Confira os principais questionamentos de conselheiros a Campello e a resposta da Diretoria
Quinta-feira, 04/04/2019 - 05:24
Tem sido difícil para Alexandre Campello ter sossego no cargo de presidente do Vasco. Após presenciar a Justiça manter o resultado das eleições na semana passada - o que garantiu sua permanência no comando do clube - o dirigente agora voltou a ser alvo de conselheiros e deverá novamente ser questionado no Conselho Deliberativo pelo que os opositores classificam como movimentações suspeitas e que demandam explicações por parte da diretoria. Nos corredores de São Januário há quem garanta que um processo de tentativa de impeachment já está sendo costurado pela oposição dentro dos próximos dois meses.

Na última segunda-feira (1), o Conselho Fiscal emitiu um parecer de abstenção sobre as contas de 2018. O poder se baseou num regimento interno, aprovado em novembro de 2018 pelo Conselho Deliberativo, em que se permite essa posição caso a diretoria administrativa não emita os documentos até 10 dias antes do prazo pré-estabelecido. De acordo com o órgão, os papéis foram entregues dia 18 de março, sendo que a data limite era 10 de março.



No mesmo dia, o presidente do Conselho Fiscal, Edmilson Valentim, e mais de 60 conselheiros de oposição levantaram os principais pontos que servirão de questionamento a Campello na reunião ainda sem data marcada.

Entre os itens de destaque estão dívidas trabalhistas que não foram pagas e geraram multas; a relação com o "Banco Paulista" - instituição onde foi aplicado o dinheiro da venda do atacante Paulinho ao Bayer Leverkusen (ALE) ; um novo empréstimo junto ao empresário Carlos Leite na ordem de R$ 4,2 milhões; e a atuação do filho do mandatário, Eduardo Campello, no departamento de futebol.

O UOL Esporte solicitou um posicionamento do Vasco sobre os temas ao longo de toda a terça-feira (2), mas até o fechamento da reportagem, à 0h29, o clube não havia se manifestado, tendo feito isto somente hoje por volta das 11h (veja a íntegra da nota oficial ao fim da reportagem).

Conselheiros questionam relação com o banco

No que se refere à relação entre o Banco Paulista e a venda do atacante Paulinho para o Bayer Leverkusen (ALE), os conselheiros exigem documentos que detalhem a relação do clube com a entidade que ficou por quatro meses com a verba aplicada em seus cofres, repassando-a de forma fracionada às contas cruzmaltinas da Caixa Econômica Federal e do Bradesco. Segundo os opositores, a diretoria não apresentou ainda o contrato entre as partes.

Eles também questionam o fato do banco não repassar nenhum rendimento de juros pela aplicação milionária de cerca de R$ 76 milhões.

Em nota, a diretoria respondeu aos questionamentos:

"A referida conta no Banco Paulista, de titularidade do Club de Regatas Vasco da Gama, é única e exclusivamente utilizada para realizar operações de câmbio (operação exterior). Quando concluída a venda do atleta Paulinho, em abril de 2018, o Clube fixou um câmbio para evitar perdas (conforme já amplamente divulgado, o valor da operação foi de aproximadamente R$ 76 milhões). À medida que o Clube precisava honrar compromissos financeiros, os recursos foram sendo gradativamente transferidos para outras contas do Vasco para os respectivos pagamentos. Grandes empresas utilizam esta estratégia, chamada hedge, para minimizar riscos com eventuais oscilações no câmbio".



Opositores apontam altos juros para Carlos Leite

Em relação ao novo empréstimo junto ao empresário Carlos Leite na ordem de R$ 4,2 milhões, obtido em outubro de 2018, os conselheiros de oposição denunciam um pagamento com altos juros ao agente três dias depois - graças a um novo empréstimo oriundo do banco BMG - de cerca de R$ 300 mil a mais em relação ao valor original.

