único que não foi encontrado pela reportagem foi Vicente Lenílson, que não atendeu às ligações ao seu telefone celular.
A Confederação Brasileira de Atletismo disse à reportagem que espera mais detalhes sobre o caso para agir. "A CBAt aguarda com muita atenção o desenrolar do caso para, no momento devido, caso confirmadas as declarações, atuar no sentido de que a medalha de ouro seja entregue a quem de direito", afirmou, em nota oficial, o presidente da entidade, Roberto Gesta de Mello.
O Comitê Olímpico Brasileiro afirmou que vai esperar decisão do COI. O Comitê Olímpico dos EUA pediu que Montgomery devolva a medalha e o Comitê Internacional afirmou que vai incluir o caso nas investigações do Laboratório Balco, que começaram em 2004 e já tiraram sete medalhas do time norte-americano de atletismo.
Caso o ouro venha realmente para o Brasil, será a terceira medalha conquistada com casos de doping desse time. Eles já receberam o "upgrade" de bronze para prata no Mundial de 1997 e de prata para ouro, no Pan de 2003. "Eu lembro que recebi minha medalha de 97 pelo correio", lamenta Edson Luciano.
Para o ouro olímpico, o pedido é de uma festa maior: "Só o que eu queria é que, se formos realmente receber essa medalha de ouro, que seja montada uma festa e que essas medalhas sejam entregues tocando o hino, para que todo mundo veja", completa Quirino.
Fonte: UOL
Doping de Montgomery já era cogitado por brasileiros
A declaração do ex-atleta norte-americano Tim Montgomery, que confessou ter competido dopado nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, não pegou de surpresa os atletas brasileiros do revezamento 4 x 100 metros rasos.
Claudinei Quirino, André Domingos, Vicente Lenílson e Edson Luciano, que foram prata na ocasião e agora devem herdar a medalha de ouro conquistado pelos Estados Unidos, já cogitavam a possibilidade de algum adversário ter participado da competição de forma irregular. "Sabia que existia esta possibilidade, mas agora que ele deu esta declaração fica claro que o meu pensamento era correto", disse Lenílson.
Domingos lembrou que o histórico de Montgomery mostra que se tratava de um atleta cheio de problemas. Por uso de doping, o norte-americano teve todos os seus recordes anulados. Além disso, se envolveu em um esquema de fraude bancária e foi preso por tráfico de heroína.
"O Tim Montgomery tem um histórico de doping, foi pego várias vezes e é casado com Marion Jones, que também foi flagrada em diversas oportunidades. Ele é envolvido em falsificação de cheques, fraudes, e vários outros crimes, o currículo dele não é brincadeira não", comentou.
Domingos deixou claro que os brasileiros já suspeitavam que havia algo errado com o adversário. "A gente tinha a suspeita, mas até que se torne claro não dá para falar nada, não podemos acusar até que existam as provas", assinalou.
Claudinei Quirino, por sua vez, afirmou que sempre cogitava esta possibilidade quando via notícias dos outros casos de doping de Montgomery. "Isso começa a passar pela sua cabeça, afinal, se ele estava usando em outros casos, porque não em 2000 também", declarou.
Fonte: Estadão Online