Há 20 anos o Vasco se sagrava campeão do Torneio Rio-São Paulo pela 3ª vez
Domingo, 03/03/2019 - 06:05
A torcida vascaína não parava de comemorar. Após a decepção com a perda da final do Mundial Interclubes diante do poderoso Real Madrid, cerca de três meses depois a massa cruzmaltina voltava a sorrir. A vitória por 2 a 1 sobre o Santos, no Morumbi, ratificava o que era mais do que evidente: aquele time do Vasco continuava sendo uma potência dentro dos gramados. Primeiro, veio o Brasileiro de 97; no ano seguinte (o do Centenário do clube), a conquista do Carioca e, em sequência, da Libertadores; e em 99, a temporada começava com o pé direito, vencendo o Rio-SP, torneio que apenas nos longínquos anos de 58 e 66 fora parar em São Januário.
Depois de enfrentar Fluminense, Palmeiras e Santos na primeira fase, era hora de encarar o Tricolor paulista pelas semifinais. Depois de perder no Rio (2x3), uma vitória (3x1) sensacional em São Paulo botou o Almirante na decisão. Na final, o Peixe seria novamente seu adversário. E outra vez a segunda partida teria de ser fora de casa. Mas nada que assustasse aquele verdadeiro Expresso na versão anos 90. E nesse derradeiro encontro, a história foi diferente: jogando no Maracanã para quase cem mil pessoas presentes, um triunfo de 3 a 1 tornou a missão mais tranquila para a finalíssima na Pauliceia.
O Santos não tinha outra saída a não ser partir para cima dos cariocas. Mas o Vasco da Gama mostrou que era uma equipe que tanto sabia jogar abafando os seus oponentes, quanto apenas saindo nos contra-ataques. Versatilidade: essa era a maior qualidade daquele grupo. Carlos Germano vivia sua melhor fase na carreira; uma dupla de zaga que unia a força de Odvan, com técnica e experiência de Mauro Galvão; nas laterais, velocidade pelo lado de Zé Maria, habilidade da parte de Felipe; um meio-campo formado por Nasa, Paulo Miranda, Juninho e Ramon que era marcador e criativo na mesma medida. E ainda com bons cobradores de falta. No ataque, o garçon Donizete ao lado de um "matador", que tanto poderia ser Luizão, quanto Guilherme, artilheiro do time na competição. Tudo isso com boas opções no banco de reservas, como o Vágner e Zezinho.
A primeira etapa foi muito disputada, veloz, com o Peixe tomando a iniciativa e avançando todo o seu time. Para não se sentir dominado, o Almirante se defendia muito bem e conseguia levar perigo em consistentes contragolpes. E foi em um desses que saiu a falta cobrada por Zé Maria que resultou no gol único do tempo inicial. Logo na volta do intervalo, com menos de um minuto, Alessandro "Cambalhota", ex-atleta do Vasco, deixava tudo igual no placar. A partida continuou no mesmo ritmo acelerado, alternando-se as chances de lado a lado. E já perto do seu desfecho, Juninho (que ainda não era o "Pernambucano", fato que só veio a acontecer depois da chegada de Juninho Paulista, no ano seguinte) deu o tiro de misericórdia nos santistas. Santos, 1, Vasco, 2. Festa na Colina, festa vascaína! Vasco da Gama de novo campeão!
A TRAJETÓRIA DO TÍTULO
1ª FASE:
Palmeiras 1x5 Vasco
Enfrentado o time reserva do Verdão, que se resguardava para a disputa da Libertadores (título que acabou indo mesmo para o Palestra em junho), o Vasco, em pleno Parque Antárctica, humilhou os donos da casa de forma impiedosa, conseguindo sua maior goleada em todos os tempos pra cima da equipe paulista. Guilherme (3), um de pênalti, Donizete e Juninho foram os goleadores; Jackson descontou no fim.
Vasco 2x4 Fluminense
Curiosamente, a única derrota da equipe vascaína na fase inicial foi diante de uma equipe que acabara de vivenciar seu pior momento em sua história no futebol: o Fluminense. Depois de chegar ao fundo do poço em 1998, vendo seu time ser rebaixado para a Série C, a "terceirona" divisão nacional, a galera tricolor, que tivera antes que aturar o coro incessante dos cruzmaltinos de "ão-ão-ão, Terceira Divisão", acabou saindo do estádio rindo à toa, esperançosa por dias melhores. Donizete marcou os gols vascaínos; França (ex-Vasco), fez 2, Roni e Magno Alves completaram.
Santos 0x0 Vasco
Jogo truncado e exageradamente faltoso. Foram 76 (!!!) infrações no total, 46 do time paulista. O Peixe massacrou nos minutos iniciais e teve quatro boas chances. Mas Germano estava lá para fechar o gol. Depois, equilíbrio e mais faltas. O placar valeu como nota para ambas equipes.
Vasco 3x2 Santos
Sensacional vitória vascaína, daquelas de fazer jus ao título de "time da virada". Depois de sair atrás no marcador ao fim da primeira etapa, o Clube da Colina se agigantou e reagiu no tempo derradeiro, assumindo a co-liderança do seu grupo. Eduardo Marques e Marcos Assumpção foram os artilheiros do Peixe, ambos no tempo inicial. Felipe, de pênalti, Paulo Miranda, de falta, e Guilherme foram os artilheiros da grande reação.