Leite realiza operações de empréstimo em parceria com o Vasco desde a administração Eurico Miranda, que antecedeu a de Campello.

Em nota, a diretoria também respondeu a este questionamento:

"Em 17 de outubro de 2018, dada às dificuldades de fluxo de caixa do Clube, ocasionadas, sobretudo, pela recusa de grupos de oposição em aprovar o primeiro pedido de empréstimo feito na ocasião pela Diretoria Administrativa, o Vasco recorreu ao empresário Carlos Leite, que efetuou um empréstimo, SEM OCORRÊNCIA DE JUROS, de R$ 4,1 milhões. Estes recursos, repita-se, foram utilizados em uma situação emergencial para a quitação da folha salarial de agosto. Parte do empréstimo foi quitada seis dias depois e o restante, cerca de 40 dias após a operação. Na ocasião, o Clube também pagou ao empresário Carlo Leite o valor aproximado de R$ 320 mil referentes à quitação de duas parcelas de empréstimo contraído pelo Vasco junto ao Banco Safra. Este empréstimo, do qual o empresário é garantidor, foi realizado em novembro de 2017".

Campello já se livrou de um impeachment

Em maio do ano passado foi colocada em votação no Conselho Deliberativo uma abertura de inquérito que poderia culminar em um impeachment do presidente Alexandre Campello. Em pleito muito acirrado e com direito a bastante bate-boca, 98 conselheiros votaram pela não abertura contra 94 que queriam a investigação, fazendo com que o processo de impedimento não desse prosseguimento.

Vale lembrar que tanto o presidente do Conselho Fiscal, Edmilson Valentim, quanto o do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, são ferrenhos opositores de Campello.

Monteiro, por exemplo, em reunião de seu grupo político "Identidade Vasco" - o mesmo de Valentim - chegou a "pedir a cabeça" do mandatário (veja no vídeo acima), a quem se refere como "Calabar", uma alusão a Domingos Fernandes Calabar, um senhor de engenho que se aliou aos holandeses que invadiram o Nordeste contra Portugal e que ficou com fama de traidor.

"Nós somos muito leais. Eu converso com A, com B, com C, com D, mas quero dizer o seguinte: quem me entregar a cabeça do Calabar vai ter a nossa eterna lealdade!", disse no trecho.

Veja a íntegra da nota oficial do Vasco:

"A referida conta no Banco Paulista, de titularidade do Club de Regatas Vasco da Gama, é única e exclusivamente utilizada para realizar operações de câmbio (operação exterior). Quando concluída a venda do atleta Paulinho, em abril de 2018, o Clube fixou um câmbio para evitar perdas (conforme já amplamente divulgado, o valor da operação foi de aproximadamente R$ 76 milhões). À medida que o Clube precisava honrar compromissos financeiros, os recursos foram sendo gradativamente transferidos para outras contas do Vasco para os respectivos pagamentos. Grandes empresas utilizam esta estratégia, chamada hedge, para minimizar riscos com eventuais oscilações no câmbio.

Em 17 de outubro de 2018, dada às dificuldades de fluxo de caixa do Clube, ocasionadas, sobretudo, pela recusa de grupos de oposição em aprovar o primeiro pedido de empréstimo feito na ocasião pela Diretoria Administrativa, o Vasco recorreu ao empresário Carlos Leite, que efetuou um empréstimo, SEM OCORRÊNCIA DE JUROS, de R$ 4,1 milhões. Estes recursos, repita-se, foram utilizados em uma situação emergencial para a quitação da folha salarial de agosto. Parte do empréstimo foi quitada seis dias depois e o restante, cerca de 40 dias após a operação. Na ocasião, o Clube também pagou ao empresário Carlo Leite o valor aproximado de R$ 320 mil referentes à quitação de duas parcelas de empréstimo contraído pelo Vasco junto ao Banco Safra. Este empréstimo, do qual o empresário é garantidor, foi realizado em novembro de 2017".


Fonte: UOL