Juniores: Marcos Valadares: 'Essa equipe não é tão jogada ainda. Acredito que ao longo do ano vai desenvolver mais'
Finalista da Copa São Paulo de Futebol Júnior, com o artilheiro da competição e um futebol vistoso, bem jogado e de qualidade técnica. Se você pensa que o Vasco sub-20 comandado por Marcos Valadares atingiu seu ápice, o treinador discorda: para ele, ainda é possível desenvolver mais estes jogadores.
- Essa equipe não é tão jogada ainda. Acredito que ao longo do ano vai desenvolver mais. Vamos conseguir fazer um jogo mais bonito e competitivo ainda. Já estamos num nível bom, mas acreditamos que podemos melhorar – disse o treinador.
A boa campanha do Vasco na Copinha é fruto de um trabalho que se iniciou em março do ano passado, quando Valadares foi contratado. Desde então, ele promoveu uma reformulação na forma de jogar da equipe, em consonância com o planejado pelo gerente da base, Carlos Brazil.
O desafio desde o início foi fazer do Vasco um time com posse de bola, ofensivo, que dite o ritmo da partida. No entendimento de Valadares, esta é a melhor forma de desenvolver os jogadores. Por enquanto, tem dado certo: praticamente todos os titulares chamaram a atenção na Copinha e são pedidos pelos torcedores no profissional.
Nesta entrevista, Valadares explica como moldou a equipe ao novo estilo, fala da mudança de posicionamento de Lucas Santos e dos desafios durante a Copinha.
GloboEsporte.com: O estilo de jogo do Vasco tem sido bastante elogiado ao longo da Copinha. Como foi a implementação dessa forma de atuar?
Marcos Valadares: Quando eu fui para o Vasco em março essa foi a ideia do clube. Uma mudança de filosofia. Acreditavam que o Vasco precisava, com a mudança de gestão, mudar a filosofia de formação dos atletas. Que qualificasse mais o atleta e conseguisse desenvolver melhor.
A gente não enxerga outra forma do que ele ficar com a bola no pé, ter espaço para criar as ações ofensivas. Quando eu fui contratado, foi com este objetivo. A gente veio construindo ao longo do ano passado. Dificuldade pelo tempo, calendário muito puxado. Fomos aos poucos conseguindo desenvolver.
Ao longo de 2018, o sub-20 conseguiu bons resultados. Mas bateu na trave nas decisões.
- Fizemos planejamento para a Copinha, de preparar a equipe a partir de setembro, usando o Torneio OPG e a Copa RS como competições de projeto mesmo. De desenvolvimento dos atletas, buscando esse objetivo de construção de jogo. A equipe foi evoluindo. Faltava ter mais jogos, ter mais bagagem.
Foi difícil moldar os jogadores que você tinha a esta forma de jogar? Como foi a evolução deles?
- A equipe num geral se transformou muito. Num primeiro momento, partimos de alguns princípios. Quando eu jogava contra o Vasco via equipes marcando individualmente. Quando você faz isso, perde relação espacial-dimensional do jogo. Quando roubavam a bola, ainda estavam num processo de desorganização, e acabavam não tendo sequência de posse de bola. Ficava um jogo de muitos erros e acertos, de transição. Proposta de mais profundidade. Gera um pouco mais de erros e fica-se menos com a bola.
Nossa proposta foi o contrário. Buscar organização posicional, e ela é base para os dois momentos do jogo. Vai se defender poupando energia e, quando você tiver a bola, vai ter relação melhor em termos de passe quando tem essa estrutura mais organizada. Isso é dia a dia, trabalho, processo, desenvolvimento. Trabalhar muito em cima disso, com vários conceitos, atividades que proporcionam isso. Questão de fazer os atletas acreditarem que isso era o melhor para eles.
O Lucas Santos sempre foi um jogador reconhecido pela habilidade e pela velocidade. Nesta Copinha, porém, atuou mais centralizado, com outra forma de jogo. Como foi essa mudança?
- Parte muito da questão do nosso modelo de jogo. O lado coletivo da equipe. Ele entendeu que jogando coletivamente, dentro do modelo, poderia melhorar mais ainda o jogo dele, porque é a realidade do futebol. Precisa do momento individual do atleta, mas também é fundamental que tenha bom jogo coletivo, porque o futebol profissional pede muito isso.
Ele entendeu esse caminho, procurou desenvolver esse lado, se comprometendo. Lucas tem a cabeça muito boa, é um menino super do bem. Equilibrado, simples, entendeu que seria o melhor para ele. A gente torce para que ele dê continuidade.
Não gosto que se jogue somente num espaço ou numa função. Ele jogava mais pelo lado esquerdo e ao longo dessa remontagem eu trouxe ele para jogar por dentro, não só na necessidade da equipe, mas também para ajudá-lo no desenvolvimento cognitivo. Acredito muito que o jogo por dentro melhorou mais ainda esse jogo de passe, toque de bola, contribuiu muito.
Ao longo da Copinha, você fez uma alteração importante, que foi tirar o Talles para colocar o Linnick. O Lucas Santos volta para a ponta, e o time tem um meio-campo mais encorpado. Por que decidiu fazer isso?
