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NETVASCO - 03/12/2006 - 13:39 - Confira a entrevista de Renato Gaúcho ao Jornal do Brasil

O técnico assumiu o Vasco em 20 de julho do ano passado, no lugar de Dário Lourenço. Muitos apostaram que Renato, que até então só treinara Fluminense e Madureira, duraria pouco em São Januário. Mas o treinador já garantiu vaga na Copa Sul-Americana pelo segundo ano seguido e ainda sonha com a Libertadores. Só Mano Menezes, do Grêmio, está há mais tempo no cargo.

Há 10 anos, Renato Gaúcho entrou para o rol dos treinadores pela porta dos fundos. Garantiu que livraria o Fluminense do rebaixamento e que andaria nu por Ipanema caso seu time caísse para a segunda divisão. Não cumpriu nenhuma das duas promessas, mas aprendeu a lição. Entendeu que só seria respeitado na nova função quando substituísse as provocações da época de jogador por um estilo menos espalhafatoso. A imagem mudou, veio o reconhecimento, mas Renato sabe que ainda falta um detalhe para a consagração. Vice-campeão carioca de 2003 e vice da Copa do Brasil deste ano, o técnico espera tirar hoje o quase do currículo.

Renato faz questão de frisar que não se sentirá fracassado se terminar o ano sem a vaga na Libertadores. Diz que, para quem entrou na competição com o rótulo de candidato ao rebaixamento, o sexto lugar já pode ser considerado uma façanha. O discurso, no entanto, contrasta com a ansiedade em conquistar um objetivo que considera comparável aos títulos que obteve como atacante.

O sonho de colocar no peito a faixa simbólica desperta, porém, uma sensação confusa para quem há pouco tempo decidia jogos não com preleção, mas com dribles e chutes.

- Preferia colocar a chuteira e entrar em campo, era muito mais fácil - diz o comandante, que usa o baixo nível técnico da competição a seu favor. - Hoje em dia é muito mais difícil ser treinador.

Você esteve perto da consagração na Copa do Brasil. Agora, chega ao segundo momento decisivo do ano. Teme que mais uma derrota lhe deixe marcado?

Não. A classificação para a Libertadores seria como um título para todos no grupo, mas o simples fato de disputar a vaga até a última rodada, com um time desacreditado, já é uma vitória. Perdi a Copa do Brasil, mas muitos queriam estar lá e não conseguiram. Como muitos gostariam de estar agora no meu lugar também. Nunca fui um qualquer quando jogador e sei que como técnico não será diferente. Não vai ser uma derrota agora que vai manchar todo o trabalho.

Quem vive o melhor momento, Vasco ou Paraná?

São duas equipes que têm a mesma história na competição. Começaram desacreditadas e surpreenderam. Não há um que mereça mais. Como jogador, minha estrela sempre foi grande. Espero que ela brilhe de novo.

Como foi a transformação de um jogador problemático em um técnico ao mesmo tempo disciplinador e querido?

Sinceramente, nunca me considerei um "bad boy". Lógico que nunca fui um santo. Mas a experiência faz com que você pense um pouco mais, conte até 10 antes de tomar atitude. Isso é o que eu passo para o meu grupo, principalmente aos mais jovens. Falo das coisas erradas que eu fiz para que eles assimilem e não se arrependam mais tarde.

Como você costuma tratar os casos de indisciplina?

Com uma boa conversa. Até porque tudo o que de repente esses jogadores estão querendo fazer ou fazem eu já fiz. Procuro mostrar o melhor caminho, as coisas ruins que vão aparecer. Aconselho a guardar dinheiro, a pensar no futuro, na família. Na minha época, não tive gente que se preocupasse tanto assim comigo. Agora, se alguém não quiser ouvir e continuar fazendo coisas erradas fora do clube, aí não é comigo, é problema do jogador. É uma escolha.

Quando jogador, você costumava provocar adversários e várias vezes já alfinetou Eurico. Imaginava que um dia estaria ao lado dele?

