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NETVASCO - 21/11/2008 - SEX - 09:19 - Edmundo fala, em entrevista, sobre os últimos dias de sua carreira

O grito de “Ah, é Edmundo!” foi eternizado pela torcida do Vasco nas arquibancadas de São Januário. Neste domingo, às 17h, no confronto contra o São Paulo, no Rio de Janeiro, os vascaínos vão ter a oportunidade de ver pela penúltima vez um dos maiores ídolos do clube, que promete encerrar a carreira após o término do Campeonato Brasileiro, no dia 7 de dezembro. Convicto de que falta pouco mais de duas semanas para pendurar as chuteiras, o Animal voltou a exaltar o seu amor pelo time que o revelou, em 92.

Em um bate-papo exclusivo com o GLOBOESPORTE.COM, Edmundo revelou a sua vontade de seguir trabalhando no clube mesmo após o encerramento da carreira e de alguns momentos que viveu na Colina. Na conversa, além de falar de sua paixão pelo Vasco, ele deu a entender que tem a intenção de ser um dirigente atuante, que ajuda a transformar o time de São Januário em uma potência do futebol brasileiro.

Você está para encerrar a carreira em pouco mais de duas semanas. Quais foram os momentos mais marcantes de sua vida como jogador profissional?

Sem demagogia, todas as vezes que eu vesti a camisa do Vasco, com vitórias, com derrotas, todas as vezes que eu entrei para jogar pelo Vasco ou pelo Palmeiras, clubes que eu tenho maior identificação, que eu fui muito bem tratado, foram marcantes. Não posso esquecer do Figueirense, onde também fui muito bem tratado. Lógico que quando você ganha, marca gols ou quando você perde um pênalti e o time é desclassificado, não ganha, são coisas que ficam marcadas na tua carreira.

Atingiu todos os seus sonhos?

No geral, vestir a camisa do Vasco sempre foi muito prazeroso e muito marcante. Sempre foi o meu sonho de criança. É o único sonho que verdadeiramente eu consegui realizar. Todos os outros eu realizei, ultrapassei e fui sonhar de novo. Vestir a camisa do Vasco, jogar como profissional, ter a torcida gritando o seu nome, essa era uma coisa de moleque. Nunca soube o que tinha de bom ou de ruim nisso. Só sabia que eu adorava a camisa do Vasco e queria um dia jogar com essa camisa. Queria jogar um dia no Maracanã. Felizmente eu tive êxito, sucesso, fui campeão, fui artilheiro. O mais importante é ter tido o carinho, a admiração. Alguns jogadores passaram pelo Vasco ou por outros clubes, jogaram para caramba, foram artilheiros, campeões, mas a torcida não guarda uma boa recordação. Não é por culpa do jogador ou por culpa da torcida, mas às vezes não bate. A minha vida dentro do Vasco bateu, tem tudo a ver, é por isso que eu tenho esse carinho enorme.

Realmente vai parar de jogar no fim do ano?

Decidi parar de jogar, tomei essa decisão sozinho, dentro de mim, porque se eu fosse escutar as outras pessoas, acabo não fazendo. Vai ser bom para mim, para a minha família, para a minha vida de um modo geral. Nesse período, de dez rodadas para cá, não tenho outra coisa na minha cabeça que é sair dessa zona de rebaixamento porque vou ficar triste duas vezes. Como atleta porque eu não mereço terminar a minha carreira com o time caindo para a Segunda Divisão, e como torcedor. Ver o meu time de coração cair para a Segunda Divisão e não poder ou poder fazer alguma coisa é algo muito ruim.

Na resposta anterior, você disse que tinha o sonho de jogar pelo Vasco. Qual é o sonho após o término da sua carreira?

Queria que o Vasco não caísse. Isso seria muito melhor do que qualquer sonho. Seria uma outra coisa gratificante. Tem coisas que você não consegue fazer se não for convidado ou algo parecido. Gostaria de um dia ajudar o Vasco de uma outra maneira. Jogador de futebol não é eterno. Você pode ser eterno em outras funções, mas como jogador de futebol, não. O Vasco é muito grande, muito forte, tem uma torcida maravilhosa, tem tudo para ser maravilhoso. Se as pessoas tiverem boa vontade, disposição, elas conseguem melhorar o Vasco para um futuro próximo. Se eu tiver oportunidade de ajudar para que isso aconteça, eu vou fazer, porque sozinho eu não vou conseguir. Mas queria fazer parte de um grupo de pessoas que quer ajudar o Vasco. Sem estar me convidando ou me escalando. Isso é uma coisa para o futuro.

Pense em fazer um trabalho semelhante ao do ex-jogador Leonardo, atualmente dirigente do Milan?

