Ex-base do Vasco e Seleção Sub-20, goleiro Lucas Covolan atua hoje na 7ª divisão da Inglaterra
Estrelas da Premier League hoje formam a base da Seleção para a Copa América. Mas bem longe dos holofotes do campeonato mais rico do mundo, um brasileiro prova que a estrutura do esporte na Inglaterra permite que um jogador viva com dignidade mesmo no equivalente à sétima divisão. Ex-companheiro de Philippe Coutinho no Vasco e de Oscar na seleção sub-20, o goleiro Lucas Covolan ainda trabalha por melhores oportunidades nos gramados, mas se considera um privilegiado por vestir a camisa do Worthing FC.
Ao ver alguns antigos colegas ganhando milhões, Lucas lamenta algumas escolhas do passado que hoje avalia como erradas. Mas diante de tantos outros que abandonaram a rotina de atleta para sustentar as famílias, acredita que tem sorte de manter o sonho vivo aos 27 anos.
- Temos raridades como o Coutinho, Neymar, Roberto Firmino. (...) Não é todo mundo que ganha milhões. São poucos que têm esse privilégio. Tem muitas divisões abaixo, mas emque você também consegue viver do futebol e guardar o seu dinheiro.
- Tudo é parte do momento, do aprendizado. Se o destino quis que eu estivesse aqui, dou meu melhor para que na próxima temporada possa fazer melhor, ter um time melhor e continuar crescendo - disse Lucas.
A carreira de Lucas começou na base do Coritiba, passando ainda por Athletico e Trieste até ser levado por um olheiro ao Vasco. Foi nessa época que chegou à seleção sub-20. Voltou ao Paraná para jogar no time sub-23 do Furacão e acabou emprestado ao Bento Gonçalves, do Rio Grande do Sul. Lá passou quatro dos seis meses de contrato lesionado.
A estreia profissional só aconteceria em 2014, no Rio Branco, do Acre. Um frango logo na estreia não facilitou a vida do goleiro, que foi dispensado após seis meses. Começaria assim a peregrinação internacional.
Lucas foi para a Espanha com a promessa de jogar a segunda divisão. Acabou na terceira. Foram dois clubes no país até migrar para a Inglaterra, onde primeiro jogou pelo Whitehawk. Está há duas temporadas em Worthing, cidade de 100 mil habitantes no sul do país, cujo time é o atual quarto colocado da Isthimian League Premier Division, o equivalente à sétima divisão na pirâmide do futebol inglês.
- Falando em sétima divisão parece tão longe. A estrutura do clube em si acredito que seja terceira, segunda do Brasil. Tem times que nem na primeira tem uma estrutura tão boa como essa. Tem fisioterapia, médico, treinador de goleiro, treinador, material, campo próprio, recebe salário em dia. É muito uma questão cultural, as pessoas são muito organizadas – disse Lucas.
O Worthing se sustenta com patrocínios, publicidade e venda de ingressos, tendo média de público superior a mil torcedores nos jogos em casa. Mesmo assim, cerca de 2/3 do elenco precisam complementar a renda com atividades extras. O capitão Darren Budd, por exemplo, trabalha durante o dia numa firma de mudanças. Por isso os treinos são à noite, de duas a três vezes por semana, a depender da agenda de jogos.
- Eu fiz a mudança de uma casa, acabei 17h, vim direto para cá. Vou treinar e depois ajudar com o sub-18 até 22h. Amamos futebol e por esse motivo fazemos isso – disse Darren.
O amor de Lucas foi posto à prova em outubro do ano passado. Numa partida válida pela Copa da Inglaterra, chocou-se com o atacante adversário e quebrou o rádio do braço direito. Ficou quase cinco meses parado. Um período duro, no qual se questionou constantemente sobre os sacrifícios da carreira.
- É aquele tempo que você para para refletir muito. É o tempo longe dos amigos, longe de casa, em que não está jogando e não faz o que gosta. Bate aquela depressão um pouco. Você pensa se vale o esforço que estou fazendo. Passei quatro meses e meio pensando nisso. No primeiro jogo que voltei, quando a torcida gritou de novo meu nome, falei: "É, vale a pena". Vale a pena ficar, vale a pena seguir o sonho.
Fonte: Sportv.com