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NETVASCO - 08/08 - 02:50 - Conheça mais sobre a carreira de Jair Rosa Pinto

Alguns times se perfilados os nomes, um após o outro, do goleiro ao centro-avante, ganham ares de poesia. E existem algumas linhas que, decoradas como quadrinhas de Fernando Pessoa, são repetidas de “boca cheia” por quem as viu jogar. Jair Rosa Pinto fez parte de pelo menos uma dezena delas, em uma conta rasteira. Tesourinha/Zizinho/Heleno/Jair/Ademir ou Dorval/Jair/Pagão/Pelé/Pepe ou ainda Djalma/Lelé/Ademir/Jair/Chico – não precisa sequer ter visto estes homens em campo para imaginar que, até pela fluidez da pronúncia dos nomes, os quintetos começavam ganhando os jogos por volta das 8 horas da manhã.

Comum em todos eles, Jair Rosa Pinto, falecido no último 28 de julho, vítima de embulia pulmonar, entrou para a história como um dos maiores craques da história do futebol. Em todo o mundo. Sua carreira durou longos 26 anos e atravessou quatro décadas.

O Jajá de Barra Mansa, como era chamado, nasceu, na verdade, em Quatis, no Rio de Janeiro, no dia 21 de março de 1921. O irmão Orlando era ponta-esquerda titular do Vasco quando Jair tinha apenas 15 anos, parcos 50 quilos e um emprego em um frigorífico, além da ambição de se tornar um jogador de futebol. A chance surgiu 1938, quando conseguiu um lugar no modesto Madureira. No tricolor do subúrbio conheceu duas figuras que, junto a si, fizeram história no futebol carioca entre o fim da década de 1930 e início da de 1940: Lelé e Isaías. Os dois, mais Jair, saíram do Madureira para o Vasco da Gama em 1943, e ali se tornariam ídolos.

O primeiro título foi em 1945, conquistado de forma invicta, quando o Vasco daquela época deu partida ao que passou a se chamar o “Expresso da Vitória”, sem abuso da expressão, como provam os números: foram 58 gols em 15 vitórias e cinco empates. Jair fez quatro gols - e muitos lançamentos perfeitos -, em campeonato que teve Isaías como artilheiro, o velho companheiro dos tempos de Madureira, com 13 gols.

Em 1946, Jair teve atuação apagada, assim como todo o time do Vasco, e foi transferido para o Flamengo. Assim, o trio formado com Isaías e Lelé chegava ao fim, chamado de “Os Três Patetas”. No rubro-negro da Zona Sul, Jair passou pela triste experiência de ter sua dignidade posta em dúvida, quando após uma derrota avassaladora e humilhante de 5 a 2 para o Vasco da Gama, em São Januário, dirigentes do Flamengo, ajudados pelos brados de um furibundo Ary Barroso, o culparam pela derrota. Naquela ocasião, a camisa do craque (ou que seria dele) foi queimada, mas o futebol de Jair saiu intacto.

No ano seguinte, disputou a Copa do Mundo do Brasil, de triste lembrança para o país e, principalmente, para os 11 que entraram em campo envergando a camisa da seleção brasileira naquela fatídica tarde de julho. Jair passou noites em claro pensando no gol que não fez, aos 45 minutos da segunda etapa: “Se eu tivesse feito o gol naquele córner no último lance da partida, o Maracanã cairia. Veja só em quem fui pensar: em Baltazar [atacante do Corinthians, reserva durante a Copa de 1950]! Porque a bola raspou a minha cabeça. Baltazar, um emérito cabeceador de 1,80m, teria feito o gol” – lamentava-se, em depoimento para o livro Dossiê 50, de Geneton Moraes Neto. [Jair já havia conquistado, com a Seleção Brasileira, o Sul-Americano de 1949, quando foi inclusive artilheiro com nove gols]

Logo depois, no Palmeiras, fez parte da célebre equipe alviverde campeã paulista 1950, e personagem principal do jogo final contra o São Paulo, disputado curiosamente no dia 28 de janeiro de 1951. Um “simples” empate bastava para dar o título ao Palmeiras, mas ao fim do primeiro tempo, o Tricolor vencia a partida por 1 a 0. Ao chegarem no vestiário, os jogadores palmeirenses encontraram um Jair irado e coberto de lama, que aos gritos exigia raça dos companheiros. E foi justamente dos pés do Jajá que saiu o gol salvador: ele lançou a bola que, caprichosamente, empacou em uma poça do Pacaembu e foi para os pés de Aquiles. Um a um, resultado final, Palmeiras campeão.

Naquele mesmo ano, Jair ajudou o Palmeiras a vencer um dos mais importantes títulos da história do clube, a Copa Rio de 1951 – espécie de “mundialito” promovido pelo jornalista Mário Filho – após bater o Juventus da Itália na final.

Jair deixou o Palmeiras em 1956 e foi para o Santos. Na baixada santista fez parte das raízes do maior Santos de todos os tempos. Viu nascer para o futebol ninguém menos que Pelé – ou Gasolina, como era chamado na época. Ao ver o pequeno negrinho treinando, Jair teria dado um tapinha nas costas do embrionário craque e dito: “Você tem pinta”. Com a linha Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe, marcou época na Vila Belmiro, sendo campeão nos anos de 1956, 1958 e 1960. No ano seguinte passou a defender a camisa do São Paulo. A passagem pelo Tricolor do Morumbi foi curta e sem títulos, lá permanecendo até 1963. Jair ainda jogaria pela Ponte Preta, em 1964, onde encerrou a carreira.

A partir daí construiu uma carreira como técnico, treinando o próprio São Paulo, Juventus, Ponte Preta, Vitória, Olaria, Santos, Madureira, Palmeiras e Guarani, tendo em todos eles uma breve e discreta permanência.

Nos últimos anos de vida, Jair passava o tempo na praça Saens Pena, na Tijuca, zona Norte do Rio de Janeiro, onde se encontrava para conversar com os amigos e ainda ouvir alguns elogios de transeuntes. “Jair, tem uma vaga lá na minha pelada”, diziam alguns. Na verdade, Jair Rosa Pinto – e não “da Rosa Pinto”, que fique claro – tinha vaga em qualquer “pelada”. Inclusive quando batia uma bola nos churrascos da Bolsa de Gêneros Alimentícios, onde, com as mesmas pernas finas e uma poderosa canhota, “acabava com o jogo”, mesmo aos 60 anos de idade.

Ps: Apenas o Palmeiras enviou um representante ao velório de Jair.

Fonte: Site do MUV - Coluna Histórias da Colina


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