O futebol precisa de pessoas que gostam do futebol, que se dedicam ao futebol. Ele vive uma situação diferente. O Milan é uma empresa, funciona bem, tem bons patrocínios. Se a gente tiver vontade, disposição, a gente pode fazer que aconteça isso tudo no futebol brasileiro. É só mudar uma lei ou outra, não deixar que a molecada saia daqui tão jovem. Tem que colocar na cabeça do jogador que ele precisa ter prazer de jogar no futebol brasileiro. Todos que nasceram aqui torcem por algum time do Brasil. Nos 70 e 80, isso era muito bacana, mas a lei permite que jogadores saiam daqui muito jovens. Hoje, os clubes vivem de migalhas. Tenho idéias, tenho vontade, tenho coragem, tenho disposição, sou do bem, e o futebol precisa disso. Não estou querendo me auto-elogiar, mas o Leonardo é um bom exemplo disso. Ele me disse que comprou o título de sócio do Flamengo e que pretende voltar ao Brasil para se dedicar a isso.

Você acha que os bons dirigentes não são valorizados no Brasil?

O cara pode ser maravilhoso para o mundo inteiro, mas quando a gente não é maravilhoso para o nosso país, para a nossa cidade, não vale nada. Não é o caso dele, mas ele quer trabalhar em prol do futebol brasileiro. Aqui é o lugar que mais existem talentos, e é o lugar em que o talento é mal aproveitado.

Tem algum arrependimento?

Agora, que faltam 15 dias para eu encerrar a carreira, eu sem dúvida nenhuma, diria que não teria voltado da Europa. Primeiro porque você ganha muito mais dinheiro, alonga mais a sua carreira e não tem as críticas. Quando tem, você finge que não entende.

Tem mágoa de alguma situação que aconteceu na sua carreira?

Aqui, às vezes, eu vejo amigos sofrendo com uma notícia que não é verdadeira. A pressão do nosso país, o sensacionalismo está por toda parte, em todos os programas, não só no esporte. Eu trabalho com uma paixão nacional, trabalho com uma coisa que mexe com a paixão das pessoas, e uma informação ruim cria uma antipatia, uma raiva da pessoa que está do outro lado. Não tenho nada para reclamar de órgãos de imprensa, nada, mas a gente como vidraça, uma hora cansa de levar as pedradas. Ao mesmo passo que eu sofro no dia a dia como jogador de futebol, eu sou feliz como homem. Tenho a minha família ao meu lado, meus amigos, o carinho das pessoas. Chegar aqui e ver um monte de gente querendo tirar foto, autógrafos, sendo sincero, é muito gratificante. Eu me arrependo porque, de repente, se eu tivesse mais cabelo e menos rugas (risos). Mas, no geral, eu sempre fiz aquilo que o meu coração mandou.

Como vão ser essas últimas semanas?

Se fosse em uma situação normal, comum, a gente com 50 pontos, seria mais difícil. Eu pensaria: “está acabando, agora já era”. Faltam 15 dias e estou rezando para que a gente chegue ao jogo contra o Vitória com chance de não ser rebaixado. A dedicação tem sido maior, o empenho tem sido maior. Quero chegar no meu último dia com a oportunidade de jogar bem, ganhar e livrar o Vasco. Seria uma alegria enorme. O difícil vai ser se a gente não chegar lá. Aí vai ser complicado acordar cedo, me dedicar, vai ser mais difícil.

O Vasco tentou mudar a sua cabeça e renovar o seu contrato, que se encerra em janeiro?

O Vasco já manifestou o interesse que eu permaneça. Outros clubes do Brasil já me convidaram, mas não dá mais. Para mim, chegou a hora. Estou bem tranqüilo quanto a isso.

Vai sentir falta dos gritos da torcida?

Vou sentir falta de um monte de coisa que acontece fora de campo. Vou sentir falta do grito da torcida, do convívio diário com o grupo. A gente dá risada para cacete. Noventa e nove por cento dos grupos que eu trabalhei sempre conviveram em harmonia, cheio de alegria. A gente não aprende nada, mas morre de rir e faz amigos para sempre. Vou sentir falta da parte física também. Adoro me olhar no espelho e me sentir inteiro. Essas são coisas que eu vou sentir falta. Mas você acaba de adaptando, encontrando outros grupos, outras maneiras de se exercitar. O tempo ocioso é que vai ser mais complicado. Por isso, quero terminar a carreira num dia, e no dia seguinte já ter alguma coisa para fazer.

Quer deixar uma mensagem de agradecimento aos seus fãs?

É sempre bom agradecer. A gratidão está sempre presente na minha vida. Agradeço todas as pessoas que me ajudaram, a minha família, os meus amigos. Quero agradecer em especial à torcida do Vasco, do Palmeiras. Não que as outras não foram importantes, mas foram as que me trataram com o maior carinho, com o maior respeito e a maior admiração. Vou deixar um abraço carinhoso, um muito obrigado muito grato. Infelizmente, nem todos os dias nós somos os melhores, mas eu sempre procurei fazer as coisas da melhor maneira. Isso me deixar feliz. Então, muito obrigado.

Neste sábado, confira a terceira e última parte da entrevista exclusiva de Edmundo ao GLOBOESPORTE.COM. Na conversa, o atacante falou de sua paixão pelo Rio de Janeiro e das idas e vindas para a Cidade Maravilhosa.

Fonte: GloboEsporte.com

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