Vasco 2x0 Palmeiras
Encarando dessa vez os titulares do Palestra, o Vasco buscou a vitória a todo custo, tanto para carimbar sua vaga na fase seguinte, bem como para se credenciar definitivamente como o mais forte candidato ao título do torneio interestadual. Após o equlíbrio do primeiro tempo, na fase final a supremacia vascaína foi evidente e se transformou em dois gols, um no início (Ramón, de cabeça) e outro no fim (Alex Oliveira).
Fluminense x Vasco (Cancelado)
Encontro mais polêmico do torneio: a tabela inicial marcava a partida (a ser realizada em uma Quarta-feira de Cinzas) para o Maracanã, mas um acerto entre as partes envolvidas definiu a tempo como novo local o estádio do Vasco. Dois motivos levaram a isso: a pouca renda esperada, já que a chave estava definida, e um pedido das emissoras que fariam a transmissão. Porém, no dia do jogo, o árbitro paulista designado para apitar o embate, Alfredo dos Santos Loebeling, recebeu um fax da sua federação para se dirigir ao Maior do Mundo. O Estádio Mario Filho estava inclusive fechado, já que o presidente da Suderj, Chiquinho da Mangueira, já havia sido avisado pela federação carioca da transferência da partida para São Januário. Já estavam então desmobilizados bilheteiros, médicos, policiais etc. Mesmo assim, o time do Fluminense fez questão de dar continuidade ao "teatro" e se fingir de "vencedor" assim que o juiz deu como terminado o prélio. Enquanto isso, no estádio do Vasco da Gama, um auxiliar, o 4º árbitro, o delegado do jogo e a equipe da casa aguardavam o Flu. Inaceitável desorganização!
Logo após essa farsa, reuniram-se os "cartolas" no intuito de eliminar o Vasco da competição, realizando uma votação que foi favorável ao Almirante por 6 a 2. Mas da pena da perda dos pontos da partida, bem como do fato de não poder atuar em São Januário nas semifinais, o time cruzmaltino não escapou: 7 a 1!. Porém, foi uma derrota momentânea, já que, posteriormente (depois de terminada a competição), o STJD definiu ser incapaz uma comissão organizadora de ratificar um WO. Resumo da ópera: para efeito de campeonato, aquilo tudo não aconteceu. Não tivemos jogo.
SEMIFINAIS:
Vasco 2x3 São Paulo
Depois de um primeiro tempo equilibrado no campo, mas desnivelado (e muito) no marcador - Vasco 0 x 3 São Paulo -, o time vascaíno reagiu, quase chegando à igualdade. A expulsão de Nem, depois de pênalti cometido, contribuiu para a aproximação no placar. Juninho comandou o time, assumindo a responsabilidade pela cobrança da penalidade máxima que converteu (Ramón havia perdido chance igual nos acréscimos na etapa inicial), e levou o time a um resultado que o deixava na briga pela vaga na final. Luizão foi o autor do segundo tento.
São Paulo 1x3 Vasco
Precisando vencer para pelo menos decidir a parada na disputa de tiros da marca penal, o Almirante atuou com coragem, garra, técnica e inteligência. O tento de Odvan logo no princípio abalou os tricolores de Sampa. Afinal de contas, no placar agregado, estava tudo empatado. Na segunda etapa, Warley assinalou o primeiro do São Paulo, mas o Vasco não esmoreceria. Vágner, que substituíra o líder Juninho, contundido, teve uma atuação de gala. Foi ele quem colocou novamente a equipe cruzmaltina em vantagem e quem puxou o contra-ataque que resultou no gol da classificação, feito por Guilherme.
FINAIS:
Vasco 3x1 Santos
O Carnaval já tinha acabado, mas não para a torcida do Vasco. No último dia do mês de fevereiro de 99, a galera vascaína fez sua parte e lotou o Maracanã, como já havia feito na final do Brasileirão de 97 contra o Palmeiras. Quase 100 mil pessoas presenciaram uma vitória contundente de 3 a 1 sobre o Santos, placar que deu uma folga excelente para que a partida de volta fosse a apoteose definitiva que aquele time queria. Mauro Galvão abriu o escore, mas Alessandro empatou logo a seguir. No tempo final, o Gigante da Colina mostrou sua força e "matou" o jogo com dois gols em um intervalo de seis minutos: Juninho, de falta (havia sido sua quarta tentativa de bola parada), e Zezinho, em um contragolpe, enterraram as esperanças santistas de levar um bom resultado da Cidade Maravilhosa.
JOGO DO TÍTULO
Santos 1x2 Vasco
Com a vantagem de poder perder por um gol de diferença para levar a taça (a derrota por dois de saldo ainda levaria a decisão para uma disputa de penalidades), o Vasco da Gama jogou com calma, mesmo sabendo que o Santos imporia um ritmo frenético à final. Caíco de longe assustou. Juninho de falta carimbou a trave. Depois de mais de meia hora de correria, o jogo ficou mais cadenciado e, contando com falha de Zetti, Zé Maria abriu o placar em cobrança de falta da entrada da área.
No retorno do intevalo, um gol relâmpago: o rápido Alessandro, deslocado pela canhota, vem em diagonal e empata o duelo com belo chute de curva, no canto de Germano. Isso aos trinta segundos do segundo tempo! Poucos minutos depois, aos seis, uma chance incrível é desperdiçada por Viola e Jorginho que trombam na pequena área. Vágner entra na equipe carioca e os contra-ataques vascaínos se intensificam. Juninho, mais solto e avançado, arranca pela direita, invade a área e acerta o ângulo, sem chance para o goleiro Zetti. Vasco na frente! Vasco vence de novo! Club de Regatas Vasco da Gama pela terceira vez em sua história campeão do Torneio Rio-São Paulo!