Cria da Colina, Marrony projeta disputa do Campeonato Brasileiro
Sexta-feira, 26/04/2019 - 20:36
Nos muros da Barreira do Vasco, bairro no entorno do estádio de São Januário, uma frase soa como mantra para qualquer Cruzmaltino: "Enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal". Presente nos arredores da Colina Histórica, o ditado é um resumo do que significa ser Vasco. Afinal, o sentimento vascaíno está no sorriso da criança, na leveza dos jovens, na ousadia de quem ainda não tem o peso do mundo sobre as costas. Está, consequentemente, no futebol de suas joias da base, meninos que sempre fizeram parte da história do clube. E que têm em Marrony seu mais novo representante.

- Eu me sinto um privilegiado por receber o apoio da torcida vascaína. Eles me tratam com carinho desde que eu estava na base. Lembro que era uma sensação diferente jogar com um público grande no estádio. Vivi isso algumas vezes no sub-17 e no sub-20. Eu morava na Pousada do Almirante, então sempre ia nos jogos e me imaginava dentro do campo. Valorizo muito ter meu trabalho sendo reconhecido pela torcida. Vou sempre deixar meu máximo em campo para dar alegria para ela - disse.

O jovem atacante estreou no Brasileirão passado e desde então viu sua carreira decolar. Hoje, o camisa 38 é uma das maiores esperanças do torcedor do Vasco para o Campeonato Brasileiro. Foi o artilheiro do clube na campanha que terminou no vice-campeonato do Campeonato Carioca. Uma história que começou há alguns anos, a vários quilômetros de distância de São Januário.

De Volta Redonda a São Januário

Nascido em Volta Redonda, Marrony jogou em times da cidade até se transferir para as categorias de base do Vasco, em 2015. A cidade tem uma história recente com o Cruzmaltino graças a um ídolo vascaíno: Dedé. O zagueiro, aliás, cresceu em um bairro vizinho ao em que Marrony morava antes de deixar Volta Redonda.

Desde então, se mudou para o Rio de Janeiro e aprendeu a chamar São Januário de casa. Literalmente, já que morou no alojamento do clube até pouco tempo. A transformação na vida de Marrony começou em 2015 e não parou de acontecer. Logo no primeiro ano, foi campeão da Taça Guanabara e do Campeonato Carioca Sub-17. Em 2017, enfileirou títulos estaduais. Com o time sub-20 do Vasco, foi campeão da Taça Guanabara, da Taça Rio e, consequentemente, do Campeonato Carioca.

- Comecei a jogar futebol muito cedo pelo Volta Redonda, o time da minha cidade. Me destaquei na disputa de um Campeonato Carioca marcando nove gols e chamei a atenção de alguns clubes. Cheguei a ir para o Cruzeiro, mas não fiquei muito tempo por lá. Voltei e acabei indo para o sub-17 do Vasco. Me adaptei muito bem e estou aqui até hoje - afirmou.

Uma noite para sempre

Sua história no profissional começou a ser escrita no Brasileirão do ano passado. Uma noite em especial serviu para colocar Marrony em destaque: a vitória sobre o Bahia por 2 a 1, em São Januário. No estádio em que viveu por tanto tempo nas últimas temporadas, o jovem da Cidade do Aço viveu uma noite de salvador. Em um confronto direto pela permanência na Série A, o Vasco precisava dos três pontos contra o Bahia. Tudo parecia nos conformes quando o Cruzmaltino abriu o placar, aos 30 do primeiro tempo, em pênalti que culminou na expulsão do goleiro do Bahia. Mas o Tricolor conseguiu empatar antes do intervalo, aumentando o drama em São Januário.

Foi então que surgiu Marrony. Aos 32 minutos do segundo tempo, Yago Pikachu lançou uma bola na área, quase que despretensiosamente. O atacante subiu, ganhou de toda a defesa do Bahia e, sem piedade, testou firme, para o chão. Era o primeiro gol dele como profissional. Em êxtase, começou a pular, tirou a camisa e celebrou junto com a torcida vascaína. Foi o suficiente para ele virar um xodó dos torcedores. Rapidamente, Marrony virou o "Rashford da Colina", em referência ao atacante Marcus Rashford, do Manchester United.

- Foi uma noite especial e que jamais sairá da minha cabeça. Foi meu primeiro gol pelo profissional do Vasco. Lembro que estava no banco de reservas e só fui chamado para entrar no segundo tempo. Era uma partida importante e a gente precisa ganhar para melhorar nossa situação no Brasileiro. Acabou que depois de uma jogada entre o Kelvin e o Pikachu, a bola chegou para mim e eu pude fazer o gol da vitória. Minha família estava toda no estádio. Um dia inesquecível - lembrou.

Marrony é, como se pode dizer na linguagem popular do Rio de Janeiro, um cria. É quem resolve, quem tem personalidade, quem aparece para brilhar quando é isso mesmo que se espera dele. E no clube que já revelou tantos outros, como Philippe Coutinho e Allan, o caminho já está desenhado. Basta a Marrony percorrer. É justamente por jovens como ele que sempre haverá um coração infantil.

- O Vasco é minha casa, minha segunda família. Posso dizer que hoje ele representa tudo para mim. Foi o clube que abriu as portas para eu correr atrás dos meus sonhos e ter a oportunidade de dar um futuro melhor para minha família. Se estou aqui no profissional, se já cheguei a vestir a camisa da Seleção Brasileira, é tudo por conta do Vasco. Devo tudo ao clube - concluiu.



Fonte: CBF