- O Linnick era titular nessa remontagem da equipe. Participou de vários jogos como titular, é uma referência, está no último ano de sub-20. Importante, muito inteligente, a gente gosta muito. No final da temporada, teve algumas lesões que o impossibilitaram de atuar com frequência. Quando nós viemos para a Copinha, o Talles atuava no sub-17 pelo lado e acabou entrando na vaga do Lucas Imperiano. O Linnick não estava na condição ideal física para conseguir desde o início.
Aos poucos, durante os jogos, o Linnick foi entrando, evoluindo fisicamente, conseguiu dar resposta muito boa no jogo por dentro. O meio ficou muito bem encaixado em termos de características.
Como você vê o Talles?
- O Talles a gente enxerga muito, apesar de poder atuar pelo lado, como potencial como centroavante, para jogar por dentro, pelo perfil físico. Foi natural. A gente precisava ajustar ali. Como o Talles está chegando agora, tem potencial, mas pelo lado a gente ainda precisa desenvolver o jogo dele no sub-20. Tem entrado bem, mas principalmente pelo centro, como um centroavante.
Ao longo da Copinha houve a negociação frustrada do Nathan com o Valencia. Como você lidou com isso?
- Nós temos um grupo muito forte em termos de comissão. Temos todo o suporte. Essas questões estão sendo bem discutidas aqui. Em reuniões de todos os departamentos, buscando estar sempre dando o maior apoio possível para o atleta dentro de uma realidade. Estamos sempre conversando. Hoje ele é atleta do Vasco, tem que buscar essa afirmação dentro do Vasco.
Nathan fez grandes competições no sub-17, agora está numa nova realidade, mas com todo o potencial que tem, vai naturalmente ganhando seu espaço no sub-20, dando retorno também para o clube. Estamos numa competição de altíssimo nível, a transição é muito precoce e em cima da Copinha, tem que aliar o desenvolvimento dos atletas e também pensando na competição, só dessa forma vamos conseguir fazer com que os atletas se desenvolvam.
Contra o Corinthians, o Nathan sequer foi relacionado. Por quê?
- Foi mais opção de peças. Nós temos vários jogadores. Trouxemos mais jogadores do que podem atuar na partida. Ali a gente acabou fazendo rodízio dentro da competição, fazer desenvolvimento de grupo e de equipe, são garotos jovens, estão chegando no sub-20, têm total apoio nosso, todos eles passaram por um momento nessa situação e é natural que isso aconteça numa Copinha.
Fala-se muito da geração sub-17, mas a maioria dos meninos que subiram está no banco.
- Nosso objetivo foi dar boa bagagem para os atletas. Os garotos que vieram do sub-17 estão contribuindo bastante, têm a cabeça muito boa. Ao longo do ano vão participar bastante e dar retorno.
O único sub-17 que virou titular foi o Bruno, volante. Também muito elogiado. O que você viu nele?
- Acompanhando os jogos do sub-17, sabíamos que tínhamos grandes jogadores, mas o Bruno chamava atenção por uma característica muito positiva, emocional. Era o jogador que eu vislumbrava que pudesse ter participação mais precoce no sub-20, muito pela maturidade de jogo dele. Você conversando, vendo ele pessoalmente, tem certeza disso.
Numa mudança brusca dessa, contar com um atleta que tem essa mentalidade forte, de ser muito centrado, acho que foi o jogador que eu vi chegando mais maduro num primeiro momento. Natural essa participação dele imediata. Já na Copa RS assumiu a titularidade e fez grandes partidas. Aqui também na Copinha teve grande participação. É um garoto com muito potencial.
Bruno tem uma característica diferente dos volantes do Brasil, que é controlar o jogo com passes. Isso se encaixou no modelo do time?
- Ele é um jogador que tem essa característica. Nosso modelo proporciona que os jogadores busquem esse estilo de jogo, alguma coisa vai sempre casando com a outra. O potencial individual, o que ele tem de bom, e o processo, a forma de se jogar também vai moldando o atleta dentro daquilo que seja mais positivo para o atleta. Acho que ele tem se encaixado muito, se adaptou muito rápido.
Como vai ser a preparação para a final?
- Preparação não é de um ou dois dias, é de médio prazo. Neste momento, temos um trabalho muito bem feito por todos, de manter os atletas totalmente focados, todos muito comprometidos, de hoje para sexta-feira.
Ficamos muito felizes num primeiro momento, comemoramos, mas já dormimos e acordamos com um grande desafio, um novo desafio que a gente sabe que vai precisar ter muita força para conseguir superar. Manter a rotina de trabalho, trabalhar em cima do adversário, analisar bem, passar todos os aspectos para os atletas, que estão desenvolvendo melhor essa percepção no vídeo.
Vai ser mais um jogo grande com a boa parte da torcida apoiando o adversário. É necessário um trabalho especial?
- Ao longo da competição a gente foi trabalhando essa questão da cabeça do atleta dentro dos jogos. Jogamos em Taubaté contra o time da casa num jogo decisivo, jogamos em Guaratinguetá com público bom. Na terça-feira vivenciamos a torcida do Corinthians, que tem força imensa. Acredito que os nossos atletas estão muito bem preparados para essa final, também nessa situação mental. Estamos bastante focados.
Fonte: GloboEsporte.com