Dé, o Aranha, se diz dividido: 'Bangu foi minha afirmação. Vasco me fez vencedor'
Irreverência, picardia, malandragem e bom futebol. Misture tudo isso e o resultado o remeterá a Domingos Elias Alves Pedra. Para quem não ligar o nome a um dos jogadores mais talentosos e folclóricos do futebol brasileiro, basta chamá-lo pelo apelido: Dé, o Aranha. O ex-atacante tem muitas — e saborosas — histórias para contar sobre uma carreira de 20 anos defendendo, entre outros clubes, Vasco e Bangu, que se enfrentam neste domingo, às 16h, no Maracanã, em busca de uma vaga na final do Campeonato Carioca.
Além de fazer a festa dos torcedores e balançar a rede com frequência, Dé protagonizou episódios que fazem parte da história do bom e velho esporte bretão. Marcou um gol usando pedra de gelo, jogou areia nos olhos do goleiro adversário para atrapalhá-lo em cobrança de falta, obrigou um bandeirinha a comer grama após vê-lo dar impedimento e anular um gol seu, e rasgou, a dentadas, o cartão vermelho que acabara de receber de um árbitro. Tudo isso em pleno Maracanã, diante de um respeitável e imenso público.
"Com a camisa do Bangu, teve o episódio do gol com a pedra de gelo. O jogo foi parado para atendimento ao banguense Luís Alberto, que se jogou no campo para ganhar tempo. Estava calor e eu, com sede, peguei uma pedra de gelo na bolsa do nosso massagista. Mas era tão grande que não cabia na minha boca. O jogo reiniciou e eu estava com aquilo na minha mão. Aí, vi que o Reyes (Flamengo) recebeu a bola sozinho no meio de campo, a matou no peito e a pôs no gramado. Não pensei duas vezes: acertei a bola com a pedra de gelo, o Reyes bobeou e consegui dar um bico nela. Na velocidade, a dominei, driblei o goleiro e fiz o gol", relembra, sorrindo.
Saudosista, mas realista, Dé fala do passado e do presente ao relembrar sua trajetória por Moça Bonita e São Januário. E não esconde o imenso carinho que tem pelos dois clubes. "O Bangu representou a minha afirmação no futebol. Eu saí menino do Olaria, com 17 anos, para jogar no time do Bangu, campeão carioca, até os 20 anos. Ele me projetou no futebol. Depois eu vou para onde? Exatamente para o Gigante da Colina, que durante sete anos, de 1970 a 1977, me fez um jogador vencedor. Foram dez anos de muita grandeza no futebol graças a Bangu e Vasco", diz Dé, campeão brasileiro de 1974 e da Taça Guanabara de 1976 pelo Vasco.
Dé também armou das dele vestindo a camisa cruzmaltina. Em um jogo contra o Flamengo, balançou a rede ao apagar das luzes, mas viu o bandeirinha assinalar impedimento. "Fiquei tão irado que agarrei um monte de capim e empurrei tudo goela dele abaixo. Falei para ele que burro tinha que comer capim", revela o ex-jogador, que em um Vasco x Bangu, irritado com a goleada por 4 a 0 que seu ex-clube aplicava no time da Colina, foi expulso pelo árbitro Nivaldo dos Santos. "Tomei da mão do árbitro o cartão, que na época era de plástico, e o rasguei a dentadas", brinca Dé, acrescentando: "Ele ainda tentou pegá-lo de volta, mas respondi 'Você me deu o cartão, agora ele é meu'", diverte-se.
Antenado à realidade dos dois times, Dé admite que o duelo decisivo de hoje, no Maracanã, perdeu um pouco de seu charme. "Já foi um clássico de montão, tendo o Bangu como protagonista durante muitos anos no futebol carioca e o Vasco mais ainda", avalia, sem deixar de enaltecer a rivalidade existente até hoje. Sem titubear, frisa que o cruzmaltino é favorito para ir à final do Carioca. "Vou ficar rigorosamente do lado do Vasco, que é mais favorito porque tem a vantagem do empate", frisa, sem, no entanto, deixar de dar uma forcinha para o alvirrubro da Zona Oeste. "Vou falar um negócio: estou torcendo um pouquinho pelo Bangu", admite Dé, que, além de Vasco e Bangu, defendeu o português Sporting, o árabe Al-Hilal, Bonsucesso, Rio Branco-ES e Desportiva-ES. Sempre com a mesma habilidade com a bola nos pés, gols e a peculiar irreverência.
Fonte: O Dia