Entre o sonho de pacificação do Vasco e a realidade de mar turbulento há uma distância do tamanho da frequência com que os protestos acontecem do lado de fora do clube. Alexandre Campello foi o principal alvo de cerca de 100 torcedores que pararam em frente a São Januário, segunda-feira, para se manifestarem contra a gestão e os maus resultados no futebol. Foi nada menos que a quarta manifestação em 16 meses da atual gestão. Uma a cada quatro meses. Isso sem contar as reclamações nos aeroportos da vida.
Além do presidente, também foi alvo Paulo César Gusmão, coordenador de futebol do clube. A torcida pede sua demissão, na carona da saída de Alexandre Faria, demitido domingo. Outro muito insultado foi Yago Pikachu. O jogador virou persona non grata após agredir um vascaíno no desembarque da equipe em Manaus, sexta-feira.
Apesar da bronca quanto aos resultados no futebol — a equipe é a última colocada no Brasileiro, com duas derrotas e um empate —, o protesto foi majoritariamente político. Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo, foi muito atacado, assim como o Conselho de Beneméritos. Houve pedidos por voto direto para presidente e gritos afirmando que o clube possui as "eleições mais roubadas do Brasil". Julio Brant, líder da "Sempre Vasco", também foi alvo de críticas.
O policiamento reforçado na rua manteve a ordem, e os jogadores curtiram a segurança da folga longe de São Cristóvão. O elenco começa a treinar hoje, de olho no Santos, rival de domingo, no Pacaembu. Para os manifestantes, vencer o jogo virou obrigação. Houve também a ameaça de violência em caso de derrota.
Os protestos anteriores da torcida do Vasco não transcorreram como o de ontem, sem incidentes registrados. Nas outras três manifestações da gestão Campello, houve desde invasão de campo em São Januário a ataque a carro de membros da diretoria do Cruz-Maltino.
O primeira protesto ocorreu em maio do ano passado, quando cerca de 50 torcedores entraram no gramado do clube durante o treino e fizeram com que os jogadores partissem para o vestiário. Em setembro, o carro de Campello foi chutado quando entrava em São Januário. Ovos foram atirados na fachada. Em novembro, torcedores foram ao CT de Vargem Grande para protestar e atacaram o carro de PC Gusmão.
Futebol desmontado
Em São Januário, Alexandre Campello teve rotina logo pela manhã, quando participou da reunião do Conselho de Beneméritos. Candidato único, Silvio Godoi foi confirmado presidente, com José Luis Moreira assumindo a função de vice.
A união de ambos — teoricamente membros de correntes políticas distintas — sinaliza, na teoria, uma tentativa de pacificação interna. Campello terá ao menos por parte de Moreira uma voz atuante dentro do conselho para blindá-lo das tentativas da oposição de afastá-lo. Resta saber se o vínculo dos dois será outro.
José Luis Moreira desponta como único nome possível para assumir a vice-presidência de futebol, caso Alexandre Campello ceda às pressões internas e decida colocar alguém na função, vaga desde a saída de Fred Lopes, em maio passado. Entretanto, o presidente cruz-maltino é contrário.
Com isso, ele está praticamente sozinho para decidir todo futebol do Vasco após a saída de Alexandre Faria. É preciso contratar um novo diretor de futebol e um novo treinador. O primeiro precisa vir antes, uma vez que Campello não pode correr o risco de escolher um técnico que não seja do agrado do executivo. Somente depois da chegada dos dois que o clube pode definir se irá ao mercado atrás de reforços. Quatro foram contratados recentemente: o goleiro Sidão, o volante Marcos Júnior, o meia Valdívia e o atacante Jairinho.
Cotados em baixa
Para o cargo de diretor de futebol, três nomes foram especulados em São Januário: Antônio Lopes, Ricardo Rocha e Felipe Ximenes. Em contato com a reportagem, todos negaram terem sido procurados pelo Cruz-Maltino até ontem.
Antônio Lopes, Ricardo Rocha e Felipe Ximenes estão livres no mercado e têm história no clube — já trabalharam em São Januário como treinador, zagueiro e diretor, respectivamente. Rodrigo Caetano sempre foi um nome muito bem avaliado por Alexandre Campello, mas está no Internacional.
Para o cargo de treinador, após uma série de contatos infrutíferos — a diretoria procurou Dorival Júnior, Diego Aguirre, Jorge Jesus e Dunga —, a tendência é que Marcos Valadares seja mantido na função interinamente até que essas pendências sejam resolvidas.
O Vasco terá o terceiro diretor de futebol em 16 meses. Quando assumiu o clube, Alexandre Campello contratou Paulo Pelaipe para a função, com Newton Drummond no cargo de gerente de futebol. Os dois foram demitidos em junho do ano passado e Paulo César Gusmão e Alexandre Faria foram contratados para o lugar. Faria caiu no domingo, enquanto Gusmão balança no cargo.
Fonte: Extra Online