Ricardo Rocha: 'Era muito bom ser jogador do Eurico'
Terça-feira, 12/03/2019 - 19:23
Nunca tive problema nenhum com Eurico, sempre fomos muito amigos. Eu gostava de puxar papo com ele, adorava tirar ele do sério. Quando ele me chamou para o Vasco, em 1994, falou com meu empresário, Juan Figer, e comigo. Era um interesse antigo dele por mim. Eu já o conhecia da seleção brasileira, porque ele tinha sido chefe de delegação.

Era muito bom ser jogador dele. O que eu achava interessante nele é que muitas vezes ele poderia ter um time fraco, mas ele não passava isso para os jogadores do Vasco. Para ele o Vasco era sempre o maior, e os jogadores do Vasco eram sempre os melhores, mesmo quando a gente não era. Na minha época, era muita garotada: tinha o Yan, o Gian, o Alex Pinho, o Bruno Carvalho, o Dener, o Pimentel... era bom sentir aquela confiança dele com a gente, e eu acho que isso é o melhor que dá para extrair dele como dirigente.

Tudo com o Eurico era muito direto. Eu me lembro que, quando a gente ganhava um jogo no domingo, ele chegava na segunda-feira com o dinheiro num saquinho. Aí ele chamava a mim, que era o capitão e o Isaías Tinoco, ou o Dante Rocha, que eram os supervisores da época. Ele ia pagando um por um. Aí aparecia um funcionário para varrer a sala, ele brincava: "Olha esse daí; não dá um chute, varre mal pra caramba e eu ainda vou dar um dinheiro para ele..."

Mas também teve a vez em que ele estava devendo um prêmio para nós. Ele veio com um papo de que "eu devo, mas não devo".

Ô doutor, que história é essa? - perguntei.

Eu devo, mas não devo. Se eu te devo o dinheiro, mas não tenho, então eu não devo. Se eu tivesse, aí sim eu te devia.

Esse era o Eurico. Que conhecia como ninguém os regulamentos. Um dirigente amigo meu certa vez foi para uma reunião arbitral, em que todo mundo ficava discutindo como ia ser a fórmula do campeonato, aí todo mundo debatendo e ele calado, escutando. Até a hora em que ele jogou o regulamento sobre a mesa e apontou: "Olha isso aqui. O regulamento é ESSE."

Ele tinha sua maneira de ser, que combinava com ele, mas também meteu os pés pelas mãos às vezes. À época do Nations Bank, quando entrou um dinheiro forte do Vasco, ele gastou mais do que podia, contratava gente de todas as modalidades, queria fazer o basquete do vasco grande. Alguém tinha que ter segurando a mão dele e dito, calma doutor, vamos contratar só uns três.

Esse era o Eurico. A quem um dia eu perguntei quem tinha jogado mais, eu ou o Mauro Galvão. Aí ele baixou o charuto, me olhou e respondeu: "Vc é bom jogador, mas o Mauro jogou mais do que vc".

Ricardo Rocha foi zagueiro e capitão do Vasco de 1994 a 1996.



Fonte: O Globo Online