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NETVASCO - 23/11/2008 - DOM - 10:23 - Vasco aposta na mística de São Januário para derrotar o São Paulo A letra do hit da arquibancada vascaína que reverencia ídolos como Juninho Pernambucano também mostra, há tempos, a importância do apoio da massa nas partidas em casa. E hoje, mais do que nunca, São Januário tem que confirmar sua fama de caldeirão. Com o apoio e a pressão das mais de 23 mil pessoas que compraram ingresso, o estádio vai ser uma peça decisiva no complicado compromisso contra o São Paulo, às 17h, na luta do Vasco para se afastar da zona de rebaixamento e se manter na Série A do Brasileiro no ano que vem. A vitória é fundamental, pois após os resultados dos adversários diretos que brigam para não cair (o empate da Portuguesa e a derrota do Náutico), o Vasco sai do grupo dos desesperados.
Esse estádio, construído com 100% de recursos próprios, sempre foi o orgulho dos vascaínos. Inaugurado no dia 21 de abril de 1927, numa quintafeira, no feriado de Tiradentes, São Januário, além de ser palco de reuniões políticas, especialmente do governo Getúlio Vargas, começou com a banca de ser o maior estádio do continente, com capacidade para 48.604 lugares. Hoje, por razões de segurança, ele “encolheu”, mas sua missão se agigantou neste fim de Brasileiro.
Afinal, de seu concreto vai surgir a força humana para empurrar esse modesto time do Vasco na seqüência da árdua tarefa de derrotar o líder São Paulo, que tem 68 pontos e continua firma na luta pelo sexto título nacional.
Com 37 pontos e tendo uma das últimas chances de permanecer na elite do futebol brasileiro, o Vasco mais do que nunca sabe que depende da força do grito que vem da arquibancada.
— O torcedor vem nos apoiando e é importante que continue fazendo isso. O ideal é a torcida ter paciência, porque estaremos enfrentando um adversário de gabarito e impaciência pode gerar vaias e desestabilizar o time — afirma o técnico Renato Gaúcho, que vem passando por dias estressantes.
Se São Januário hoje é um elemento decisivo na luta do Vasco contra o rebaixamento, o desempenho dos jogadores também terá importância crucial. Sempre que afrouxou a pressão jogando em casa, o Vasco acabou colecionando decepcionantes resultados. Fracassos que não chegaram a desestimular seus torcedores, mas influíram no comportamento da equipe em todo este Brasileiro.
Jogando em casa este ano, o Vasco perdeu para Madureira e Volta Redonda pelo Estadual. Na Copa do Brasil, a decepção ficou por conta da eliminação nos pênaltis, após uma inacreditável vitória de 2 a 0 no tempo normal, com um gol no final, que levou a decisão da vaga para as penalidades. Por ironia do destino, foi Edmundo, autor do gol que recolocou o Vasco na luta pelo título, desperdiçou o pênalti que deu a classificação ao Sport de Recife.
Pelo Brasileiro, as decepções também não foram poucas. Em 15 partidas em seus domínios, o Vasco mostrou a fragilidade de seu time ao perder cinco vezes. Em três delas, de forma apática, desordenada, provocou a revolta de sua torcida, contra Cruzeiro, Náutico e Figueirense.
A mesma torcida que hoje tornou-se a esperança de ser a mola propulsora de uma equipe irregular.
O caldeirão ficou tão fundamental, tão perigoso, que do Morumbi partiram provocações e demonstrações de que o fator campo hoje é relevante.
O técnico Muricy Ramalho levantou suspeitas sobre as condições de São Januário receber um jogo dessa importância.
Depois, disse que se referia apenas ao grande número de pessoas em campo. Jogadores como o apoiador Hernanes falaram em clima de guerra. Uma linguagem que provocou reação irritada de dirigentes como o presidente Roberto Dinamite e que Renato Gaúcho transformou, com habilidade, em firula lingüística: — Esse jogo vai ser uma guerra, sim. Mas uma guerra no bom sentido.
É isso que estou passando para o meu grupo. É uma final de Copa do Mundo.
O Hernanes sabe da responsabilidade desse jogo. O São Paulo está lutando pelo título e nós para fugir da Segunda Divisão. É o pensamento que um atleta vencedor precisa ter. Sempre falo que o torcedor na arquibancada é o reflexo do jogador dentro de campo.
Quando você tem um time com vontade, que corre, o torcedor vai gritar vai apoiar. Se o time está acomodado, o torcedor fica irritado e vaia — afirmou Renato Gaúcho.
Vasco: Rafael, Odvan, Eduardo Luiz e Jorge Luiz; Wagner Diniz, Jonilson, Mateus, Madson, Alex Teixeira e Edu; Leandro Amaral. São Paulo: Rogério Ceni, Miranda, André Dias e Anderson; Joilson, Hernanes, Jean, Hugo e Jorge Wagner; Dagoberto e Borges. Juiz: Leonardo Gaciba (RS/Fifa).
Monumento contra o preconceito
O Estádio Vasco da Gama, mais conhecido como São Januário, faz parte da história do esporte e do país. Até a inauguração do Pacaembu, nos anos 40, foi a maior praça de esportes brasileira e principal palco da seleção. São Januário foi inaugurado a 21 de abril de 1927, num amistoso em que o Santos venceu o Vasco por 5 a 3. O sonho da construção começara em 1923, quando os vascaínos, ao chegar à Primeira Divisão carioca, conquistaram o título com um elenco de atletas negros, mulatos, pobres e analfabetos, rejeitados nos demais clubes. Em 1924, houve uma cisão no futebol do Rio, pois os outros clubes, como Flamengo, Fluminense e Botafogo — que não aceitavam atletas negros, mulatos, analfabetos ou pobres — , exigiram que o Vasco não utilizasse mais seus jogadores, considerados de “condição social inferior”.
Na mais bela página da história social do futebol brasileiro, o Vasco se recusou a fazer isso e a participar da nova Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (Amea), permanecendo na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Chamado de “time pequeno” pelos rivais, por não dispor de estádio próprio, o Vasco organizou, a partir de 1926, entre sua torcida, uma grande campanha de arrecadação de dinheiro, a Campanha dos Dez Mil, que levantou verba não só para a compra do terreno, como para erguer o estádio em apenas dez meses.
Dali em diante, o local sediou os maiores cariocas e grandes jogos da seleção, como na conquista do SulAmericano de 1949. Foi também o palco das apresentações do maestro Villa Lobos, de desfiles de escolas de samba (1943 e 1945) e dos comícios de Getúlio Vargas, que assinou, na Tribuna de Honra, em 1943, a CLT, a Consolidação das Leis Trabalhistas.
Fonte: O Globo
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