Netvasco - 18/10 - 16:29 -
Jaguaré, a voz de São Januário
Em 1928, Walter Miceli se destacava no gol, em peladas no bairro de São Januário. Graças à sua atuação nos campos, o vascaíno então com 6 anos, ganhou o apelido de Jaguaré, goleiro cruzmaltino da época. Querendo conhecer o responsável por seu apelido, foi a São Januário acompanhado por seus familiares. Ao ouvir o professor Castro Filho falar pelo serviço de som do estádio, setenciou: "Um dia eu vou falar aqui".
O menino Jaguaré adquiriu o costume de frequentar São Januário. Em 31, assistiu à maior goleada da história de seu time sobre o arquirival Flamengo, um humilhante 7 a 0. A equipe jogou com Jaguaré, Brilhante, Itália, Tinoco, Fausto, Mola, Baianinho, "Oitenta e quatro", Russinho, Mario Mattos e Santana. "Esse foi o momento mais gostoso da minha vida. O melhor time que já vi jogar. Se antes da partida eles dissessem que iam dar de cinco, eles davam."
Segundo o locutor, o jovem Helton lembra um pouco o goleiro campeão de 1931. "Ele só não faz uma coisa que Jaguaré - "O Dengoso" - fazia. Ele defendia, girava a bola no dedo e dava pro atacante tentar de novo e voltava a defender", lembra Jaguaré.
Em 12 de fevereiro de 1947, aos 25 anos, Jaguaré era levado pelo jornalista Julio Gammaro, do jornal "A Noite", para um teste de locutor. Segundo ele, antes mesmo do final do teste, o então vice-presidente Alvaro Ramos o convocou para assumir o posto de primeiro locutor do estádio de São Januário. Naquele ano o Vasco foi campeão.
Entra presidente, sai presidente e Jaguaré continua firme como a "Voz de São Januário". Apaixonado declarado pelo Vasco, ele ensaia a possível aposentadoria. "Eu queria parar um pouco, mas ninguém vai aceitar. O doutor Eurico não ia deixar, ele gosta de mim e eu sou muito grato a ele", agradece.
Há 53 anos, ele segue o mesmo ritual: chega ao estádio, diz a escalação dos times, o juiz e os auxiliares da preliminar, informa as substituições e os autores dos gols e repete o mesmo no jogo principal. Também participa de todas as solenidades para as quais é convidado. "Isso eu faço muito bem", conta Jaguaré.
Com vista privilegiada da tribuna de imprensa, ele acompanha a torcida vascaína há cinco décadas e diz que ela evoluiu. "Apesar de o Vasco sempre ter sido um clube com torcida, ela cresceu muito". Jaguaré conta que há 30 anos, a vida social no Vasco era mais ativa, "tinha umas festas juninas lindas muito bem organizadas pelo seu Ismael". O locutor hoje vibra com as conquistas do Vasco nas mais diversas modalidades esportivas, mas sente falta das festas que, segundo ele, já não são as mesmas.
Além de locutor, Jaguaré já trabalhou em cinema, com pequenas participações em "Obrigado Doutor", com Rodolfo Mayer e "Poeira de Estrelas" com Colé. Um fato curioso em sua vida é que há quinze anos ele é convidado pelo administrador do Cemitério do Caju para ler as orações no enterro. Muito religioso, se corresponde com o Vaticano desde 1938. "Eu escrevo regularmente para o Papa e sempre obtenho resposta", conta orgulhoso.
Desde que começou a trabalhar em São Januário, a partida que mais gostou aconteceu no dia 25 de maio de 1945. O adversário foi o time inglês Arsenal e a vitória veio através de um gol olímpico do ponte-direita Nestor.
Apesar de tentar, Jaguaré nem sempre conseguiu ser imparcial. Em 10 de setembro de 1996, o Vasco ganhava por 1 X 0 do Grêmio, o tempo regulamentar já tinha acabado e o juiz Oscar Roberto de Godói não terminava a partida. Quando Paulo Nunes empatou o jogo, Jaguaré entrou em desespero, pegou o microfone e disse: "Agora você pode acabar seu muquirana". O estádio o aplaudiu.
"Eu ganhei tantos prêmios, durante todo esse tempo, qua já não consigo lembrar de todos". O próximo promete ser inesquecível. O vascaíno está a um passo de ver seu nome incluído no Guiness Book, por conta de seus 53 anos de locução em São Januário.
Fonte: Revista do Vasco n° 6 - Junho de 2000
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