Eles são quase tão badalados quanto os profissionais: ganham uma chuva de curtidas e comentários nas redes sociais a cada publicação, recebem propostas de clubes europeus, precisam lidar com pressão e elogios da torcida. Mas com uma diferença: Pedrinho Pit, do Flamengo, e Kauã Valente, do Vasco, são crianças. A duplinha já é celebridade na Internet mesmo ainda em seus primeiros passos no futebol. Será que eles se divertem no esporte?

Os pais garantem que sim, e dizem ser cuidadosos quanto ao desenvolvimento dos pequenos. Os torcedores acompanham cada vez mais as categorias de base, e, por isso, o uso das redes sociais é importante para mostrar os lances e o dia a dia dos garotos. Kauã Valente ficou famoso no ano passado ao puxar uma corrente motivando seus companheiros de Vasco antes de uma partida. O discurso inflamado viralizou, e ele chegou a ser garoto-propaganda da Nike no lançamento da camisa da Seleção Brasileira na Copa da Rússia. Kauã, atualmente no sub-12 do Vasco, já foi entrevistado até pela Xuxa. Não é uma rotina corrida demais?

Mais importante que os títulos é ver que essa garotada está crescendo completamente identificada com as cores do Vasco. Se liga no que falou o Kauã para os companheiros do sub-10 antes da decisão contra o Flamengo. É de arrepiar! #RaizÉSerVasco pic.twitter.com/k6ISgUZckA

— Carlos Gregorio Jr (@CarlosGregJr) 2 de dezembro de 2017

"A rede social é bem vista por mim. Eu também gosto de acompanhar a categoria de base, e antigamente você não tinha acesso. Agora, tudo na vida tem seu lado bom e seu lado ruim. A gente tem que saber filtrar e buscar as coisas boas. Ele gosta muito de ver, acompanhar, ler os comentários. Ele mesmo se cobra muito", diz Anísio Valente, pai de Kauã. Pedro Felipe, pai de Pedrinho 'Pit' - conhecido assim pela raça nas quadras -, já recebeu até propostas de clubes europeus por conta dos vídeos nas redes. Ele tenta tomar cuidado para não cair em cilada.

"Recentemente ele foi procurado por dois clubes europeus. Um empresário aqui do Rio mostrou um vídeo dele para um captador do Real Madrid. O cara ficou encantado e queria fazer um intercâmbio. Só que nós conversamos com o Flamengo, e o clube pensou que poderíamos nos precipitar. Isso poderia ser um peso para o garoto. É importante ele continuar brincando, se desenvolvendo", analisa. "As coisas no futebol estão acontecendo cada vez mais precoce. Brinco que daqui a pouco o empresário vai sondar o jogador ainda na barriga da mãe. Tem um monte em busca de um Neymar na vida. O cara pega dez jogadores, se um vingar ele está com o burro na sombra", reflete o pai do minicraque.

Psicóloga alerta para as crianças nas redes

Moderação no uso de aplicativos como Instagram, Twitter e Facebook por parte das crianças. É o que sugere a psicóloga Renata Bento, especializada em criança, adolescente e família e filiada à Associação Internacional de Psicanálise (IPA). Ela avalia que é preciso cuidado para não expôr demais os pequenos.

"Quando se cria um perfil em uma rede social, cria-se uma espécie de identidade virtual. Isso ocorre de uma maneira ilusória, sendo que a criança ainda não constituiu sua própria identidade e autonomia tão necessárias para sua vida", comenta. "A criança precisa estar constantemente sob supervisão de um adulto" - é o caso de Kauã e Pedrinho, cujos pais administram os perfis. Renata também alerta para que a família não estimule demais a competitividade nos pequenos atletas. "Existe uma competição que é natural das relações humanas. Entretanto existe também a competição dos pais projetada na criança. Essa é mais complicada, porque pode ofuscar a verdadeira personalidade da criança, submetendo-a ao desejo dos pais, o que pode atrapalhar a criança a sentir sua própria existência".



Fonte: O Dia