Livre no mercado, Marcelo Mattos fala sobre lesão, volta aos gramados e saída do Vasco
Sexta-feira, 10/05/2019 - 08:45
Quem conhece Marcelo Mattos apenas pelo o que ele faz em campo pode não imaginar quem é Marcelo Mattos fora dele. Um cara tranquilo, que se emociona, chora, abre o coração e tenta não carregar mágoas, mesmo quando o olhar tenta dizer outra coisa. Aos 35 anos, o volante se despediu do Vasco e está em busca de um recomeço.

Antes do "adeus", muita história para contar. Para quem não lembra, Marcelo Mattos ficou sem jogar de setembro de 2016 até 29 de março de 2019. Foram cinco cirurgias no joelho. Infecção. Fisioterapia. Fortalecimento. Recomeço. Neste ano, ele voltou a treinar com os companheiros e até a jogar, mas não teve muito tempo para tentar algo mais.

- Eu não tive chance. Tive chance de jogar um jogo. Nos treinamentos eu treinava muito fora de posição. No Brasileiro eu poderia ser a quinta opção, mas acho que teria uma oportunidade. Poderia sair da quinta e ir para a primeira. (...) Acho que se eu fico até o fim do ano teria oportunidade no Brasileiro. Acho que teria como mostrar que estou bem, que poderia ajudar o clube não só dentro de campo, mas com a minha experiência - disse Marcelo Mattos, num papo de quase uma hora com o GloboEsporte.com.

Independentemente do futuro, o que Marcelo Mattos viveu no Vasco nos últimos anos merece ser contado. Por isso, deixemos que o próprio volante conte, por exemplo, como foi ser relacionado pela primeira vez depois de mais de dois anos sem ir para um jogo como atleta, não como torcedor.

- O trajeto (para São Januário) foi f... Fui chorando o trajeto todo. Fiz muitas vezes aquele caminho para jogar. Depois de tanto tempo, fiz novamente, graças à minha persistência, graças a Deus, às pessoas que puderam me ajudar. Eu nunca desisti, então consegui chegar àquele momento. A hora de descer do ônibus também foi bem emocionante. Alguns perceberam que eu chorei, não teve jeito. Eu não lembro quem estava do meu lado, mas não era jogador, não, era da comissão. Um ou outro percebeu. Eu queria ter jogado já naquele jogo (contra o Bangu), mas não deu, foi no outro, também contra o Bangu - relembra o jogador.

Marcelo Mattos rompeu ligamentos do joelho direito em setembro de 2016. Depois, passou por cinco cirurgias, teve uma infecção no local que o obrigou a utilizar antibiótico na veia por seis meses, sentiu dores, precisou de psicólogo, psiquiatra... Teve dias em que o volante precisou respirar para não jogar tudo para o alto.

O que foi crucial para Marcelo Mattos não desistir não tem um nome. Chame de energia, de família, de fé. Em dezembro do ano passado, em meio a mais momentos difíceis, o volante decidiu pegar alguns dias de férias enquanto o elenco do Vasco também estivesse longe das atividades para visitar a família.

- Comecei a correr numa calçada de cimento, descalço, um dia, na frente de casa. Dei uma trotada e percebi: "tem algo diferente". Meu joelho não estava mais doendo. Tinha um amigo também que ia comigo para a academia e aí num certo dia eu falei que depois da academia a gente ia para o campo. Ele ficava segurando a borracha, ajudando. Peguei dois chinelos meus, dois dele, fiz um campinho. Fizemos um 1x1, dei carrinho, pulei, tudo. Ele disse: "c..., Mattos". Eu falei: "vou voltar a jogar" - explica.

- Dois dias depois, teria um jogo dos meus amigos gordinhos. Quando fui para a minha cidade, eu não ia participar desse joguinho. Sempre me chamam, mas pensei: "não vou ter condição, não". Quando vi que conseguia fazer as coisas sem dor, falei: "vou com vocês". Ganhamos o jogo de 6x5. Eu fiz 5 e dei passe para 1. Falei: "vou voltar a jogar". Joguei de camisa 10 (risos). Eles que tem de correr - brinca.

"Eu sou médico"

Virou rotina para Marcelo Mattos ler nas redes sociais que "se formou em medicina", "pode virar médico". E ele "virou". Enquanto esteve longe dos gramados, o volante procurou estudar o que podia para entender melhor o que teria de enfrentar.

- Era difícil para mim ver os companheiros muito acima fisicamente. Para mim era muito difícil. Acabava um treino, eu já ia nos fisioterapeutas, discutia as dificuldades. Eu lia muito. Eu me interei muito. Eu sei muito. Eu sou médico. A galera fala que eu virei médico, mas eu aprendi um pouquinho. Eu me interessei pelo assunto. Tudo o que eu sentia, discutia com os fisioterapeutas. Não conseguia levantar a perna, o quadril.

Leia, abaixo, outros trechos da entrevista com Marcelo Mattos:

2019

- Foi um ano de alegria. De janeiro, na pré-temporada. Foi uma alegria enorme. Mas foi o início de uma transição para o campo que eu achava que levaria pouco tempo, coisa de um, dois meses, para estar 100% tecnicamente. Mas não foi tão simples assim. Meio que uma luta também, como a que foi para tirar a dor do meu joelho. Eu tirei a dor do meu joelho em dezembro, fim do ano, depois foi uma transição para chegar a 100% igual meus companheiros.

Está 100%?

- Com certeza. Estou no mesmo nível (dos companheiros). Claro que vou necessitar de jogos, como todo jogador que está jogando, mas fisicamente, todos os movimentos do joelho, da perna, eu tenho normalmente. Todo jogador que fica de férias em dezembro precisa de quatro ou cinco partidas para entrar no ritmo. E eu não sou diferente. Passei bastante tempo sem jogar. Tive a felicidade de jogar contra o Bangu, mas para mim é pouco.

Diferenças para os companheiros

- Nos treinos, eu precisava alongar para correr solto. Esse alongamento demorava muito, então alongava muitas fibras. Eu ia chutar a bola e chutava muito fraco. Faltava potência na musculatura. Aí fui ganhando esse arco e diminuindo o alongamento.

Despedida

- Quando fui me despedi, preferi ir no dia em que não tinha muitos jogadores. Queria me despedir dos funcionários, jogadores que tive muito contato no DM. O restante me despedi por mensagem, no grupo. Foi muito emocionante. Saindo do CT eu encostei o carro, mas tinha de chegar para levar a filha dela (namorada) para a escola, e aí eu tive de acelerar. Eu queria escrever o que eu estava sentindo naquele momento. Eu queria mesmo escrever o que eu estava sentindo ali. Mas vim dirigindo e pensei que depois escreveria. Cheguei em casa, deitei e escrevi chorando. Aquela é a pura verdade.

Futuro

- Quero continuar jogando, porque se eu parar agora o que adiantou tudo o que eu fiz? Ainda não mostrei não a força mental. Eu falei no Instagram que preciso fazer uns joguinhos, perguntando se conhecem uma galera que joga uma peladinha. Mas falaram que eu ia parar. Eu pensei: "tá bom, vou parar. Fiquei dois anos assim e agora vou parar?". Não vou parar, não. Vou continuar. Esperar uma oportunidade. Creio que até a Copa América possa acontecer, num período bacana, dou uma esfriada na cabeça, continuo treinando. Vamos aguardar para ver o que acontece.



Fonte: GloboEsporte.com