Naquela época eu falava muito para agradar ao torcedor, promover jogos. Mas minha relação com o presidente sempre foi muito boa. Tenho liberdade de comando e ele me trata muito bem, tanto que, quando pedi para que voltasse atrás na decisão de barrar a imprensa no clube, ele atendeu prontamente.

De um modo geral, o dirigente brasileiro entende de futebol?

Alguns entendem. Muitos, não. O presidente está nisso há muitos anos. Conhece. Tem muitos diretores que reconhecem que não entendem e ajudam, têm participação importante. Mas tem muitos que acham que entendem e querem dar palpite. Aí é que mora o perigo. Influenciam outras pessoas que têm comando e acabam prejudicando o trabalho do profissional que se preparou para viver do futebol.

Se receber propostas, levará em conta o relacionamento que construiu no Vasco?

Não estou preocupado em sair do Vasco, estou muito bem aqui. Mas, se eu tiver de trabalhar em outro lugar, não quero saber se os caras entendem de futebol ou não, o importante é o meu pensamento. No meu trabalho ninguém se mete. Se um dia alguém quiser se meter eu vou falar: "Olha, estou saindo porque fulano acha que entende, então ele que comande".

Vira e mexe surgem movimentos contra a participação de ex-atletas na crônica esportiva. Jornalista entende de futebol?

É meio a meio. Muitos entendem, mesmo sem nunca ter jogado. O duro é que muitos não entendem nada e também formam opinião. Mas não me irrita, só tenho pena dessas pessoas, porque não têm a consciência da responsabilidade que elas têm. É importante você ter gente que foi do meio envolvida. Quem vive do futebol respeita muito a opinião de quem já jogou e virou comentarista. Esses a gente escuta mais.

E treinador? Há enganador?

Não quero entrar nesse mérito. É claro que num mundo de inúmeros treinadores você consegue identificar os que entendem menos ou mais. Mas isso não se mede por coisas que são ditas. Ninguém é perfeito, sempre se pode falar alguma bobagem.

Essa temporada revelou mais treinadores - como você, Ney Franco e Caio Júnior - do que jogadores. É conseqüência da baixa qualidade técnica do campeonato ou de uma tendência de renovação?

As duas coisas. O nível técnico dos jogadores caiu muito e isso aumenta a responsabilidade dos treinadores. Trabalhar com um grupo bom é mais fácil. No trabalho sem jogadores de Seleção é que aparece o dedo do técnico. O futebol no Brasil caiu bastante.

Trabalhar no cenário atual o incomoda?

Não, eu tenho que viver a realidade. O futebol da minha época tinha, às vezes, quatro ou cinco jogadores para cada posição da Seleção, muitos deles atuando no Brasil. A preocupação do treinador era descobrir qual o craque que ele ia deixar de fora. Hoje, o futebol brasileiro ainda tem jogadores acima da média, mas na última Copa, por exemplo, ninguém reclamou que o Parreira não chamou esse ou aquele jogador. Tem posições em que você não consegue dizer quem é o melhor para ser convocado. Quando a coisa fica difícil para o técnico da Seleção, imagine para os de clube. Mas isso só me motiva.

Essa adaptação já lhe causou algum tipo de constrangimento?

No início era complicado. Eu pensava: "mas como é que eles não conseguem?". Passei quase um ano com dificuldade para assimilar. Até que descobri que não podia cobrar como me cobravam. Não posso exigir de certos jogadores que façam o que um Zico ou um Bebeto faziam. Cada um tem seu nível e o técnico tem que se adaptar.

O Dunga foi da sua geração. Acha que ele está sentindo esta mesma dificuldade?

Não. Por mais que o nível tenha caído, Seleção ainda é outro mundo. Na minha época não existia Kaká, Ronaldinho Gaúcho. Só aí já vai 50% do time.

Acha que o Dunga está certo em barrar Ronaldinho?

Não vou me meter nisso. Cada um tem sua opinião. Na minha, Ronaldinho e Kaká são os melhores jogadores do mundo.

Fonte: Jornal do Brasil




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