Conselheiro Galvão voltou a receber um jogo contra time grande na vitória do Vasco sobre o Madureira
O nome está lá, bem grande, para todo mundo ver: Arena Madureira. Mas o charmoso estádio Aniceto Moscoso, mais conhecido como Conselheiro Galvão, de arena tem muito pouco. E isso não é uma crítica. Pelo contrário: ao receber a partida entre Madureira e Vasco, pela primeira rodada do Campeonato Carioca, mostrou que ainda conserva sua raiz.
O jogo contra o Vasco foi o primeiro contra um time grande desde 2014, quando o mesmo Cruz-Maltino venceu por 3 a 1. Somente em 2019 o Madureira conseguiu a aprovação das autoridades para voltar a receber partidas de maior porte.
Bicheiro ou político?
A preocupação em conseguir a aprovação fica evidente na tentativa de novo nome. É porque o Madureira, em si, se debate nessa dicotomia. A começar pelo batismo do estádio. O nome oficial é em homenagem a Aniceto Moscoso, presidente do clube, um dos bicheiros mais importantes do bairro nos anos 1930 – antes, por exemplo, do surgimento de Natal, famoso patrono da escola de samba Portela.
Mas o Conselheiro Galvão que dá o nome à rua e batizou de forma popular o estádio vem de outra época. Ele foi Manuel Antônio Galvão, um político brasileiro da época do Império do Brasil, nas décadas de 1830 a 1850 – cem anos antes de Aniceto, seu "rival" pelo nome.
Da mesma forma que Aniceto Mosco e Conselheiro Galvão ocupam lados opostos, o Madureira se vê entre a tentativa de transformar o estádio em arena e manter suas características - como o placar manual, longe da tecnologia dos tempos atuais.
Passeio pelo parque
Mas é difícil não ser popular em Madureira. A entrada do estádio segue a mesma: do lado do famoso Mercadão de Madureira, num autêntico clube de bairro.
Ao redor, o Morro da Serrinha: casa da tradicional escola de samba Império Serrano - e, um pouco mais longe, ainda tem a Portela, a maior campeã do Carnaval carioca.
Dentro do estádio, tudo limpo e organizado, com viveiros de pássaros, cantinas, cabeleireiro, vídeo clube, piscinas, restaurantes.
Tem até parquinho, pelo qual a delegação do Vasco teve que passar na chegada ao estádio. Isso porque o ônibus teve de parar num estacionamento ao lado, com acesso direto ao clube.
Numa caminhada curta, os jogadores passaram por piscina, campo e o parquinho, atravessaram o gramado e chegaram ao pequeno vestiário.
Antes deles, porém, vieram os ventiladores. Não à toa. Na tarde de verão do subúrbio carioca, a temperatura bateu 37ºC. Para evitar ficar muito tempo no vestiário, o Vasco atrasou sua chegada ao estádio e trouxe ventiladores para refrescar.
Na arquibancada, esse luxo não era permitido: o jeito foi usar sombrinhas e até papelão para se poupar do sol.
Quem sofreu foram PC Gusmão, coordenador técnico, e André Souza, gerente de futebol: eles viram o jogo no túnel que dá acesso ao vestiário.
Recado para Danilo Barcelos
Com o jogo em andamento, a proximidade da social do Madureira com o gramado trouxe momentos inusitados. Um torcedor, irritado com Danilo Barcelos, pediu para o lateral sair da sombra:
- Você está no Rio de Janeiro. Terra do samba e do futebol. Saia da sombra.
Outro, torcedor do Madureira, se irritou quando alguém chamou o nome de Ribamar.
- Vai lá para o outro lado (da torcida do Vasco). Aqui é Madureira!
Festa mesmo a torcida fez quando Werley deu um chutão e fez a bola sair do estádio.
Bronca com a imprensa, Valentim, o futebol moderno...
Os tempos de acesso direto aos protagonistas do futebol não existem mais. Em Madureira, porém, foi possível voltar a esta fase.
Na entrevista coletiva de Alberto Valentim, por exemplo, após a partida, um torcedor tricolor se revoltou porque não houve o mesmo para Antônio Carlos Roy, treinador do time da casa. Vociferou tão alto que fez Valentim interromper a entrevista. Acabou sendo retirado por seguranças aos brados:
- Futebol capitalista!
No fim das contas, deu tudo certo. Conselheiro Galvão ou Aniceto Moscoso ou Arena Madureira deu conta do recado sem problemas na arquibancada e com cenas esquecidas do imaginário carioca que provocam saudade. Até teve um arco-íris após a partida.
Fonte: GloboEsporte.com